Interesse público deve prevalecer na regulação digital
O Globo
Agência de checagem vinculada ao Estado,
como quer o governo, não passa de desperdício de dinheiro
Não passa de desperdício de dinheiro
público o lançamento de uma agência oficial de checagem contra desinformação
promovido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom). Em toda
democracia que se preze, não cabe ao governo ter a pretensão de determinar que
informação é fraudulenta. O site Brasil contra Fake, lançado pela Secom, não
passa de instrumento de propaganda para tentar desqualificar informações
negativas ao governo. O mais provável é que só dissemine uma interpretação
favorável do noticiário.
O combate à desinformação é essencial,
necessário e ganhou nova relevância depois do 8 de Janeiro, em particular para
nossa democracia, alvo dos ataques violentos. Mas obviamente não passa pela
criação de um organismo estatal cuja missão já é exercida com competência pela
imprensa profissional. Há iniciativas bem mais importantes se o objetivo é
coibir o uso das redes sociais para cometer crimes.
A primeira é a aprovação do Projeto de Lei das Fake News, em debate há anos no Congresso. A última versão do texto, sob a relatoria do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), busca inspiração na mais moderna legislação europeia. Na essência, deixa de eximir as plataformas digitais de responsabilidade pelo conteúdo que veiculam. Estabelece que elas precisam ter um “dever de cuidado” com o ambiente social em que a informação circula, cria mecanismos transparentes de moderação e exclusão de contas e conteúdos, impondo que, a partir do momento em que são informadas por usuários de algo que viole a lei, passam a ser corresponsáveis pelas consequências.
Outra iniciativa relevante são dois
julgamentos no Supremo questionando a constitucionalidade do artigo 19 do Marco
Civil da Internet, dispositivo que isenta as plataformas de responsabilidade
por conteúdos publicados pelos usuários até que recebam ordem judicial (que
pode levar anos). Um, sob relatoria do ministro Dias Toffoli, pede que o
Facebook derrube um perfil falso com o nome de um cidadão. O outro, relatado
pelo ministro Luiz Fux, pede a remoção de uma comunidade do Orkut, antiga rede
social do Google, com críticas a uma professora.
“Não
é possível continuarmos achando que as redes sociais são terra de ninguém”,
afirmou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, em audiência pública convocada
para discutir os processos. As plataformas e seus defensores costumam apelar à
ideia de liberdade de expressão para argumentar contra qualquer mudança. Trata-se
de um argumento falacioso. “Desinformação, mentira deliberada, discurso de
ódio, ataque à democracia e incitação à prática de crimes violam os três
fundamentos que justificam a proteção da liberdade de expressão”, disse o
ministro Luís Roberto Barroso.
O ministro Gilmar Mendes, também presente à
audiência, defendeu, em artigo recente no blog Fumus Boni Iuris, do GLOBO, uma
legislação que se preocupe mais em regular os processos por meio dos quais as
plataformas lidam com conflitos (como exclusão de contas ou publicações) do que
o conteúdo em si — exatamente o contrário do que a Secom faz ao criar uma
agência de checagem “chapa-branca”. Não há dúvida de que a regulação atual está
ultrapassada. O lobby das gigantes digitais para eximi-las de novas obrigações é
incansável, mas as posições dos ministros do STF mostram como fazer o interesse
público prevalecer.
Vazamento na Usina de Angra exigia mais
transparência das autoridades
O Globo
Embora risco para a população e o ambiente
tenha sido afastado, modo como episódio foi conduzido preocupa
A Polícia Federal investiga o vazamento de
material radioativo da Usina Angra 1 em 16 de setembro do ano passado, como
revelou O GLOBO. Seis meses depois, pairam dúvidas sobre a natureza do
incidente — inicialmente omitido das autoridades — e sobre os procedimentos
adotados. É algo inaceitável tratando-se de instalação nuclear e dos potenciais
riscos para a população e para o meio ambiente.
O Ibama tomou conhecimento do vazamento no
fim de setembro por meio de denúncia anônima. O episódio só foi confirmado em
11 de outubro, três semanas depois do ocorrido, em comunicado à Comissão
Nacional de Energia Nuclear (Cnen) feito pela Eletronuclear, empresa
responsável pela usina. O Ibama multou a Eletronuclear em R$ 2 milhões pelo
vazamento e em R$ 101 mil pela demora em informá-lo.
