quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Fernando Exman - Marçal mostra que Bolsonaro é menor que o ‘bolsonarismo’

Valor Econômico

Barulho feito pela candidatura do coach nas ruas, ou melhor, nas redes, fez cair a ficha dos Bolsonaro

O avanço de Pablo Marçal (PRTB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo materializa um receio compartilhado por aliados de Jair Bolsonaro (PL) quando o ex-presidente ficou inelegível. “Uma diferença entre Lula e Bolsonaro”, disse certa vez um deles, “é que Lula é maior que o PT, mas o bolsonarismo se tornou maior que Bolsonaro”.

Por “bolsonarismo”, deve-se considerar o fenômeno social, também visto no exterior, baseado em uma bandeira conservadora, antipetista, populista e impulsionada pelas plataformas digitais. Ele é visto como um movimento que vai além do ex-presidente Jair Bolsonaro e, também, dos candidatos que recebem seu apoio formal.

Na visão de influentes políticos de centro, esse tal bolsonarismo estabeleceu-se com um piso de 20% do eleitorado - a parcela da população mais identificada com a ultradireita e que agora, em um ambiente de polarização cristalizada, não tem mais acanhamento em se identificar como tal. E é justamente por isso que não deveria ser surpresa uma candidatura como a do influenciador Pablo Marçal subir na pesquisa Datafolha de 14% para 21%, empatando tecnicamente com Guilherme Boulos (23%) e Ricardo Nunes (19%).

No entanto, aparentemente a família Bolsonaro não levou muito a sério aquela previsão. Tanto que chegou a usar o lançamento da candidatura de Marçal como um instrumento para pressionar o prefeito Ricardo Nunes, que tenta a reeleição, a aceitar como vice o ex-coronel da Polícia Militar Ricardo Mello Araújo. O emedebista estava negociando com a cúpula da Câmara dos Vereadores a indicação, o que poderia destinar ao União Brasil a vaga, mas o grupo político de Bolsonaro foi mais rápido: deu corda à candidatura de Marçal, forçando a formalização do ex-comandante da Rota na chapa.

“Nunes não cedeu a vice. Tomaram de assalto ela”, diz um correligionário do prefeito, segundo quem Nunes, em um primeiro momento, sequer pretendia dividir o palanque com o ex-presidente, para não afastar os eleitores de centro. Queria para si o bolsonarismo, mas, paradoxalmente, certa distância da figura de Bolsonaro.

Mas o cenário mudou. Com o barulho feito pela candidatura de Marçal nas ruas, ou melhor, nas redes, caiu a ficha dos Bolsonaro.

Na opinião de interlocutores, Marçal mira a eleição presidencial de 2026. Transportando seu modelo de negócios para a política, o influenciador usa o pleito na capital paulista como uma vitrine e não tem nada a perder.

Fez-se, então, uma calibragem emergencial no plano de voo. Bolsonaro logo tentou se descolar de Marçal, quando o candidato comentou nas redes sociais uma publicação sobre realizações na área de infraestrutura.

 

“Como você disse: eles vão sentir saudades de nós”, escreveu o candidato do PRTB. A canelada de Bolsonaro, como costumava falar o ex-presidente no cercadinho do Palácio da Alvorada, veio na sequência. “Nós? Um abraço.”

Em sua réplica, Marçal afirmou ter doado R$ 100 mil à candidatura de Bolsonaro à Presidência e ajudado na estratégia digital da campanha. Pediu o montante de volta, em caso de rompimento, mas poderia cobrar mais. Na verdade, segundo dados da Justiça Eleitoral, doou R$ 160 mil.

O embate prosseguiu com outros integrantes da família. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tentou desqualificar Marçal e seu partido, por suposto vínculo de dirigentes da sigla com o crime organizado.

Em outra frente, o vereador Carlos Bolsonaro (PL), do Rio de Janeiro, escreveu que cogitaria o voto em Marina Helena, do Novo. Depois de ameaçar processar Marçal, sinalizou que o apoiaria em um eventual segundo turno para derrotar Boulos e Lula. Outros apoiadores de Bolsonaro também entraram em campo, de forma articulada, emitindo a mensagem segundo a qual Marçal “estava mudado” e trocando de lado.

Sentindo o potencial dano, Marçal voltou às redes para assegurar que era diferente de outros antigos aliados que romperam com o ex-presidente e, na visão de apoiadores de Bolsonaro, passaram a ser vistos como traidores. Alguns não se reelegeram, outros depois tentaram uma reaproximação tática para recuperar terreno político no meio conservador. Restou ao influenciador bradar que não era mais um desse grupo.

Com suas técnicas de PNL, ou Programação Neurolinguística, o “influencer” promete “ressignificar” a política e a gestão pública, atraindo uma parcela do público paulistano. Com o discurso religioso, afaga outra parte da população que também está contida no chamado bolsonarismo. Porém, a pecha de traidor pode afastá-lo de muitos outros eleitores de Bolsonaro, em São Paulo e além.

Em contrapartida, agora ele tenta assumir o figurino de candidato antissistema com o qual um dia Bolsonaro conseguiu se apresentar. E tem feito viralizar vídeos em que pede a Bolsonaro para romper com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e vai para cima do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

“Nós colocamos você na Presidência da República acreditando que você ia de fato lutar contra o sistema. Está preocupado com o quê, Bolsonaro?”, diz, depois de mandar um recado para Tarcísio: “Você quer ser candidato a presidente da República e sua candidatura vai acabar agora se você não tomar uma posição”. Com Bolsonaro inelegível, as peças no tabuleiro do bolsonarismo estão se movimentando em São Paulo.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Impressiona como praticamente todas as colunas e seus jornalistas estão falando do Pablo Marçal preocupado com ele como se ele fosse realmente uma grande ameaça Todos sabemos que ele é um jovem empreendedor honesto que tem uma família bonita é um homem de religião que realmente acredita na força suprema de Deus Enquanto isso nenhuma palavra pro realmente perigoso candidato da extrema esquerda do PSOL Guilherme Boulos Que a vida inteira só fez Baderna Invasões de domicílios Privados e terrenos alheios Usando como massa de manobra a população mais carente e necessitada de São Paulo pertencente a classe média alta, o sonho dele era ser um Lula de novo E por essa sua vida estimulando invasões foi preso três vezes Não tem nada de bom pra trazer pra cidade tão importante quanto a capital São Paulo

ADEMAR AMANCIO disse...

Até parece que Carlucho vota em São Paulo.