O Globo
Muitas vozes reagiram indignadas quando Donald Trump concedeu
perdão aos vândalos e golpistas que invadiram o Capitólio, nos Estados Unidos.
Outras vozes se escandalizaram quando o ex-presidente Jair Bolsonaro concedeu
indulto ao ex-deputado Daniel
Silveira, acusado, entre outras coisas, de incentivar a agressão a
ministros do STF.
A maioria dessas vozes, porém, se calou quando o presidente Lula concedeu
asilo, intercedeu por um salvo-conduto e enviou um avião da FAB para resgatar
Nadine Heredia no Peru.
Nadine foi condenada pela Justiça peruana por gerir o caixa dois da campanha do marido, o ex-presidente Ollanta Humala, e por ter recebido pelo menos US$ 3 milhões de doação ilegal da empreiteira brasileira Odebrecht. Segundo delações premiadas dos executivos da Odebrecht no Brasil, o pedido para a doação ilegal veio do PT. De acordo com a delação do ex-ministro Antonio Palocci, diretamente do então presidente Lula.
A atuação da Odebrecht no Peru é escandalosa
e deriva de sua atuação no Brasil, investigada pela Operação Lava-Jato. A
Odebrecht foi acusada pela promotoria peruana de ter fraudado licitações e
financiado ilegalmente campanhas políticas, tal como fez no Brasil. Pelo menos
quatro ex-presidentes peruanos foram envolvidos no escândalo.
Desde 2024, o ex-presidente Alejandro Toledo
(2001-2006) cumpre pena de 20 anos de prisão por receber US$ 35 milhões em
subornos da Odebrecht. Em 2019, outro ex-presidente, Alan García (2006-2011),
se matou no momento em que seria preso, também acusado de receber propinas da
Odebrecht. Um terceiro ex-presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski
(2016-2018), também foi acusado por corrupção no caso Odebrecht e está em
prisão domiciliar. Finalmente, na última terça-feira, a Justiça do Peru
condenou o quarto ex-presidente, Ollanta Humala (2011-2016), a 15 anos de
prisão por lavagem de dinheiro e recebimento de fundos ilícitos para sua
campanha, originados da Odebrecht.
Segundo depoimento de Jorge Henrique Simões
Barata, ex-diretor da Odebrecht no Peru, Marcelo Odebrecht ordenou “apoiar a
campanha do senhor Ollanta Humala” com “3 milhões de dólares”, esclarecendo que
o pedido veio “do Partido dos Trabalhadores” — o esclarecimento se deveu ao
fato de Humala não ser o melhor candidato para os interesses econômicos da
empresa. Em sua delação premiada, Marcelo Odebrecht explicou que a doação para
Humala era de “interesse geopolítico do PT”. Na delação de Palocci, o pedido para
a doação partiu diretamente “de Lula para a campanha de Ollanta Humala”.
No dia do anúncio da sentença que a condenou
e ao marido, Nadine Heredia se dirigiu à embaixada brasileira e pediu asilo
político. O Brasil não apenas aceitou o pedido, como o presidente Lula
intercedeu junto à presidente do Peru, Dina
Boluarte, para que lhe fosse concedido salvo-conduto, a fim de que pudesse
transitar entre a embaixada e o aeroporto sem o risco de prisão. Lula ainda
enviou um avião da FAB, com recursos do contribuinte, para resgatá-la. Ao
conceder asilo, o governo brasileiro não apenas acolheu Nadine Heredia, mas
também endossou, indiretamente, a narrativa de sua defesa — segundo a qual não
cometeu crime, mas foi vítima de perseguição política por parte da Justiça
peruana. O reconhecimento de perseguição política é pré-requisito legal para a
concessão de asilo.
Ao aceitar o pedido de asilo e ainda
interceder junto à presidente do Peru, Lula mostrou, na melhor das hipóteses,
falta de compostura institucional, demonstrando arrogante desprezo pelos
protocolos de lisura e decoro. Na pior das hipóteses, protagonizou um gesto
obsceno de autoproteção, ao tentar livrar da Justiça a responsável pelo caixa
dois de uma campanha que ele próprio ajudou a financiar ilegalmente.
Em entrevista à rádio CBN, o diretor da
Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, resumiu o episódio com
precisão: o Brasil, que exportou corrupção, agora importa impunidade.
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