A Eletronuclear afirma que “pequeno volume”
de material radioativo (90 litros) foi lançado “de forma involuntária” no
sistema de águas pluviais e que, por se tratar de um “incidente operacional”, a
notificação não era obrigatória. De acordo com a empresa, análises no local não
encontraram “nenhum resultado significativo”. A Cnen também informou que o
material lançado na Baía de Itaorna, em Angra, não acarreta risco.
Algumas questões, contudo, persistem. Se a
notificação não era necessária, por que então foi feita com atraso? “Se vazou
um pouco que seja, deveria ter avisado”, disse Ney Zanella dos Santos,
presidente da ENBPar, estatal que controla a Eletronuclear. “Se não avisaram,
erraram.”
Preocupam também divergências sobre a
gravidade do episódio. Segundo a Eletronuclear, ele foi classificado como nível
2 (incidente) na International Nuclear and Radiological Event Scales (Ines),
escala usada para avaliar acidentes nucleares. Num relatório de fevereiro,
porém, técnicos do Ibama afirmam que as informações da Eletronuclear não deixam
claro se foi usada mesmo a Ines. Para a Cnen, o vazamento estava no nível zero,
em que “nenhuma mudança na segurança é observada, bem como nenhuma consequência
à população geral”.
A julgar pelo que foi informado até agora, as análises não descobriram riscos para os moradores ou para o meio ambiente. Tanto melhor. Mas a forma como a comunicação foi conduzida desperta preocupação. A melhor forma de lidar com incidentes ou acidentes nas usinas nucleares é agir com a máxima transparência, como demonstram diversos episódios ao longo da História, de Three Mile Island a Tchernóbil. Isso lamentavelmente não aconteceu. É fundamental informar imediatamente qualquer evento suspeito às autoridades e à sociedade, que tem o direito de saber o que se passa ao redor, especialmente quando o vizinho é uma usina nuclear.
Tragédias nas escolas
Folha de S. Paulo
Alta nos ataques exige protocolo baseado em
evidências, não solução imediatista
Casos de adolescentes que invadem escolas
matando estudantes e professores são fenômenos típicos dos EUA, mas dados
apontam que tais tragédias vêm se tornando mais comuns no Brasil.
Segundo levantamento de pesquisadores da
Unesp e da Unicamp, entre 2002 e julho de 2022 aconteceram 13 ataques
perpetrados por alunos ou ex-alunos em escolas do país, causando 28 mortes —em
média, pouco mais de um ataque a cada biênio e 1,4 óbito por ano.
A estatística do período já deveria causar
preocupação, mas o cenário a partir de agosto de 2022 se mostra muito mais
alarmante. Nos último oito meses, foram nove atentados e sete mortes, o que
representa escalada
abrupta de violência, com cerca de um ataque a cada 30 dias e quase um óbito
por mês.
Diferentemente do que se vê nos Estados
Unidos, onde se usam pistolas e até metralhadoras, aqui em apenas 12 episódios
do período estudado os agressores empregaram armas de fogo —uma evidência a
favor da legislação brasileira, que favorece o desarmamento.
Contrariando os fatos, entretanto,
correntes conservadoras, bolsonaristas em particular, alegam que a liberação do
porte de armas seria uma das soluções para a onda de ataques, além de advogarem
redução da maioridade penal.
Criar leis e elevar penas em momentos de
comoção, porém, não costuma ser abordagem eficiente para um problema de
segurança.
A pesquisa da Unesp e da Unicamp mostrou
que jovens agressores têm perfil semelhante: manifestam comportamento machista
e violento, cultuam armas, são isolados, apresentam histórico de distúrbio
psiquiátrico e convivem com desemprego e violência doméstica no ambiente
familiar.
A motivação do crime geralmente têm relação
com vingança por ciúmes ou bullying. Jovens com motivações do tipo se encontram
em fóruns, redes sociais, jogos online e sites da chamada deep web (internet
profunda, onde há atividades ilegais), compartilhando raiva, violência e
machismo.
Com base nesse diagnóstico, há protocolos
de segurança sugeridos por especialistas.
