- Folha de S. Paulo
Presidente desqualifica partido para concentrar influência sobre seu grupo político
Depois de passar a campanha e o início do governo em conflito com os partidos políticos, Jair Bolsonaro está prestes a romper com a própria sigla. O presidente ameaçou publicamente abandonar o PSL e deu um passo largo para concentrar ainda mais influência sobre seu grupo de apoiadores mais fiéis.
Bolsonaro opera há mais de nove meses no Palácio do Planalto sem uma plataforma de governo objetiva e sem coalizão no Congresso. Seu capital político é fruto de sua própria imagem. O provável divórcio com o partido que o elegeu tende a reforçar o culto à sua personalidade.
O presidente vive às turras com a cúpula do PSL e tenta se desviar das suspeitas que floresceram no laranjal de candidaturas de fachada operadas por dirigentes da sigla. Nesta terça (8), ao encontrar um eleitor que elogiava o chefe da legenda, Bolsonaro deu o golpe e se deixou gravar dizendo: "Esquece o PSL".
Em 30 anos de atividade política, o agora presidente nunca se apegou a um partido. Só no ano da última eleição, passou por duas siglas antes de fincar pé na legenda de aluguel que decidiu abrigá-lo para disputar e conquistar o novo cargo.
Foi um casamento de conveniência, como Bolsonaro faz questão de deixar claro. Sua trajetória e o atual estremecimento com o PSL reforçam uma tentativa de desqualificar os partidos como intermediários de ação política, assumindo o papel de único vetor do exercício do poder.
Além de alimentar o personalismo, a ruptura com o PSL ganha força no conveniente momento em que crescem suspeitas dentro da sigla. Bolsonaro se recusa a demitir o ministro do Turismo, denunciado pelas candidaturas laranjas, mas tenta armar uma barreira em relação à sigla.
Mais de 30 deputados do PSL estão dispostos a seguir o chefe caso ele deixe o partido. Outros ousam pôr o dedo na ferida: "Como você fala do quintal alheio se o seu quintal está sujo? As candidaturas [...] estão sendo investigadas, mas o filho do presidente também", disse o Delegado Waldir, líder do PSL na Câmara.
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