Folha de S. Paulo
Acerto em torno da anistia é o retrato do
viés disfuncional na relação entre os três Poderes
As coisas andam de tal maneira disfuncionais
em nossa paisagem institucional que é visto como normal um acerto para mudança
de leis de interesse geral, no atendimento a circunstâncias específicas. E com
o jogo em andamento.
O nome disso é casuísmo. Particularmente anômalo se acrescentarmos à cena o olhar complacente do Supremo Tribunal Federal. O conjunto dos ministros se mantém discreto, mas o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, já deu entrevista dizendo ver como naturais as tratativas.
O governo "não vai se opor", nas
palavras da ministra Gleisi Hoffmann (PT), das Relações, note-se,
Institucionais. E assim temos nossa já tão ofendida Constituição prestes a
sofrer nova afronta via alterações no Código Penal, desta vez para se adaptar a
uma situação da conveniência exclusiva de um grupo político.
Um drible na anistia. Assim é interpretada a
proposta em gestação a partir do Senado sob a condução do presidente Davi
Alcolumbre (União Brasil), para aliviar a pressão sobre a ideia de se conceder
perdão total aos envolvidos na conspirata golpista.
De acordo com o sugerido, a legislação
serviria, em resumo, para reduzir
as penas dos condenados pelo
8/1, deixando de fora os inspiradores e financiadores a serem julgados pelo
Supremo.
Desse modo, o termo anistia sairia da
ribalta. Argumenta-se que o entendimento é necessário para pacificar os ânimos
e evitar o pior que seria a aprovação do projeto tal como querem os
bolsonaristas que, aliás, não vão abandonar a bandeira.
Portanto, nada indica a existência no
horizonte da presumida paz. Trata-se sem enfeites nem meias-palavras de um
plano elaborado ao molde do malfadado jeitinho brasileiro.
Em tempos normais, o Supremo preservaria sua
autoridade, o Congresso encaminharia suas propostas e o Executivo mobilizaria
suas forças se quisesse participar. Ocorre, porém, que a banda toca ao som da
disfuncionalidade de um governo fraco, um tribunal em palpos e um Parlamento no
comando da agenda.
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