• Derrota do Brasil no Mundial faz governo mudar estratégia para evitar prejuízos
• Dilma traça estratégia para evitar prejuízos com derrota brasileira; candidatos lamentam
• Ideia é explorar imagem da presidente vinculada somente à organização do evento
Fernanda Krakovics, Maria Lima e Simone Iglesias – O Globo
BRASÍLIA — A humilhante derrota do Brasil na Copa do Mundo, fora de qualquer prognóstico, acendeu, no Palácio do Planalto, o alerta sobre o efeito político do 7 a 1 na campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Se até o momento Dilma estava explorando politicamente as vitórias da seleção brasileira, a estratégia agora é tentar colar sua imagem apenas à organização do evento, considerada um sucesso pelo governo.
Logo após a derrota, a presidente tentou se colocar como uma torcedora comum, afirmando por meio de sua conta no Twitter que estava “muito, muito triste” com a derrota da seleção brasileira, e tentou passar uma mensagem de motivação para a população.
“Sinto imensamente por todos nós, torcedores, e pelos nossos jogadores. Mas, não vamos nos deixar alquebrar. Brasil, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, escreveu a presidente.
O perfil institucional do Palácio do Planalto no Facebook adotou imediatamente a linha de defender a organização do evento: “Valeu Brasil! Vamos continuar mostrando ao mundo que, mesmo sem nossa seleção na final, batemos um bolão fora de campo”.
O perfil da presidente Dilma no Facebook, que é administrado pelo PT, foi ainda mais explícito: “Perdemos a taça, mas a #copadascopas é nossa”, afirmou, repetindo o bordão adotado pelo governo para referir ao Mundial.
Preocupação com o pessimismo
A presidente não foi poupada nas redes sociais. Assim que tuitou lamentando a derrota do Brasil, os internautas partiram para cima, respondendo desaforos, na maioria. Alguns, mais leves, como: “Auto-ajuda não, presidente!”, “Foco nas vagas de medicina que a senhora prometeu”, “Vamo (sic) construir hospital agora que perdemos?” e até brincadeiras, como “Faz outra Copa aí pro Brasil vencer”, e “Cancela a Copa”. Mas os palavrões dominaram a timeline.
O discurso no entorno da presidente é que ela foi uma das maiores torcedoras e incentivadoras da seleção, mas que não estava em campo:
—A Copa deu certo e ela foi a maior torcedora (da seleção) — disse um auxiliar da presidente.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, garantiu que a presidente irá à final entregar a taça ao capitão do time campeão da Copa:
— O jogo foi um desastre, como nunca tinha acontecido. Ninguém pode dizer que o governo ou Dilma tenha responsabilidade sobre isso — disse Bernardo.
A presidente Dilma assistiu ao jogo no Palácio da Alvorada e, como os seus principais adversários na disputa pelo Planalto, não divulgou nenhuma foto durante a partida — ao contrário do que faziam nos jogos anteriores. O candidato do PSB a presidente, Eduardo Campos, como em todos os jogos, assistiu em casa, com a família. O único que foi ao estádio do Mineirão foi o candidato do PSDB, Aécio Neves. Ele foi discretamente, sem anúncio, segundo a assessoria, como um torcedor comum. O presidenciável tucano considerou a derrota sofrida, mas afirmou que o brilho do futebol brasileiro continua.
“Uma derrota sofrida, difícil de entender, mas que não apaga o brilho do futebol brasileiro e muito menos do nosso povo. Apesar do resultado, envio o meu abraço aos nossos jogadores, à comissão técnica e a todos que lutaram para colocar o Brasil no lugar mais alto do pódio”, disse no Facebook.
O primeiro a lamentar a derrota, nas redes sociais, foi Eduardo Campos. E mandou um recado, para a próxima Copa. “O povo brasileiro fez uma festa linda durante toda Copa, mas o sonho do hexa foi, por ora, adiado. Tenho certeza de que voltaremos mais fortes em 2018”, afirmou, pelo Facebook.
Integrantes do governo afirmaram após a derrota da Seleção que uma coisa é futebol e, outra, é política. Mas reconheciam que o resultado do campo deve ser usado para atacar a presidente Dilma durante a campanha eleitoral. Um ministro afirmou que o governo e a campanha petista devem se preparar para a enxurrada de críticas e cobranças, ao menos, até a final da Copa do Mundo. O ministro do Turismo, Vinicius Lages, defendeu a realização da Copa no Brasil, dizendo que foi a mais intensa realizada até hoje:
— O sucesso da Copa até aqui não dependia da Seleção. Fomos gigantes na hospitalidade, no carinho com os turistas, marcamos pele e corações. A derrota em campo, por mais absoluta, não deve afetar nossa capacidade de reconhecermos o que somos hoje, um dos melhores países do mundo — disse o ministro do Turismo.
O ministro da Secretaria da Aviação Civil, Moreira Franco, disse que a função do governo era de garantir condições para realização da Copa no Brasil:
— Futebol é esporte. Eleição é política.
O candidato do PT ao governo de São Paulo, o ex-ministro Alexandre Padilha, verbalizou no Twitter a defesa que deverá ser repisada pelo comando também da campanha da presidente Dilma. “Brasil e os brasileiros estão de parabéns. Garantimos a estrutura, a hospitalidade, saímos um país mais forte p/ nossos desafios. Faltou futebol”, escreveu Padilha.
Há mais de uma semana havia dúvidas no PT quanto à estratégia de Dilma de avocar para si a defesa da realização do evento no Brasil — com a repetição como um mantra de que os “pessimistas” foram derrotados — e de tentar capitalizar o desempenho da seleção.
O discurso de que “Dilma não estava em campo” já vinha sendo preparado como antídoto bem antes da derrota acachapante do time brasileiro. O coordenador da campanha à reeleição e presidente do PT, Rui Falcão, já tinha dado a deixa depois do zero a zero com o México.
— A única coisa que não depende do governo federal é o Brasil ganhar a Copa. Nós queremos que ganhe, mas aí a Dilma não está em campo. Se ganhar melhor, tem tudo para ganhar.
Às vésperas do início do Mundial, o governo e o comando da campanha estavam tensos com a perspectiva de haver novamente grandes manifestações, nos moldes das que ocuparam as ruas em junho do ano passado. Também temiam alguma falha grave nos novos estádios. Desse ponto de vista, ficaram todos aliviados.
A atuação da presidente na Copa foi dividida em dois momentos. Primeiro, ela estava preocupada com o mau humor da população em relação aos gastos públicos para sediar o evento e pretendia acompanhar de longe os jogos. Mas depois que o Palácio do Planalto captou que as agressões sofridas na abertura da Copa repercutiram mal e poderiam ser revertidas a favor de Dilma, a presidente passou a tentar capitalizar politicamente a atuação da seleção brasileira.
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