Entre eles, capacitar
professores, funcionários e pais para identificar alterações de comportamentos,
além de falar sobre preconceito, agressividade e internet em sala de aula. Uma
atuação da inteligência de órgãos de segurança sobre sites e fóruns anônimos da
deep web também é cogitada.
Pela ligação com a expansão do ambiente
online e um acirramento do embate ideológico, os ataques às escolas são
sintomas de um cenário novo e de difícil compreensão. Políticas públicas de
longo prazo são mais indicadas do que soluções radicais e imediatistas.
Choque elétrico
Folha de S. Paulo
UE se prepara para abandonar motor a
combustão até 2035; Brasil avança pouco
A União Europeia (UE) engatou marcha
acelerada para eletrificar sua frota de veículos: em 2035,
deixará de fabricar carros movidos a combustíveis fósseis. A medida
faz parte da estratégia para zerar, em 2050, as emissões de carbono.
A Alemanha defende
exceção para motores que queimem combustíveis sintéticos e não
gerem poluição, mas já é certo que os elétricos dominarão o mercado. Hoje, são
21% dos carros novos na UE.
Com 27%, a fatia de vendas na China é mais
que o dobro da média mundial de 13%. Lá, 6,2 milhões de veículos eletrificados
chegaram às ruas em 2022 —entre os totalmente elétricos com baterias (BEV, na
abreviação em inglês) e os híbridos que podem ser ligados na tomada (plug-ins,
ou PHEV).
As vendas chinesas no setor cresceram 82%
em 2022, enquanto o mercado automotivo geral encolhia 5,3%. No mundo, o avanço
verde foi de 55%, ante retração de 0,5% nas vendas totais de veículos, segundo
a base de dados EVvolumes.
Os EUA ficam atrás da média global, com
7,2% de elétricos. A campeã é a Noruega, onde BEVs e PHEVs somam 79% das
vendas.
Do ângulo da crise climática, pouco
adiantará eletrificar a frota se a energia das baterias provier de fontes
emissoras de carbono, como usinas alimentadas com carvão mineral, óleo ou gás
natural. A matriz elétrica precisa ser toda renovável para fazer diferença
contra o aquecimento global.
Nesse quesito, o Brasil ocupa posição
ímpar, com 82,9% da eletricidade oriunda de fontes renováveis (hidráulica,
eólica, solar e biomassa), contra 28,6% na média do planeta. Some-se a isso a
alta produção de etanol e tem-se um enorme potencial para BEVs e PHEVs.
Os números são ínfimos, contudo. Circulam
aqui apenas 135,3 mil elétricos e híbridos, menos de 0,1% da frota de veículos
leves. As vendas têm aumentado, é fato, com 49,2 mil emplacamentos em 2022,
incremento de 41% sobre o ano anterior, de acordo com a Associação Brasileira
do Veículo Elétrico.
A maioria dos carros elétricos e híbridos
disponíveis no mercado nacional é de modelos pouco acessíveis —e poderão ficar
ainda mais caros, se o governo federal ouvir o pleito apresentado em fevereiro
pela Anfavea de revogar a isenção do imposto de importação, com retorno da
alíquota de 35%.
Ou seja, as montadoras querem garantir uma reserva de mercado. Enquanto a Europa acelera, no Brasil ameaçam puxar o freio de mão.
Comissão de Anistia é política de Estado
O Estado de S. Paulo.
Fruto da lei, a Comissão de Anistia não pode ser desvirtuada pelo Executivo. Com Bolsonaro, colegiado negou direitos constitucionais; sob Lula, inventaram ‘anistia política coletiva’
Está prevista para hoje a primeira sessão
da Comissão de Anistia com a nova composição do colegiado, definida pelo
governo Lula. O objetivo imediato é fazer a revisão dos processos avaliados nos
últimos dois governos, especialmente no de Jair Bolsonaro, quando a grande
maioria dos pedidos foi rejeitada. Entre 2019 e 2022, dos 4.285 processos
julgados pela Comissão, 4.081 (95%) foram indeferidos, segundo levantamento do
Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
É fundamental realizar esse trabalho de
revisão, uma vez que, no governo Bolsonaro, a Comissão de Anistia foi
totalmente desvirtuada, com integrantes que rejeitavam a própria finalidade do
colegiado. Basta ver que, para Jair Bolsonaro, as atrocidades da ditadura
militar não deveriam ser indenizadas, e sim homenageadas.
