Folha de S. Paulo
J&F tenta comprar petroquímica e dá
outro exemplo da expansão do agro para o topo
A
J&F quer comprar praticamente a metade da petroquímica Braskem. Quem
não acompanha o mundo das empresas talvez não se dê conta do tamanho do negócio
ou reaja à notícia com desinteresse entediado.
A transação pode ser mais um exemplo de como tem se desenvolvido o grande capital no Brasil e quem são seus novos donos. Trata-se mais uma história de uma empresa do "agro" se expandindo para outras frentes. Quando alguém falar em montadoras de veículos, convém lembrar que entre as maiores companhias do país estão negócios que se criaram a partir da cana de açúcar e da carne. Soja, milho e trigo vêm aí.
A J&F é a holding da família Batista,
dos quais os mais famosos são Joesley e
Wesley. É dona do JBS, segunda maior
empresa do Brasil, por faturamento (segundo o ranking "Valor 1000" de
2022), a maior empresa de carnes do mundo. O BNDES, o bancão
federal de desenvolvimento, tem 20,81% da JBS, informa a companhia.
A J&F também é proprietária da Eldorado
(de celulose), da Flora (do ramo de farmacêuticos e cosmética) e da Âmbar
(energia), entre as 600 maiores do país. Tem também o Banco Original, o
aplicativo de pagamentos PicPay e o Canal Rural.
A Braskem é
a maior petroquímica do país, 8ª maior empresa. A Petrobras tem 47% do capital
votante da companhia; a Novonor tem outros 50%. A Novonor é a Odebrecht
(trocaram o nome, por motivos óbvios). A fatia da Novonor é, na prática, dos
bancos credores (Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil, BNDES).
O negócio da Braskem em si é enrolado e
assunto de especialistas em empresas e no setor. O interesse aqui é em mais uma
história de expansão do "agro". Parece folclórico lembrar, mas não
muito: a JBS começou como um açougue em Goiás, em 1953.
A terceira maior empresa do país é a Vale,
criada pelo Estado e privatizada. A quarta é a Raízen, sociedade entre a Cosan
e a Shell, dominante no açúcar e no etanol, na distribuição de combustíveis,
lubrificantes, com expansão forte em outras energias renováveis (como solar e
biogás).
Alguém aí pensou em "transição
verde" e novas tecnologias em energia? Pois então. Essas empresas já estão
no centro do negócio e devem ser centrais na mudança.
A Cosan, grosso modo da família Ometto, é a
6ª maior empresa. Criou-se com o negócio de açúcar e álcool. Muito além disso,
controla a Compass, que é dona da Comgás, da Sulgás, da ex-Gaspetro (que era da
Petrobras) e tem participação em mais de dúzia de distribuidoras de gás. Tem
também a Rumo, maior administradora de ferrovias, com terminais portuários e de
outras logísticas.
Das dez maiores empresas, cinco são do
setor de petróleo e gás: Petrobras, Raízen, Vibra (ex-BR Distribuidora), Cosan
(que tem atuação ampla, como se viu), Ultrapar (Ultragaz, Ipiranga etc.). Três
são do agro: JBS, Cargill (múlti americana de processamento, fabricação e
comercialização de produtos do agro) e Marfrig (carnes). Completam a lista a
Vale (mineração) e a Braskem. A siderúrgica Gerdau é a 11ª. A primeira
montadora aparece no 19º lugar, a Fiat Chrysler —a próxima é a Volkswagen, em
41º.
As empresas dominantes ou que se tornam
cada vez dominantes estão no setor de energia; ou estão e se fizeram no setor
de alimentos, no "agro". Várias se expandiram também com a compra de
partes do setor estatal de petróleo e combustíveis (na distribuição, na maior
parte), são multinacionais, brasileiras ou não, e dominantes em seus mercados.
Valem-se ou valeram-se de vantagens absolutas e comparadas do Brasil. Outras
ramificações do agro virão. Se vier de fato uma política de "transição
verde", é razoável esperar que elas estejam no núcleo da conversa e dos
negócios. Convém prestar atenção.
Um comentário:
Sim.
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