Técnicos
creem que gasto com pessoal tenha caído em 2020
Um
fato pouco comum merece ser registrado. De janeiro a novembro do ano passado, a
despesa da União com os seus servidores civis ativos foi 0,5% menor do que
aquela registrada no mesmo período de 2019, em termos nominais, de acordo com
dados do Tesouro Nacional. Em compensação, o gasto com os militares ativos
aumentou 12%, na mesma comparação.
A
expectativa na área técnica é que esse quadro tenha se mantido no período
janeiro a dezembro. Os técnicos trabalham com a previsão de que a despesa da
União com pessoal ativo e inativo, civil e militar, tenha caído em 2020, em
termos reais (descontada a inflação), na comparação com 2019.
O
efetivo controle do gasto com pessoal civil no ano passado decorreu da lei
complementar 173, que proibiu a concessão de qualquer vantagem, aumento, reajuste
ou adequação de remuneração a membros de Poder ou de órgão, servidores e
empregados de estatais. A LC 173 proibiu também criar cargo, emprego ou função,
alterar estrutura de carreira e instituir ou majorar auxílios, vantagens,
bônus, abonos, verbas de representação ou benefícios de qualquer natureza.
No caso dos militares, no entanto, a situação foi diferente. O aumento das despesas no ano passado refletiu, principalmente, o impacto orçamentário decorrente da lei 13.954/2019, que reestruturou o Sistema de Proteção Social dos militares das Forças Armadas.
Na
época em que o projeto de lei que trata do assunto foi encaminhado ao
Congresso, o governo informou que a reestruturação traria uma economia de R$
10,5 bilhões em dez anos, com um ganho fiscal de R$ 97,3 bilhões e com elevação
das despesas em R$ 86,6 bilhões.
Não
foram apenas os militares que tiveram aumentos em 2020. A União foi obrigada,
por emendas constitucionais aprovadas pelo Congresso, a incorporar no seu
quadro de pessoal os servidores civis e militares dos extintos territórios de
Rondônia, Roraima e Amapá. Houve também a anualização do aumento remuneratório
concedido aos docentes do Ministério da Educação.
As
proibições previstas na LC 173 valem até 31 de dezembro de 2021. Por isso, o
governo continuará mantendo controle sobre a despesa com o pessoal ativo civil
durante todo este ano. Para eles, não haverá reajuste ou qualquer outro tipo de
vantagem. Os militares, no entanto, continuarão tendo aumento, em decorrência
da lei 13.954/2019.
Haverá
também elevação da despesa com pessoal decorrente da medida provisória
971/2020, que aumentou a remuneração da polícia Militar, do Corpo de Bombeiros
Militar e da Polícia Civil do Distrito e dos extintos territórios. Mesmo com
todos esses aumentos, a expectativa da área técnica é de que a despesa da União
com pessoal civil e militar, ativo e inativo, continue sob controle neste ano.
Outro
gasto da União que surpreendeu favoravelmente em 2020 foi com benefícios
previdenciários. O Orçamento do ano passado previa uma despesa de R$ 677,69
bilhões, mas ela deve ter ficado ao menos R$ 8 bilhões menor, de acordo com
estimativa de técnicos ouvidos pelo Valor
Ainda
não é possível saber as razões para a forte queda do gasto previdenciário em
2020. Evidentemente, a despesa caiu em decorrência das mudanças nas regras de
acesso aos benefícios, previstas na reforma da Previdência. Mas, o próprio
governo projetou uma economia muito pequena nos primeiros anos da reforma. Ela
irá crescer ao longo dos próximos anos.
A
despesa previdenciária pode ter caído também por conta da não concessão de
benefícios em função da pandemia da covid 19, que provocou, no ano passado, a
suspensão do atendimento presencial nos postos do INSS. O estoque de pedido de
benefícios não analisados, que já era alto no fim de 2019, deve ter aumentado
durante o ano passado por causa da crise sanitária.
Para
este ano, o governo terá que reprogramar as despesas com benefícios
previdenciários que constam da proposta orçamentária, enviada ao Congresso
Nacional no fim de agosto. A principal razão é que o Índice Nacional de Preços
ao Consumidor (INPC), que é utilizado para corrigir o salário mínimo e todos os
benefícios previdenciários e assistenciais, ficou muito acima do imaginado.
A
proposta orçamentária foi elaborada com a previsão de um INPC de 2,09% em 2020,
mas o governo agora estima que o índice ficou em 5,22% - mais do que o dobro do
previsto inicialmente. Isto significa que o acréscimo da despesa, em relação a
este ano, também será o dobro da projetada.
Um
fato surpreendente foi o aumento exponencial do chamado “empoçamento” das
dotações orçamentárias no ano passado. O “empoçamento” ocorre quando o Tesouro
Nacional libera o dinheiro para um determinado ministério ou órgão público e
ele não consegue gastar. O dinheiro fica parado, pois o governo, na maioria dos
casos, não tem liberdade para usar os recursos para pagar outras despesas.
De janeiro a novembro, o “empoçamento” estava em R$ 34,8 bilhões. Para se ter uma ideia do que isso significa, em 2019 o “empoçamento” foi de R$ 17,4 bilhões. O forte aumento decorreu, principamente, da sobra de recursos destinados ao pagamento de benefícios do Bolsa Família, de acordo com fontes ouvidas pelo Valor. As pessoas optaram pelo auxílio emergencial, em vez do Bolsa Família. E a sobra de recursos ficou parada, com o governo não podendo usá-la em outras despesas.
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