EFEITO DA GREVE
Pelo menos 120 operários foram recebidos com cartas de dispensa por justa causa, ontem na refinaria. Muitos tentaram passar pela catraca, mas o crachá estava desabilitado. Entidades criticaram o processo. Pode haver mais desligamentos.
Refinaria começa a demitir
Ao menos 120 operários perderam o emprego, com demissão por justa causa. Clima ficou tenso na portaria da obra
Adriana Guarda e Felipe Lima
As empresas que integram as obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Suape, começaram a apresentar suas listas de demissões. Depois do fracasso do acordo entre patrões e empregados, que previa a volta maciça ao trabalho quinta-feira, as empreiteiras decidiram optar pelo remédio amargo.
Ontem, pelo menos 120 funcionários do Consórcio Ipojuca Interligações foram recebidos no canteiro de obras com cartas de demissão por justa causa. Até o fechamento desta edição, nem as empresas Queiroz Galvão e IESA, que formam o consórcio, nem o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) confirmaram o número exato de desligamentos. A desinformação era tão grande que foram especuladas demissões de 80, 300 e até 1.000 pessoas.
Surpresos com a notícia da dispensa, alguns passaram mal e chegaram a desmaiar. O movimento de ônibus transportando trabalhadores foi intenso durante a manhã, com exceção do Consórcio Conest, que não programou as rotas dos veículos. De acordo com o Sinicon, desde a última sexta-feira, quase metade dos 44 mil funcionários das obras voltaram ao trabalho.
Os operários do Consórcio Ipojuca contam que tentaram passar na catraca de entrada, mas o cartão eletrônico estava desabilitado. Receberam a informação de que deveriam aguardar do lado de fora porque passariam por um processo de integração, mas depois foram dispensados. Pelo menos 25 profissionais da BBC Vigilância faziam a segurança de dois funcionários da empresa, encarregados de entregar as cartas de demissões. Inconformados com as dispensas, os operários se aglomeraram na frente da portaria e pediam explicações. Um funcionário da Petrobras comentou que o Consórcio Ipojuca seria questionado pela forma das demissões, porque não seria a prática orientada pela estatal. Um grupo de demitidos fechou uma das entradas da Rnest como forma de pressionar por uma resposta. A empresa cedeu e recebeu uma comissão de cinco trabalhadores, mas nada foi revertido. Do lado de dentro, colegas dos demitidos informavam que no canteiro também estavam ocorrendo desligamentos, mas sem justa causa. "O que eu fiz pra me botarem pra fora? Sou um pai de família, vim trabalhar. Só não compareci nos últimos três dias úteis porque os ônibus do consórcio não circularam. Estava juntando dinheiro para comprar um terreno e construir minha casa. Quero trabalhar", dizia, chorando, o ajudante João Henrique Teotônio, que desmaiou ao receber a carta de demissão. Há um ano e dois meses no consórcio, o ajudante José Edson, reclamou da ausência do sindicato da categoria (Sintepav-PE) no canteiro. "Fomos abandonados pela entidade. Ninguém está aqui para nos defender ou nos orientar. Hoje os ônibus do Conest não rodaram e amanhã deverá acontecer com eles o que fizeram conosco", acredita.
Além de funcionários do Ipojuca, operários do Consórcio Alusa/Barbosa Melo também tiveram crachás rejeitados. Passaram parte da manhã do lado de fora da obra, aguardando orientação. Após 10h30 foram informados que deveriam voltar para suas casas e aguardar um telefonema de representantes da empresa informando os encaminhamentos.
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)
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