O Estado de S. Paulo
A sensação é de forte sufoco no crédito.
Parte desse sufoco já tem medida. Em fevereiro, as operações de crédito livre
caíram 9,6%, na comparação com o mês anterior, como revelou nesta quarta-feira
o Banco Central.
Março ainda não fechou suas estatísticas,
mas o estrangulamento deve continuar. Apenas o segmento do crédito consignado
para aposentados – aquele em que as prestações mensais vêm descontadas
automaticamente do pagamento da aposentadoria – parece ter sido retomado pelos
bancos.
Os números oficiais do Banco Central não revelam o problema por inteiro, porque não apontam o que acontece na faixa do crédito comercial, que tem a ver com o prazo que o fornecedor concede para o pagamento do cliente, aqueles 60, 90, 120 dias fora o mês para liquidação de duplicatas, fora da rede bancária.
Mas vamos às causas do que os ingleses
chamam de credit crunch. A pancada recente mais forte veio com o escândalo da
Americanas, grande empresa do varejo encalacrada com um rombo de R$ 40 bilhões.
A crise foi deflagrada no dia 11 de janeiro e passou a impressão de que o
problema era geral no setor. Não foram apenas os bancos que fecharam suas
torneiras. Os fornecedores se retraíram e, para se defender, passaram a exigir
pagamento à vista ou quase.
Mas não foi apenas isso. A crise dos bancos
dos Estados Unidos e do Credit Suisse indicou que o setor financeiro global
passa por uma crise de confiança e de uma corrida aos saques. Em todo o mundo,
e em certa proporção no Brasil, os bancos passaram a jogar na retranca.
E há a inadimplência no Brasil que tem
relação com a desaceleração da atividade econômica, com os juros altos e com a
forte inflação, fator que corrói a renda do consumidor. É situação que aumenta
o risco das operações ativas dos bancos e dificulta a liberação do crédito.
Levantamento da Confederação Nacional do
Comércio mostrou que, em fevereiro, 78% das famílias brasileiras enfrentavam
algum tipo de endividamento. É um quadro geral que produz impacto negativo
sobre o comércio varejista e sobre o produtor.
Foi o que levou o governo Lula a estudar a
promoção do Desenrola, um esforço ainda não colocado em prática, como tanta
coisa neste governo, destinado a facilitar a redução das dívidas familiares e o
aumento do seu prazo.
Essa asfixia do crédito tem sido o
principal fator que leva o governo e os empresários às duras críticas ao Banco
Central pela atual política restritiva dos juros. Só que o problema principal
não é o crédito caro, mas a escassez de crédito – algo que não se resolve de um
dia para o outro e que exige melhor desempenho da condução da política
econômica e menos barulho entre setores do governo Lula. •
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