- Folha de S. Paulo
Combinação de uniões livres e emancipação feminina é causa importante de concentração de renda
Precisamos combater a desigualdade e suas causas, diz o manual do bom cidadão contemporâneo. Concordo que a desigualdade vem produzindo uma série de complicações, que exigem enfrentamento, mas o mesmo não se estende automaticamente às suas causas, que podem ser moralmente inatacáveis.
Você, leitor, é a favor dos casamentos arranjados ou prefere aqueles nos quais os noivos escolhem livremente quem irão desposar? E quanto à posição da mulher? Acha que elas devem se contentar em ser rainhas do lar ou pensa que devem estudar e participar do mercado de trabalho, assegurando assim sua independência econômica?
Se você não for um conservador anacrônico, deve ter se posicionado pelas uniões livres, cujo nome técnico é casamento assortativo, e pela emancipação feminina. Pois bem, a combinação desses elementos é causa importante de desigualdade. Nos EUA, como mostra Milanovic, ela respondeu por nada menos do que um terço do aumento de desigualdade registrado entre 1967 e 2013.
Não é difícil ver como a concentração de renda ocorre. Antigamente, era baixa a correlação entre o nível educacional e econômico dos parceiros de uma união. A partir do pós-guerra, as mulheres foram se tornando mais presentes nas universidades, onde, gozando de maior liberdade para definir seus relacionamentos, passaram a namorar colegas estudantes e casar-se com eles.
Ora, quem faz uma universidade tende a conquistar empregos com melhores salários. E, quando os dois parceiros de uma união matrimonial estão no topo, essa família se torna bem mais rica do que as outras, vantagem essa que tende a ser transmitida para a próxima geração, na forma de pesados investimentos educacionais e culturais nos filhos, que conhecerão seus parceiros nas universidades de elite e repetirão o ciclo.
Temos aí um problema, mas sua solução não passa pela volta dos casamentos arranjados.
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