De fato, o bolsonarismo distorce até mesmo
as questões mais básicas. O trabalho da Comissão de Anistia não é a realização
de uma política de governo, como se dependesse das idiossincrasias do
governante de plantão. O colegiado vem cumprir uma política de Estado, definida
na própria Constituição de 1988, que concedeu “anistia aos que, no período de
18 de setembro de 1946 até a data da promulgação da Constituição, foram
atingidos, em decorrência de motivação exclusivamente política, por atos de
exceção, institucionais ou complementares” e determinou a correspondente
reparação econômica. É dever do Estado, portanto, indenizar todos aqueles que,
por razões políticas, foram perseguidos pelo poder estatal.
Durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso, foi editada a Medida Provisória (MP) 65/2002, depois convertida pelo
Congresso na Lei 10.559/2002, que regulamentou os direitos constitucionais dos
anistiados políticos. A Comissão de Anistia, que entre seus membros conta com
um representante do Ministério da Defesa e um das pessoas anistiadas, é fruto
dessa regulamentação. Assim, quando desvirtua o funcionamento do colegiado, o
governo descumpre a Constituição, ao negar efetividade a direitos previstos no
texto constitucional.
A vinculação da Comissão de Anistia com a
Constituição e com a Lei 10.559/2002 explicita que o trabalho do colegiado não
tem natureza política, não devendo depender de orientações
político-ideológicas. Trata-se de tarefa técnica, de análise das provas, para
comprovar a alegada perseguição política, assessorando o Executivo federal na
concessão das indenizações.
Em razão da necessária conformidade com a
lei, a Comissão de Anistia não deve fazer criações interpretativas, seja para
negar direitos, seja para estendê-los além do que o legislador previu. Por
exemplo, o novo Regimento Interno da Comissão de Anistia, publicado em 23 de
março, prevê a possibilidade de um requerimento coletivo de anistia política,
criando uma “declaração de anistia política coletiva” para “associações,
entidades da sociedade civil e sindicatos representantes de trabalhadores,
estudantes, camponeses, povos indígenas, população LGBTQIA+, comunidades
quilombolas e outros segmentos, grupos ou movimentos sociais que foram
atingidos, em decorrência de motivação exclusivamente política, por atos de
exceção, institucionais ou complementares”.
A Constituição e a Lei 10.559/2002 são
inequívocas: os anistiados são pessoas físicas. A pretendida ampliação a
coletivos, por meio de decreto, desrespeita o que o Congresso estabeleceu. Se o
governo federal pretende indenizar associações e entidades, deve antes propor
ao Poder Legislativo. A razão para tal exigência é cristalina: a Comissão de
Anistia cumpre uma política de Estado, e não de governo. Alterar sua
sistemática exige lei.
Outro aspecto que merece ser lembrado,
especialmente depois de duas décadas de existência da Comissão de Anistia, é a
necessidade de finalizar o trabalho de reparação dos anistiados políticos. O
Estado tem o dever de analisar com presteza os casos pendentes, dando o devido
encaminhamento. Eternizar essa tarefa, como se não tivesse fim, seria também
uma forma de descumprir a Constituição.
A estranha tolerância de Lula
O Estado de S. Paulo.
Sabe-se que o lulopetismo faz o diabo para
se manter no poder, mas poderia ao menos demonstrar algum incômodo com um caso
tão cristalino de imoralidade como o do ministro Juscelino
Dia sim e outro também, pululam evidências
de que o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), usa
desavergonhadamente dinheiro público para bancar seus luxos privados. Até
quando o presidente Lula da Silva manterá uma figura como essa no primeiro
escalão do governo em nome da coesão de uma base de apoio no Congresso que, a
rigor, ele nem sequer tem?
