DEU EM O GLOBO
Antes que os eleitores peguem no sono, seria bom copiar normas que vigoram para os candidatos americanos
Antes que os eleitores peguem no sono, seria bom copiar normas que vigoram para os candidatos americanos
Quem sabe chegou a hora de se repensar a organização dos debates dos candidatos na televisão. A decadência do atual modelo ficou patente na noite de domingo. Não só Dilma Rousseff e José Serra não responderam a diversas perguntas, mas chegaram a informar que voltariam ao assunto "no próximo bloco" ou "próxima vez", como se fossem apresentadores.
As redes de televisão esforçam-se para preservar a neutralidade do formato e do cenário, mas ficam amarradas às condições negociadas com a direção das campanhas dos candidatos. Essa anomalia engessa o debate e relega o moderador às funções de cronômetro. Resultado: no debate de domingo a audiência média da Rede TV! caiu à metade em relação à sua programação normal.
Como a próxima série de debates presidenciais ocorrerá daqui a quatro anos, há tempo para se pensar no assunto. Para começar, pode-se buscar o que há de útil no modelo americano, com meio século de existência e aperfeiçoamentos:- Os debates americanos são realizados em auditórios de universidades e organizados por uma entidade de composição bipartidária, a Comissão para Debates Presidenciais. Quem quiser, transmite. (Em 1988, a Liga das Mulheres Eleitoras deixou de organizar esses eventos, acusando os partidos de manipular os formatos.)
- Em 2004 as regras negociadas com a direção das campanhas foram públicas e se estenderam por 31 páginas, detalhando até mesmo que os candidatos não podiam levar cola. Antes do início do programa eles recebem papel e caneta para tomar notas. Em 2008, o detalhamento das regras ficou no cofre.
- Houve três debates de Obama com McCain, dois deles com temas predefinidos (política externa e segurança, assuntos domésticos e economia). No Brasil esse mecanismo evitaria que um candidato repetisse propostas e denúncias feitas nos anteriores.
- Duas regras de ouro do contrato de 2004 inibiriam golpes baixos comuns aos debates nacionais. Foi proibida a reprodução de trechos de áudio ou vídeo dos debates na propaganda dos candidatos. Foi proibida também a pegadinha de propor ao outro assuma um compromisso em relação a seja lá o que for.
- A principal diferença está nas atribuições do moderador. Já houve debates com vários jornalistas fazendo as perguntas ou com um só. Há uma pequena flexibilidade com o tempo dado para as respostas. É o moderador quem faz as perguntas ou apresenta os tópicos (que não são negociados com os marqueteiros).
Cabe ao moderador manter o equilíbrio na distribuição do tempo.
- Em 2008 Obama e McCain toparam dividir dois debates em segmentos, com respostas de dois minutos e embates diretos de cinco minutos. No modelo de 2004, Bush e John Kerry não podiam fazer perguntas diretas.
- Um terceiro debate é alimentado por perguntas de uma audiência previamente selecionada. Os candidatos nunca escolhem os convidados e as perguntas são previamente submetidas ao moderador, e só a ele, a quem cabe selecioná-las.
Esse último formato seria de difícil aplicação no Brasil. Outras regras, como a proibição da cola, a definição de um tema para cada debate e sobretudo a proibição do uso de trechos pinçados na propaganda posterior dos candidatos, pedem para serem copiados nas próximas campanhas.
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