De repente, não mais que de repente, a natureza explode e mostra sua força avassaladora. E as pessoas ficam indefesas, inseguras, impotentes, assustadas. Catástrofes sempre ocorreram na história da humanidade. É da vida, faz parte da aventura humana.
Os acontecimentos em Minas Gerais, nos últimos quinze dias, entristeceram a todos nós e nos convocam a uma inadiável reflexão e a uma mudança de atitude. Dezenas de vidas perdidas, milhares de desabrigados, rios transbordando, ruas e avenidas alagadas, pontes destruídas, casas e imóveis arrasados, carros empilhados. Um verdadeiro cenário de guerra.
O maior saldo tem necessariamente que ser o aprendizado coletivo. Os fenômenos naturais, até certo ponto, estão fora de nosso controle. O avanço tecnológico nos ajuda a antecipar acontecimentos, prevenir, criar defesas. Mas, às vezes, tudo parece inútil. O mundo parece cair sobre nossas cabeças. As perdas, principalmente de vidas, são irreparáveis. Mas o aprendizado é obrigatório.
Tudo começa na raiz. Nas mudanças climáticas fruto do desmatamento avassalador. No assoreamento dos rios, córregos e cursos d’água, frutos da ação humana. E prossegue na precária educação ambiental coletiva que temos no Brasil. As fotos do lixo represado por pontes encobertas no Rio Doce e outros deveriam ser objeto de reflexão em todas as escolas, associações de moradores e espaços comunitários. Cada vez que jogamos toda sorte de resíduos nos rios ou em simples “bocas de lobo”, estamos contribuindo para o agravamento do efeito catastrófico de eventos naturais.
Diante de tamanho desastre é hora de revalorizar os instrumentos de prevenção e planejamento da vida em comunidade. Sempre que as decisões sobre leis de uso e ocupação de solo, códigos de edificação, controle urbanístico, proteção ambiental, apontam para maior rigidez enfrentam as reações de interesses menores a obstaculizar o avanço. A verticalização urbana exacerbada esquece seus efeitos sobre as redes de saneamento e águas pluviais e sobre as estruturas de energia, gás, luz e telefonia.
A política habitacional tem um papel essencial. O poder público tem que saltar na frente do crescimento desordenado dos espaços coletivos. A oferta de moradias e lotes urbanizados, com infraestrutura adequada, induz preventivamente a ocupação de territórios mais seguros. Mas como atender esta demanda, principalmente das famílias muito pobres, na atual penúria fiscal e diante dos gargalos colossais da mobilidade urbana?
A crise fiscal tem tudo a ver com o agravamento de eventos como os de Minas. Ao gastarmos muito mais com a própria máquina estatal – previdência, salários, privilégios, pagamentos de juros, estamos reduzindo drasticamente a capacidade de investimento do poder público. São menos soluções contra enchentes, menos redes de captação de água pluvial, menos intervenções para desassoreamento de rios, ribeirões e córregos, menos ruas e estradas com infraestrutura adequada.
Fica um recado também para todos os governantes. Não vale a pena o tristemente famoso “asfalto eleitoral”. O asfalto, sem o devido tratamento à captação pluvial, acelera a velocidade das águas e é destruído rapidamente.
A natureza pertence a Deus. Mas a parceria entre o poder público e a sociedade pode melhorar e muito a prevenção de catástrofes como a ocorrida em Minas.
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