terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Segurança alimentar e resiliência climática: um vínculo essencial para o futuro - Mario Lubetkin*

Correio Braziliense

A próxima reunião de ministros da Agricultura da Celac 2025, que será realizada em Comayagua, Honduras, no início de fevereiro, será uma oportunidade para consolidar esses compromissos e avançar na implementação de políticas e ações que fortaleçam a segurança alimentar e melhorem a nutrição na região.

A recente apresentação do relatório Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional 2024 evidencia uma realidade incontestável: a América Latina e o Caribe encontram-se em um ponto crítico na luta contra a fome e a má nutrição. Embora, nos últimos dois anos, a fome na região tenha diminuído —de 45,3 milhões de pessoas, em 2021, para 41 milhões em 2023—, o progresso é desigual e frágil. A situação entre sub-regiões é particularmente preocupante; um exemplo é o Caribe, onde a taxa de fome aumentou de 15,4% para 17,2%.

A pandemia de covid-19 deixou profundas cicatrizes, exacerbando desigualdades estruturais e enfraquecendo os sistemas de produção e distribuição de alimentos. Somam-se a isso os impactos devastadores da variabilidade climática e dos eventos extremos, como secas, tempestades e inundações, que atualmente afetam 74% dos países da região de forma recorrente. Esses desafios persistentes não apenas reduzem a produtividade agrícola, mas também encarecem os alimentos, limitam sua disponibilidade e comprometem a estabilidade dos sistemas agroalimentares. Como resultado, as populações mais vulneráveis acabam pagando o preço mais alto.

A segurança alimentar está intrinsecamente ligada à resiliência climática. Para garantir um futuro sem fome, é essencial promover práticas agrícolas sustentáveis que integrem alimentos nutritivos em dietas saudáveis, melhorem a produtividade e, ao mesmo tempo, mitiguem os impactos ambientais. Isso inclui o cultivo de variedades resilientes ao clima, a adoção de tecnologias limpas e a proteção dos recursos naturais. Paralelamente, os programas de proteção social garantem que a população tenha acesso a alimentos nutritivos, especialmente em tempos de crise.

O processo de transformação na região, embora ainda enfrente desafios, tem demonstrado nos últimos anos um forte compromisso de trabalho conjunto para alcançar resultados mais sustentáveis e consistentes.

Há sinais concretos e encorajadores de que os governos da América Latina e do Caribe têm colocado a luta contra a fome e a pobreza como uma prioridade inadiável, uma necessidade que exige ações concretas para garantir o desenvolvimento sustentável. A fome é incompatível com a paz, o desenvolvimento, a produtividade e, evidentemente, a sustentabilidade.

O Plano de Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Plano SAN Celac 2030) é um marco importante e representa uma valiosa plataforma para coordenar esforços, compartilhar conhecimentos e desenvolver estratégias conjuntas. A próxima reunião de ministros da Agricultura da Celac 2025, que será realizada em Comayagua, Honduras, no início de fevereiro, será uma oportunidade para consolidar esses compromissos e avançar na implementação de políticas e ações que fortaleçam a segurança alimentar e melhorem a nutrição na região.

No entanto, os esforços governamentais, por si só, não são suficientes. É fundamental que sejam complementados pela participação e contribuições de múltiplos setores. A luta contra a fome exige uma abordagem integrada que leve em conta não apenas a disponibilidade de alimentos, mas também sua acessibilidade, utilização e estabilidade em contextos de mudanças. Uma ampla colaboração entre diferentes atores é, e continuará sendo, essencial para construir sistemas agroalimentares mais eficientes, inclusivos, resilientes e sustentáveis.

O processo da América Latina e do Caribe na redução da fome atravessa um momento histórico, com implicações não apenas para a região, mas para o mundo. A luta contra a fome tornou-se uma corrida contra o tempo. No entanto, essa região tem demonstrado potencial para se tornar um exemplo de resiliência, prosperidade e compromisso com os objetivos globais. Sua contribuição é fundamental para garantir um futuro mais justo e sustentável para todas e todos.

Como subdiretor-geral e representante regional da FAO para a América Latina e o Caribe, tive o privilégio de fazer parte desse caminho nos últimos anos. Porém, este trabalho não pertence a uma única pessoa ou organização: é um esforço coletivo, uma oportunidade para que cada um de nós contribua para um mundo sem desigualdades, sem fome, sem pobreza — e que não deixe ninguém para trás.

*Subdiretor-geral e representante da FAO para a América Latina e o Caribe

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