- O Estado de S. Paulo
• Tudo e todos queriam Fachin na relatoria da Lava Jato. Pois deu Fachin
Um senhor me abordou num shopping de Brasília na quarta-feira e, antes de qualquer coisa, até de desejar boa tarde, decretou: “A Cármen Lúcia já mexeu todos os pauzinhos e está tudo pronto para ser o Lewandowski na Lava Jato”. Antes mesmo do sorteio eletrônico, portanto, ele já estava certo de que o Supremo Tribunal Federal iria “mexer os pauzinhos” para, digamos, ajustar o resultado para um lado ou outro.
Foi um ínfimo estrato da desconfiança contra as instituições que assola a sociedade brasileira e se alastra pelas redes sociais – e para todos os gostos. Se os governistas “denunciavam” previamente a escolha de Ricardo Lewandowski, considerado alinhado com Lula, Dilma e o PT, os oposicionistas tinham certeza de que daria Gilmar Mendes, identificado com os tucanos e com Temer. Sem falar na imensa massa que simplesmente resiste a tudo: governo, oposição, tucanos, petistas...
No fim de muitas conversas, temores e consultas com lupa ao regimento do Supremo, o ministro que vai substituir Teori Zavascki na relatoria da Lava Jato acabou sendo Luiz Edson Fachin. Nem Lewandowski, nem Gilmar, nem Dias Toffoli, nem o decano Celso de Mello, muito menos o imprevisível Marco Aurélio, que nem é da Segunda Turma.
Sem o preferido Celso de Mello, tudo e todos queriam Fachin. Aparentemente, até o software de sorteio eletrônico. Então, o resultado foi um alívio? Foi, mas não foi. Foi porque Fachin é o ministro mais recente (indicado em 2015 por Dilma), é desconhecido, não falou o que não devia sobre a Lava Jato e tem a personalidade mais parecida com a de Teori Zavascki. E não foi porque houve coincidências demais e é preciso duvidar e manter a guerra das redes sociais.
Os fatos que alimentam as dúvidas, ou suspeitas, são muitos: quando o nome de Celso de Mello saiu da mídia, imediatamente entrou o de Fachin; a transferência para a Segunda Turma já foi encarada como virtual nomeação para a Lava Jato; havia um quase pânico contra um nome errado, na hora errada. E, por fim, tudo no Supremo tem sido resolvido na base do consenso e Fachin era o consenso...
Sorte? Coincidência? Ou manipulação do sorteio por algoritmo? Antes do sorteio, o Supremo destacou três altos técnicos para explicar a repórteres como funciona o sistema. Durante, Cármen Lúcia fiscalizou pessoalmente com três assessores. E, depois, o tribunal avisou que, em junho, haverá uma auditoria externa para verificar a lisura.
Definição (confusa) de algoritmo: “sequência finita de regras, raciocínios ou operações que, aplicada a um número finito de dados, permite solucionar classes semelhantes de problemas”. Nos sorteios do STF, evita que a distribuição de processos para os ministros seja totalmente fria e quem tem menos processos tem mais chance de ser sorteado. Fachin herdou um gabinete que não recebeu processos por dez meses, tempo que Dilma levou para nomeá-lo. Logo, ele levava vantagem no sorteio (se é que é vantagem pegar um abacaxi desses).
Não é impossível imaginar que os ministros chegaram a um consenso em torno de Fachin, recorreram a precedentes para removê-lo para a Segunda Turma e foram para casa na quarta-feira rezando para que o tal do algoritmo confirmasse as expectativas. Como não se dá sorte ao azar, o algoritmo de fato “solucionou classes semelhantes de problemas”.
Como diz alguém que já participou de mil e uma articulações para nomear ministros do STF “foi um sorteio, mas não um sorteeeeeiiiiio, só um sorteiozinho”. Se desse um Lewandowski, um Gilmar, um Toffoli, um Marco Aurélio, talvez a confusão fosse grande. Mas deu Fachin, que todo mundo queria, e vai acabar ficando por isso mesmo. E seja o que Deus e os algoritmos quiserem.
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