O Globo
As maiores bancadas do Congresso estão nas mãos da oposição: PL, PSD e agora a nova federação, que se transforma na maior força partidária, com 109 deputados, 14 senadores, 1.330 prefeitos e seis governadores
A federação criada pelos partidos União Brasil e PP explicita mais claramente a difícil situação do governo de Lula nesta sua terceira versão presidencial. As maiores bancadas do Congresso estão nas mãos da oposição: PL, PSD e agora a nova federação, que se transforma na maior força partidária, com 109 deputados, 14 senadores, 1.330 prefeitos e seis governadores. Mesmo sendo majoritariamente de oposição, esses partidos têm ministros na Esplanada. Como, então, o governo pode abrir mão do apoio do PDT do quase ex-ministro Carlos Lupi, diante de um quadro francamente minoritário no Congresso? Como pode prescindir do apoio informal do Supremo Tribunal Federal (STF), que de ator político relevante, às vezes à sua revelia, passou a ser fundamental para a manutenção da governabilidade?
A questão do Supremo é interessante até do
ponto de vista da psicologia humana. Foi ganhando poder à medida que alguns de
seus integrantes viram-se atacados, primeiro pela Operação Lava-Jato, depois
pelo então presidente da República, Jair Bolsonaro. Foram ameaçados até
fisicamente, o que fortaleceu o espírito de corpo que sempre esteve presente em
suas decisões. O STF transformou-se, com muito gosto, na tábua de salvação do
governo Lula, que perdeu o controle do Congresso à medida que sua impopularidade
facilitou os trânsfugas, cujos corpos continuam fazendo parte do ministério ou
de instituições estatais, mas cujas almas já pensam num 2026 mais a seus
gostos.
Os dois partidos que agora se unem estão
presentes em diversas posições de destaque no governo petista, mas já miram a
campanha presidencial com candidato próprio, o governador de São Paulo,
Tarcísio de Freitas. Se Bolsonaro insistir em colocar seu sobrenome para
competir pela Presidência, pode perder esse apoio conjunto, pois o governador
de Goiás, Ronaldo Caiado, já se lançou e seria um candidato teórico da nova
federação partidária. Ou então Ciro Gomes, que tem bom trânsito na direita.
Nesse caso, a centro-direita marcharia
dividida para a campanha presidencial, o que facilitaria a vida do PT. Unida em
torno de Tarcísio, teria grandes chances de derrotar até Lula, se ele se
candidatar. Por isso o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, parece
protegido. Paradoxalmente, isso enfraquece o governo petista. Como o grande
escândalo do assalto ao bolso dos aposentados tem sindicatos e associações de
trabalhadores envolvidos até o pescoço, inclusive o dirigido por um irmão de
Lula, ficará fácil para a oposição ligar o governo atual à corrupção, em
primeiro lugar devido à proteção ao partido de Lupi. Em última instância,
haverá a acusação de que o próprio presidente acoberta o crime de corrupção,
como já aconteceu no mensalão e no petrolão.
Difícil será para o governo, cuja base
original tem sindicatos que, ao que tudo indica, tentam, com essa fraude do
INSS, substituir o imposto sindical obrigatório proibido ainda no governo
Temer. Sem recursos para mobilizar seus associados, os sindicatos têm falhado
na organização de manifestações de apoio a Lula, chegando a vexames como no
último 1º de maio, quando o show em tributo ao Dia do Trabalho reuniu pouca
gente para ouvi-lo. Hoje, ele não estará presente, para evitar repetir a
evidência de que já não consegue reunir multidões, ao contrário de Bolsonaro,
cujas menores manifestações são maiores que as maiores do PT.
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