quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Comparecimento maior de mulheres pode beneficiar Lula

Para Jairo Nicolau, abstenção dos menos escolarizados, porém, tende a prejudicar petista

Por Andrea Jubé / Valor Econômico

BRASÍLIA - O cientista político Jairo Nicolau, uma das principais autoridades em eleições e sistema partidário no país, afirmou ao Valor que a perspectiva de uma taxa maior de comparecimento das mulheres no pleito deste domingo tende a beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem a preferência da maioria desse segmento. Em contrapartida, o petista pode ser prejudicado com a ausência de eleitores menos escolarizados, geralmente, aqueles que mais contribuem para os altos índices de abstenção.

Nessa reta final da campanha, a possibilidade de que milhões de eleitores dos segmentos mais inclinados a votar em Lula se ausentem no dia 2 de outubro é uma das principais preocupações da coordenação da campanha lulista. O candidato tem expressado essa inquietação nos discursos mais recentes. “Qual o problema de a gente não votar? Se a gente não votar, perde autoridade moral de cobrar”, disse Lula em um comício em São Paulo no sábado. “A gente não pode ter 20% de abstenção, 10% de voto nulo”, alertou.

A taxa de abstenção eleitoral está em curva ascendente no Brasil. Em 2018, 20,3% dos eleitores não compareceram para votar, representando um universo de 29,9 milhões de brasileiros - quase o eleitorado do Estado de São Paulo, que tem 34,6 milhões de pessoas. Em 2014, 19,3% dos aptos a votar se ausentaram. Os dados do pleito municipal de 2020 não têm sido utilizados para comparações, porque a pandemia levou à maior taxa de abstenção da história recente: 23,1% de faltosos.

Apesar do receio de alta taxa de ausentes, Jairo Nicolau, que é pesquisador e professor da FGV/FCPDOC, observou que Lula “ganha duas vezes em termos numéricos” com as mulheres, a partir da análise dos dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em primeiro lugar, porque elas formam a maioria do eleitorado: dos 156,4 milhões de eleitores, 52,6% são mulheres. Além disso, elas comparecem mais para votar.

No primeiro turno de 2018, o percentual de comparecimento feminino foi de 80,4%, enquanto o masculino foi de 79,2%. Em 2014, a diferença foi mais ampla: 82% das eleitoras votou e entre os homens esse índice foi de 79%. No pleito municipal de 2016, 83% das mulheres foi votar, diante de 82% dos homens.

Lula mantém ampla vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) entre as mulheres: pesquisa do Ipec divulgada na segunda-feira mostrou que 51% das eleitoras declaram voto no petista, contra 26% que preferem o candidato à reeleição - uma diferença de 25 pontos percentuais.

Não há uma explicação científica para essa maior taxa de comparecimento feminino, mas Nicolau observa que alguns elementos ajudam a compreender esse quadro. Em primeiro lugar, as mulheres formam a maioria do eleitorado. Além disso, têm níveis mais altos de escolaridade e tendem a se interessar mais pela política. “Acho que [elas comparecem mais] por dever cívico”, diz o cientista político. Ele observou que no começo da vacinação no Brasil contra a covid-19, as mulheres foram vacinar, proporcionalmente, em números mais altos.

Em contrapartida, o PT teme o prejuízo com o comparecimento desigual por escolaridade, porque os escolarizados faltam menos às urnas. “Esses números mostram o que todo mundo supunha, mas não tinha um dado tão enfático”, explica Nicolau. “É uma escadinha linear: muda o nível escolar e a participação do eleitor aumenta. De cada 10 analfabetos, cinco vão às urnas. No segmento da alta escolaridade, a cada 10 eleitores, nove irão votar”, comparou.

Nicolau enumerou alguns fatores para a alta abstenção eleitoral. Alguns atos são marcados para o meio da tarde, em horário de trabalho, o que dificulta a participação das classes de renda mais baixas. “Quem frequenta esses atos é a classe média”, afirmou. Às vezes o eleitor se mudou, precisa ir de ônibus votar. Mas o valor da multa pela ausência é de R$ 3,50, enquanto a passagem de ônibus é de R$ 4. E ele observou que “uma parcela da população não quer saber de política porque está apática, concluiu.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

A minha preocupação tem sido essa,tomara que faça um lindo dia de sol em todo País,com chuva a coisa só piora.