terça-feira, 19 de abril de 2011

Oposição encolhe na Câmara

A criação do PSD fará com que a oposição à presidente Dilma Rousseff seja reduzida a menos de cem deputados federais, cenário inédito nos últimos 16 anos no País.

Com PSD, oposição é a menor em 16 anos

PSDB, DEM e PPS terão 96 membros na Câmara; na Venezuela e Bolívia, representação é maior

Eduardo Bresciani e Denise Madueño / BRASÍLIA

A criação do PSD fará com que a oposição à presidente Dilma Rousseff seja reduzida a menos de cem deputados, um cenário inédito nos últimos 16 anos. Com a debandada de deputados para o partido que abrirá as portas para a adesão ao governo Dilma, a oposição representada por PSDB, DEM e PPS terá somente 96 deputados. Proporcionalmente, a oposição brasileira é menor do que em países vizinhos, como a Venezuela e a Bolívia.

Desde a retomada das eleições diretas, em 1989, somente o presidente Itamar Franco, atual senador pelo PPS de Minas Gerais, teve uma Câmara tão dócil. Naquela ocasião, à exceção do PT, houve uma certa mobilização política para recuperar o País que vinha do impeachment de Fernando Collor (que atualmente também está no Senado). Nos governos de Collor, Fernando Henrique e Lula nunca a oposição ficou restrita a um número tão pequeno como agora. Mesmo em momentos difíceis a oposição chegava a três dígitos.

Na Venezuela, por exemplo, 64 dos 160 deputados da Assembleia Nacional fazem oposição a Hugo Chávez, ou seja, 40% da Casa. Na Bolívia, são 43 oposicionistas na Câmara, representando 32,8% da Casa. No Brasil, os 96 deputados do DEM, PSDB e PPS representam somente 18,7% da Casa. "Aqui o governo tem sido mais habilidoso, menos truculento. A ação é sorrateira, no subterrâneo da política. Isso fica claro nessa criação do PSD, que tem o dedo do Planalto", analisa o vice-presidente do DEM, Ronaldo Caiado.

O DEM é o maior perdedor nesse processo de esvaziamento da oposição. Da bancada de 43 deputados que tomou posse em fevereiro deste ano, onze estão de mudança para a nova legenda, idealizada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, outro dissidente do DEM. O líder do partido na Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), diz que, reduzida em número, a oposição deve buscar a qualidade na atuação. "O que a oposição precisa é ter projetos. Ter cem ou 120 deputados não tem diferença prática, dá no mesmo. A oposição vai perder todas as votações", resumiu ACM Neto.

O líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP), segue no mesmo tom: "Como o governo tem uma maioria avassaladora, as vitórias são sem reflexão. O papel da oposição é qualificar o debate e conquistar vitórias diante da opinião pública, uma vez que, no parlamento, não vai ganhar".

Ideologia. Para a oposição, a adesão ao governo Dilma se dá na base do fisiologismo. A análise é que o sistema eleitoral privilegia o poder econômico e o uso da máquina pública. "Há deputados sem nenhum compromisso ideológico e que quer ser governo em qualquer hipótese", disse ACM Neto.

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), considera que o tamanho da oposição é maior na sociedade do que a sua representação no Congresso. "A oposição não tem de se desesperar. O governo está na euforia, mas está com dificuldade de enfrentar os problemas da realidade", disse. Ele afirma que a sociedade já identifica a dificuldade de o governo gerir a economia e conter a inflação.

O deputado Eduardo Sciarra (PR), de saída do DEM para o PSD, nega que a mudança tenha a ver com uma simples adesão ao governo. Ele, inclusive, afirma que vai continuar votando contra alguns projetos da presidente Dilma Rousseff. "Eu sou de oposição, outros apoiaram a eleição da presidente Dilma, então acho que o PSD vai ter uma postura independente. Não podemos exigir também que se tenha uma uniformidade desde já. Isso nós vamos ter que construir até 2014", diz.

Nas contas de Sciarra, quando forem coletadas as 500 mil assinaturas e efetivado o registro é possível que a nova legenda tenha cerca de 50 deputados, o que lhe daria a quarta maior bancada.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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