O Banco Central não cumpriu a meta que estabeleceu para si mesmo. Era um objetivo menos ambicioso que o mandato que a sociedade delegou a ele. Para o BC, tudo estaria bem se a inflação de 2013 fosse menor do que a de 2012, que foi 5,84%. Deu, 5,91%. O resultado é ruim por muito mais que isso. Nossos vizinhos Chile e Colômbia fecharam com inflação de 3% e 1,9%.
O Brasil tem sido leniente com a inflação alta demais. Outros países que enfrentam os mesmos impactos da economia internacional, que cresceram mais do que o Brasil e têm metas de inflação bem menores do que a nossa, chegaram ao resultado, e nós, não.
Oficialmente, o governo Dilma gosta de dizer que cumpriu a meta todos os anos. A verdade é que a meta é 4,5% e desde o primeiro momento o Banco Central jogou a toalha dizendo que só atingiria esse número no final do segundo ano do governo. Depois, postergou e agora isso ficou para o próximo período presidencial. O BC decidiu que para ele era bom se fosse qualquer coisa abaixo da inflação do ano anterior. Como em 2012 foi 5,84%, ele disse que prometeu ficar abaixo disso. Um leitura enviesada do seu trabalho. Mas nem isso conseguiu.
O governo ajudou da pior forma: manipulou os preços de produtos e serviços que ele controla. Só a queda do preço de energia representou uma redução de 0,5 ponto percentual no índice. No acumulado do ano, energia residencial ficou 15% mais barata. Ótimo alívio para os orçamentos domésticos, mas a energia mais barata para residência e, principalmente, para a indústria, custou mais de R$ 10 bilhões aos cofres públicos. Foi o dinheiro que o Tesouro teve que repassar para as distribuidoras de energia. Seria maravilhoso se a queda do preço da energia fosse conseguida de outra forma, por aumento de eficiência. Mas foi parte da campanha eleitoral antecipada e custou caro ao contribuinte. De novo, será preciso repassar mais R$ 9 bilhões para as empresas este ano, mesmo assim os preços devem ser reajustados.
Os preços dos ônibus que em 2012 tinham ficado acima de 5% tiveram peso zero em 2013. Em 2014, será impossível evitar novamente o reajuste. Ao todo, os preços administrados, que são um quarto do índice, tiveram alta de apenas 1%.
Houve uma pressão forte de alimentos no começo do ano, mas parte disso aconteceu no mundo inteiro porque foi efeito da seca que destruiu a safra americana de 2012. Os preços de milho, trigo, soja entraram em alta forte em 2013. Normalmente, o clima no começo do ano eleva os preços de frutas, verduras e legumes. Eles subiram, como sempre, e encontraram os grãos e a carne também em alta, o que levou a inflação de alimentos a 14% em 12 meses, em abril. De lá para cá, começou uma trajetória de queda, mas chegou ao fim do ano em 8,5%.
— Apesar disso, vários aumentos de grãos e derivados foram devolvidos. Milho, trigo e soja tiveram queda de preços no atacado no fim do ano — disse Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.
No acumulado do ano, óleo de soja fechou com 17% de queda, açúcar com queda de quase 10%, feijão com queda de 17%. E o conjunto de alimentos ficou menor do que os 9,86% de 2012. Apesar da redução do atacado, a farinha de trigo teve alta de 30% no varejo ao longo do ano. O tomate não foi o pior vilão. Teve no ano, aumento de 14%. Viagens aéreas só em dezembro subiram 20%. O índice de difusão – percentual de itens que tiveram aumento – chegou a 69%. Muito alto.
Um Banco Central comprometido com a meta e com credibilidade, uma política fiscal cuidadosa e uma política monetária vigilante teriam conseguido levar a inflação para a meta de 4,5%. E isso não será alcançado no governo Dilma, nem mesmo com todos os truques.
Fonte: O Globo
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