De acordo com uma nova reportagem do
Estadão, que desde o dia 30 de janeiro tem revelado ao País o veio
patrimonialista de Juscelino Filho, o ministro empregou o piloto de sua
aeronave particular e o gerente de seu haras, localizado no município de
Vitorino Freire (MA), como funcionários de seu gabinete na Câmara dos
Deputados. Ambos continuam recebendo salários de R$ 10,2 mil e R$ 7,8 mil,
respectivamente, pagos pelos contribuintes, mesmo após o ministro ter se licenciado
do cargo para ingressar no governo federal. O suplente de Juscelino Filho,
deputado Benjamim de Oliveira (União Brasil-MA), não só manteve os dois
funcionários do ministro em seu gabinete – embora, segundo consta, não possua
aeronave nem cavalos –, como ainda empregou um tio do ministro das
Comunicações.
Evidentemente, Juscelino Filho justificou
as nomeações afirmando que todas as contratações para seu gabinete estariam “em
conformidade com as regras da Câmara”. É improvável, mas, se estão, seria o
caso de rever essas regras, pois são totalmente antirrepublicanas. Em nota, o
ministro ainda exaltou o “zelo” e o “profissionalismo” com que seus
funcionários desempenham as funções. Não há razões para duvidar disso. O piloto
do ministro pode ser um ás da aviação. Os cavalos de seu haras podem ser os
mais bem tratados do mundo. A questão de fundo é: o que o pobre do
contribuinte, que custeia o seu gabinete para o exercício do mandato
parlamentar, tem a ver com isso?
Por mais escabroso que seja – e a
estupefação só aumenta diante da desfaçatez do ministro em minimizá-lo –, esse
é apenas mais um caso a se somar à pilha de suspeitas sobre Juscelino Filho
trazidas a público por este jornal desde que ele passou a integrar o Ministério
de Lula.
Em apenas dois meses de esforço
jornalístico, o Estadão já revelou que, quando deputado, Juscelino Filho usou
dinheiro do orçamento secreto para asfaltar uma estrada que passa em frente a
fazendas dele e de seus familiares; voou em avião da FAB para cumprir agendas
particulares, inclusive com recebimento de diárias (devolvidas após o caso vir
a público); escondeu patrimônio da Justiça Eleitoral; informou dados falsos ao
Tribunal Superior Eleitoral para justificar o uso indevido de recursos do fundo
eleitoral; emplacou funcionário fantasma no Senado; e, como se não bastasse,
sobre Juscelino Filho ainda pairam graves suspeitas de ter intermediado a
contratação de empresas de amigos e ex-assessores pela Prefeitura de Vitorino
Freire – município governado pela irmã do ministro, Luanna Rezende
É essa a folha corrida de Juscelino Filho,
tirado por Lula do merecido anonimato, em nome sabe-se lá de quais imperativos
políticos. Dos petistas, ferozes críticos dos muitos desvios éticos do governo
de Jair Bolsonaro, não se ouviu palavra. Sabe-se que o lulopetismo faz o diabo
para chegar ao poder e se manter lá, como provam o mensalão e o petrolão, mas
poderiam ao menos demonstrar algum incômodo com um caso tão cristalino de
imoralidade – que fosse apenas para manter as aparências de um governo cujo
presidente venceu as eleições prometendo restabelecer a democracia e a
decência.
Ao que parece, Lula não vê problema em
manter em um Ministério que se presta a auxiliá-lo na “união e reconstrução” do
Brasil uma pessoa com um passivo desses. O presidente se limitou a exigir que
Juscelino Filho “fosse às ruas” e “se explicasse”, como se não fosse dele, como
chefe de Estado e de governo, a responsabilidade de zelar pela moralidade de
sua própria administração.
Se Lula da Silva não quer que os rolos de
Juscelino Filho passem a ser exclusivamente seus, passa da hora de o presidente
da República nomear um novo ministro das Comunicações.
Terror e morte na escola
O Estado de S. Paulo.
Ataque em escola de SP impõe a autoridades
e educadores desafios em múltiplas dimensões
O ataque de um aluno de 13 anos numa escola
da zona oeste de São Paulo chocou o País de muitas maneiras: pelo crime em si,
filmado em toda a sua crueza, como já se tornou comum nestes tempos, que
vitimou uma professora totalmente indefesa; pela vulnerabilidade de alunos e
professores num ambiente presumivelmente de aprendizado, e não de violência
homicida; e pela exposição explícita e dolorosa do terrível estado da saúde
mental dos estudantes, sobretudo depois da traumática experiência da pandemia
de covid-19.
