Gabriel Mascarenhas, Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O presidente interino, Michel Temer, planeja fazer uma reforma ministerial e endurecer a relação com o Congresso caso o Senado Federal aprove oafastamento definitivo de Dilma Rousseff.
O Palácio do Planalto dá como certas pelo menos três mudanças: a substituição do titular da AGU (Advocacia-Geral da União), Fábio Osório, a definição do novo ministro do Turismo e a recriação da pasta do Desenvolvimento Agrário.
Os planos, confirmados por auxiliares e assessores presidenciais, podem abranger a inclusão de uma mulher na equipe ministerial. Sobre isso, porém, o martelo ainda não foi batido. A ausência de um nome do sexo feminino no primeiro escalão foi alvo de críticas contra a gestão.
A alteração no comando da AGU é considerada inevitável. Osório vem perdendo prestígio com o presidente interino desde as primeiras semanas após assumir o cargo.
Temer ficou irritado ao saber que o ministro viajou a Curitiba durante batalha judicial envolvendo a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), em maio, com o retorno de Ricardo Melo, indicado pela gestão do PT.
Ele também ficou incomodado com o fato de Osório ter aberto, sem consultá-lo, sindicância para apurar a conduta do ex-ministro José Eduardo Cardozo, advogado de Dilma Rousseff, na defesa da petista. A avaliação é a de que ele criou um desgaste desnecessário com a administração afastada.
Para o Turismo, Temer decidiu que a pasta será entregue a um aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O mais cotado é o deputado federal Marx Beltrão (PMDB-AL), que é réu no Supremo Tribunal Federal por falsidade ideológica.
O peemedebista pretende nomeá-lo apenas se superado o processo de impeachment, num esforço para assegurar o apoio de Renan Calheiros durante a análise do afastamento da petista.
Numa tentativa de criar marcas sociais, Temer quer ainda devolver o status ministerial ao Desenvolvimento Agrário, hoje uma secretaria vinculada ao Palácio do Planalto. Ele irá mantê-la sob o comando do Solidariedade, sigla capitaneada por Paulinho da Força (SP), aliado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Ao menos por ora, o retorno do senador Romero Jucá (PMDB-RO) ao Planejamento não entrou no horizonte de Temer. O parlamentar entregou o cargo depois que a Folha revelou as conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Num dos diálogos, Jucá disse considerar necessário estancar a "sangria" provocada pela Operação Lava Jato.
A atual situação é considerada cômoda tanto para o governo quanto para Jucá. Isso porque ele segue como um senador de confiança do Poder Executivo e com acesso direto ao gabinete presidencial, além de continuar tendo influência sobre a pasta, cujo ministro é Dyogo Oliveira.
Endurecimento
Se confirmado o afastamento de Dilma, o Planalto tende também a mudar a relação com o Congresso Nacional, sobretudo no que diz respeito às pautas econômicas com impactos em curto prazo.
Na atual circunstância, com o impeachment pendente, o governo interino tem evitado a todo custo desgastes com o Poder Legislativo –uma das razões para que o projeto de renegociação das dívidas estaduais não tenha saído como o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) desejava.
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