O Estado de S. Paulo
As estimativas para as contas públicas que o
governo acaba de entregar ao Congresso recebem o pomposo nome de Lei de
Diretrizes Orçamentárias, mas deveriam ser tratadas como confissão. A de que
nada mesmo importa além de ganhar as eleições de 2026.
Nisso não há qualquer surpresa. Desde as
eleições municipais do ano passado, Lula assumiu que uma deterioração modesta
da política fiscal – a que ele conduz no momento – incomoda muito os agentes
econômicos, mas seria essencial para ganhos eleitorais. A novidade na confissão
é o próprio governo assumir que o sucessor estará quebrado em 2027.
Este será o resultado da conhecida armadilha fiscal que Lula armou para si mesmo, pela qual garantiu desde o primeiro dia do terceiro mandato que despesas cresceriam mais do que receitas. Numa linha do tempo mais longa, os resultados prometem ser os mesmos da primeira era do PT no poder – medíocres, sobretudo diante dos desafios que o Brasil enfrenta –, mas Lula acha que foi um golpe em 2016 que o impediu de alcançar o paraíso.
O que realmente impressiona na confissão
batizada de LDO é o grau de distanciamento da realidade política. Coloque-se
por um momento de lado a inconsistência dos números (comportamento das despesas
versus comportamento das receitas) e o que se lê na peça entregue ao
Legislativo é a crença do Planalto em obter do Congresso mais arrecadação. Não
há base política para isso.
Da mesma maneira, outra questão política
subestimada é o grau de resistência social às forças encabeçadas por Lula. As
dificuldades em expandir popularidade mesmo com tanto empenho em aumentar renda
e facilitar crédito vêm de um cansaço generalizado e não são apenas
consequências de episódios isolados, que pudessem ser contornados via
propaganda política.
É óbvio em qualquer lugar que inflação
atormenta a aprovação de governantes, ou os torna inelegíveis na próxima
disputa nas urnas, mas no caso de Lula esse fator é apenas mais um componente
de um mix pesado de desconfiança. E, principalmente, pouca esperança de que
seja capaz de traçar rumos melhores.
Significa que Lula estaria fora do jogo? A
confissão batizada de LDO evidencia que ele mesmo considera as eleições
dificílimas – a ponto de deixar pior para si mesmo (na hipótese de sair
vencedor) uma situação fiscal já pra lá de preocupante. Mas não, não está.
Seus adversários parecem confusos e sem
grande capacidade de decisão no momento quanto à escolha de um nome para
enfrentar Lula. Há um enorme potencial eleitoral nas forças de centro direita,
que padecem até aqui da falta de qualquer tipo de direção central e, por
consequência, de um rumo claro. A escolha de seu nome por enquanto depende do
humor de Jair Bolsonaro, e do que dizem as pesquisas sobre a popularidade de
Lula.
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