Dadas todas essas dimensões, não se pode
tratar esse episódio apenas como mais um crime, mas como expressão dos muitos
desafios que se impõem a autoridades públicas e a educadores para reduzir os
riscos de que algo dessa natureza volte a acontecer e, pior, que se torne
comum.
O primeiro aspecto que salta logo aos olhos
é a facilidade com que o estudante entrou armado na escola e atacou a
professora e em seguida vários de seus colegas. No entanto, ainda que cause
justa indignação, tal circunstância não pode servir de pretexto para soluções
que, em vez de mitigar a sensação de insegurança, acrescentariam tensão ao
ambiente escolar. O governador Tarcísio de Freitas, por exemplo, indicou a
disposição de colocar policiais dentro das escolas. Além disso, alguns
políticos sugeriram a instalação de detectores de metal. Tais propostas, ainda
que possivelmente evitem crimes, o que é duvidoso, tendem a transformar a
escola em teatro de guerra, algo indesejado para a educação das crianças.
O segundo aspecto é o protagonismo das
redes sociais. Na véspera do crime, o assassino tinha anunciado o plano em uma
dessas redes. Um mês antes, já havia sido denunciado à polícia por postar
vídeos em que simulava atos violentos. Não se quer aqui dizer que as redes
tenham responsabilidade direta pela violência, mas, ao permitir que crianças as
frequentem e ao valorizar conteúdos violentos por seu potencial de engajamento,
colaboram decisivamente para que jovens se radicalizem e, confundindo o mundo
virtual com o real, sintamse estimulados a praticar a violência que os excita.
Nesse sentido, é urgente que haja alguma forma
de monitoramento das redes para que eventuais sinais de desequilíbrio deste ou
daquele aluno sejam detectados a tempo. Muitas vezes, os pais não dão conta das
múltiplas possibilidades de interação virtual a que seus filhos são expostos,
razão pela qual é preciso que a escola os ajude e que haja denúncia tempestiva
à polícia caso se suspeite que a criança esteja tomando o caminho da violência
real.
Por fim, a saúde mental dos estudantes é
outra frente de atuação incontornável, ainda mais quando se considera que, na
pandemia, a suspensão das aulas presenciais e o isolamento social acentuaram
distúrbios de ansiedade e depressão. Soube-se agora, depois da tragédia, que o
governo paulista cancelou, há um mês, seu programa de atendimento psicológico
nas escolas, por razões técnicas. Menos mal que tenha anunciado agora a
retomada do programa, absolutamente necessário.
De tudo isso, depreende-se que não serão soluções simplistas e meramente reativas que vão resolver o problema. Que a indignação não sirva de pretexto para mais violência. É preciso ter coragem de apostar na cultura de paz.
Israel para em protesto contra reforma
antidemocrática
Valor Econômico
Netanyahu recuou por um mês para
desmobilizar a imensa reação contrária a seus projetos
Durante quase 75 anos, Israel foi uma
exceção democrática no Oriente Médio, coalhado de ditaduras e autocracias
árabes. Um presente que o veterano político Benjamin Netanyahu pretendia dar ao
país em seu aniversário, em 14 de maio, seria esse: o princípio do fim da
democracia israelense. Oportunista e corrupto, enfrentando três processos na
Justiça, Netanyahu conseguiu formar o governo mais à direita da história do
país.
As ações do primeiro ministro para
subordinar a Suprema Corte, restringir seus poderes e torná-la na prática uma
mera serviçal do Parlamento, por outro lado, produziram as maiores
manifestações de repúdio já vistas, em uma insurgência que reuniu banqueiros,
empresários do próspero setor de tecnologia, militares e camadas da classe
média secular e liberal israelense. Netanyahu brinca com fogo no Oriente Médio,
colocando o futuro em risco para, em primeiro lugar, salvar a própria pele e
escapar da prisão, e depois, mitigar seu desejo irrefreável pelo poder.
Após cinco eleições em quatro anos, Netanyahu
montou um gabinete com apoio majoritário (64 das 120 cadeiras do Knesset) de
grupos ultraortodoxos e religiosos mais conservadores - o que inclui políticos
às voltas com a lei e nacionalistas radicais favoráveis à anexação de terras
dos palestinos. O tom do radicalismo varia na coalizão direitista, mas não
muito. Todos acreditam que a Suprema Corte é esquerdista, tem poderes demais, é
intervencionista, tendenciosa e, palavra de preferência dos populistas de
qualquer parte da Terra, “elitista”.
