Mas, para financiar déficits recorrentes,
que em casos como o nosso fazem a dívida crescer qual bola de neve, o governo
tem que ir ao mercado vender títulos da dívida pública, atraindo poupança
privada em troca de um prêmio (taxa de juros) para cobrir o rombo em suas contas.
Aí nasce a dívida mobiliária. A dívida pode ser interna ou externa, em reais ou
em moeda estrangeira. Este ano, a dívida pública brasileira deverá atingir o
patamar de 75,4% do PIB. Ela é predominantemente mobiliária e interna. Em 2023,
o Governo Federal vai gastar em despesas operacionais, acima da arrecadação, 145,4
bilhões de reais ou 1,4% do PIB. E olha que a carga tributária brasileira já beira
os 34% do PIB, a maior na América Latina e entre os países emergentes. Ainda
assim, há déficits. Pagaremos ainda 658,2 bilhões de reais de juros. O rombo total
nas contas do governo federal equivalerá a 7,5% do PIB. Com isso, a dívida
crescerá.
Para garantir que os investidores privados
se disponham a financiar o governo são necessárias duas coisas: juros atrativos
e consistência que gere confiança. Quanto maior for a dívida, a instabilidade
fiscal e a desconfiança, maior será o prêmio exigido pelos compradores de
títulos do governo.
O Brasil dever 75% do PIB é muito ou pouco?
Depende. A dívida pública, em 2020, do Japão, da Itália e dos Estados Unidos
era de 224,8%, 155,56% e 128,05% de seus PIBs, respectivamente. Mas o tamanho e
a solidez de suas economias e a confiança em seus títulos são maiores. A dívida
brasileira tem um custo maior e prazos menores. Daí, a importância de se
combater o déficit público, reduzir o estoque da dívida, conquistar a confiança
dos investidores e mostrar que nossa dívida é plenamente sustentável. Quanto
mais fizermos isso, menores serão os juros e maiores serão os prazos. Menor
será o sacrifício imposto às futuras gerações. O ideal é que o governo produza superávits
- era assim até 2014 - e com a economia pague os juros, quem sabe parte do
principal, estancando o crescimento da dívida.
Por isso, é importante a existência de
regras fiscais, âncoras orçamentárias, que garantam a disciplina fiscal e
contenham o impulso gastador de qualquer governo. A União Europeia estabelece
limites de dívida, déficit e crescimento dos gastos para seus membros. Nos EUA,
o Congresso Nacional tem que autorizar a ampliação do endividamento para
financiar os déficits orçamentários. Aqui tínhamos o “Teto de Gastos”, votado ainda
no governo Temer, que proibia as despesas de crescer além da inflação.
Recentemente, houve a aprovação do “Novo Arcabouço Fiscal”.
Veremos, na próxima semana, a repercussão
da nova regra no Orçamento de 2024.
*Economista e Professor. Ex-Deputado Federal pelo PSDB-MG. Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais (2003-2010). Diretor-Executivo do IFI – Instituição Fiscal Independente do Senado.
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