O Estado de S. Paulo
A viagem do presidente Jair Bolsonaro à
Europa, fugindo da COP-26, na Escócia, e passando vexame na cúpula do G-20, na
Itália, é de deixar qualquer brasileiro morto de vergonha, pela forma e pelo
conteúdo. E Bolsonaro volta com o carimbo de “incapaz” que lhe atribuiu o
Financial Times, ícone do liberalismo mundial.
As imagens do presidente brasileiro dizem
tudo: isolado num banco no G-20, papeando com garçons por falta de
interlocutores entre os líderes, falando absurdos para um Recep Erdogan mudo e
perplexo e, ainda, dando aquela gargalhada falsa que o filho Flávio imitou no
fim da CPI da Covid. Ele mente, ele gargalha, é um peixe fora d’água.
Mais: depois de Bolsonaro dizer ao turco
Erdogan que seus problemas se resumem à Petrobras e à imprensa, os seguranças
partiram para cima dos jornalistas que cobriam a viagem. Uma baixaria, em
frente à bela embaixada do Brasil em Roma. E, ontem, a polícia italiana
reprimiu duramente o “Fora Bolsonaro” no norte do país.
O G-20 abriga as 20 maiores economias e, por pressuposto, seus 20 chefes de Estado ou de governo, mas só aparecem 17 na foto final, na Fontana de Trevi. Bolsonaro, que saíra antes da reunião oficial, durante a fala do príncipe Charles, foi uma das três ausências também ali. Ora bolas, já tinha feito aquele passeio de véspera...
A ida de Bolsonaro à Europa deixa um rastro
de falas e imagens desoladoras, patéticas
Se foi assim no G-20 em Roma, graças aos
céus e a todos os santos (ontem, aliás, foi o dia deles) Jair Bolsonaro
resolveu não botar os pés na COP-26, em Glasgow. Para que discutir Amazônia,
ambiente, emissão de gases de efeito estufa? Uma chatice de esquerda,
obviamente. Como a tal vacina.
Para sorte geral, o Brasil não é Jair
Bolsonaro e está representado na COP-26 por 10 governadores do Consórcio Verde
Brasil e por grupos e entidades da sociedade civil, como grandes empresas,
líderes indígenas e quilombolas, ONGS respeitadas mundo afora. A indígena Txai
Suruí, por exemplo, brilhou ao dar o recado certo, para o público certo.
Eles se uniram para driblar a ausência do
presidente (que se limitou a enviar um vídeo) e a desimportância da comitiva
oficial brasileira, levando planos para o desenvolvimento sustentável da
Amazônia, a preservação dos povos ancestrais, o combate aos crimes ambientais e
a criação de um mercado global de carbono.
Bolsonaro fugiu da raia (e das “pedradas”),
mas o Brasil está lá, ansioso para recuperar um espaço que é seu e ninguém
tira, nem mesmo um presidente “incapaz”: o de potência ambiental, que tem muito
a preservar, a dizer, a ensinar e a negociar com o mundo a favor do planeta e
da humanidade.
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