Os projetos dos membros do atual governo
colocam em risco a segurança de Israel. O ministro das Finanças, Bezalel
Smotrich, do Partido Religioso Sionista, em palestra em Paris, disse não só que
não existe uma cultura palestina, como também que “não existe povo palestino”.
No palanque em que foram proferidas, havia mapa no qual tanto a Cisjordânia
ocupada como a Jordânia eram partes de Israel - a Jordânia é um dos vizinhos de
Israel que menos lhe dá problemas. O ministro da Segurança, Itamar Ben-Gvir é
um seguidor do rabino extremista Meier Kahane, do partido Kach, considerado
grupo terrorista pelos Estados Unidos.
O ministro da Saúde e Interior, Arieh Deri,
teve de sair do governo no início do ano porque não poderia integrá-lo:
confessou-se culpado por fraude fiscal para escapar da prisão. No passado,
chegou a ser condenado por três anos de cadeia por aceitar propinas. Netanyahu
prometeu-lhe a volta ao governo, como ministro das Finanças.
A Procuradora Geral Gali Baharav-Miara, por
seu lado, disse que Netanyahu não poderia estar envolvido na questão da reforma
judicial. Em um dos processos, no qual é réu por corrupção, ele fizera um
acordo com a Corte prometendo que, no poder, não atuaria em projetos que
tivessem impacto nos casos pelos quais está sendo julgado.
Sem uma Constituição, e sem Senado, a
Suprema Corte é o único anteparo a eventuais ataques aos direitos democráticos
feitos pelo Parlamento e um governo dominados por extremistas. A reforma que
Netanyahu patrocina muda a composição da comissão que seleciona os juízes da
Corte tornando-a favorável ao governo. Ao mesmo tempo, confere ao Knesset o
poder de revogar decisões da Corte por maioria simples. A aprovação da reforma
referenderá o impasse constitucional, pois a Suprema Corte seguramente a
declarará ilegal. A tentativa de subjugar a democracia paralisou o país,
sublevou Forças Armadas e os reservistas, e trouxe apreensão nos EUA.
Há uma nova correlação de forças se
formando no Oriente Médio, com o fim das hostilidades entre Irã e Arábia
Saudita (xiitas e sunitas), a ser testada, sob patrocínio da China. O avanço
das ocupações ilegais em territórios palestinos, a ressurreição de ataques
mútuos diários na faixa de Gaza podem no futuro encontrar respostas mais fortes
se o governo israelense, como promete, seguir em frente em seus planos. O
acordo que normalizou relações com Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e
Sudão pode estar com os dias contados diante das exibições de expansionismo do
atual governo. As ameaças de ataques israelenses ao Irã, para deter o avanço
rumo a artefatos nucleares, ganha maior probabilidade.
Netanyahu recuou por um mês para
desmobilizar a imensa reação contrária a seus projetos. Ao fazê-lo, usou a
palavra guerra civil, o que mostra quão fundo a democracia israelense foi
abalada - e quão sérias são as ameaças de sua destruição.
2 comentários:
Olha o editorial do estadão aí gente... Só falta inflar um pixuleco e dar títulos em letras garrafais. Entendo a sanha dessa gente em querer ir contra o projeto contra a disseminação de mentiras e ódio nas redes. O título é a exemplificação do ódio encarnado dessa gente. Mais respeito é bom para que menos bolsonaros surjam, por favor.
O Globo
"Interesse público deve prevalecer na regulação digital"
Disso ninguem discorda. Sua manchete é mais uma filosofia barata. O único problema, organização Globo, é quem diz o q é "interesse publico". Pra isso, Lula é o Congresso foram eleitos. Jornal e TV e rádio e site têm influência (é o seu caso), mas Lula tb tem o dever é o direito de atuar nesta área (regulação digital). Perceba q, dentre inúmeras diferenças, repito, inúmeras, seus interesses, Globo, nem sempre se confundem com os do público (apoiaram a ditadura e pediram desculpas, por ex., etc). Assim como acontece com o Lula.
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