Blog do Noblat / Metrópoles
Parada bélica e inócua fora de hora vira
motivo de chacota
O que foi mais vexaminoso em Brasília? Uma
minúscula parada militar não prevista em nenhum calendário para a entrega de um
convite ao presidente da República? Ou o estado deplorável de parte dos
equipamentos bélicos exibidos com a intenção de meter medo nos deputados
prestes a decidir sobre o voto impresso?
A exibição de 40 veículos da Marinha, entre
blindados, caminhões e jipes, provocou riso e foi motivo de deboche nas redes
sociais. Ali, segundo levantamento da Quaest Pesquisa, dos 2,3 milhões de posts
publicados, 93% foram de chacota ou crítica ao governo federal. Mais um tiro no
pé, e desta vez no das Forças Armadas.
Na época da ditadura militar, essas coisas
eram feitas com mais cuidado. Foi montado em um cavalo branco, com a farda
impecável e um chicote na mão, que o general Newton Cruz, notório pelos maus
bofes, reprimiu manifestantes que esperavam defronte ao Congresso a aprovação
da emenda das Diretas, já.
Verdade que não faltou um toque de
ridículo. O Exército depois distribuiu fotos do saque a um supermercado onde
aparecia um homem carregando um suposto explosivo que não chegou a ser
detonado. O Jornal do Brasil descobriu que o explosivo não passava de uma lata
de Nescau. O guerrilheiro Nescau.
Faltou gente na rua para observar a entrega pelo comandante da Marinha do convite ao presidente Jair Bolsonaro que ostentava seu sorriso de plástico ao lado do ministro Braga Neto, da Defesa, e dos chefes do Exército e da Força Aérea. Desperdiçou-se combustível com um ato que se revelou inócuo.
Uma militante do PT, vestida com uma blusa
onde pedia o impeachment de Bolsonaro, ainda tentou salvar as aparências
oferecendo flores ao piloto de um dos blindados. Quando nada, lembrava
vagamente uma cena da Revolução dos Cravos, em Portugal, que inspirou uma
música de Chico Buarque de Holanda.
O esforço valeu, mas as aparências não
foram salvas. Vozes em off tentaram salvar a face do comandante do Exército ao
soprar que ele estava ali visivelmente constrangido. Se Bolsonaro alcançar seu
objetivo de dar um golpe caso não se reeleja, só faltará que digam que os
militares o apoiaram por puro constrangimento.
Derrota do voto impresso enterra
impeachment de Bolsonaro
Oposição celebra a vitória da democracia
sobre o autoritarismo, e Bolsonaro a falta de votos para tirá-lo do poder
Gol de mão não vale. Mas Diego Maradona
entrou para a história do futebol não só por sua genialidade, mas por ter feito
um gol de mão na Copa do Mundo de 1986 quando a Argentina venceu a Inglaterra
por 2 x 1. O segundo gol, considerado até hoje o mais bonito de todas as copas,
foi dele também.
A democracia derrotou o autoritarismo na
sessão da Câmara que sepultou a proposta de restabelecer o voto impresso nas
próximas eleições. Seriam necessários para sua aprovação 308 votos de um total
possível de 512, uma vez que o presidente da Câmara só vota em caso de empate.
O placar foi de 229 a favor e 218 contra.
64 deputados faltaram à sessão ou
preferiram não votar. Um, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), absteve-se. Pouco
importa, assim, que o presidente Jair Bolsonaro, o pai do voto impresso, tenha
obtido mais votos no cômputo geral – ele perdeu. Colheu até aqui sua mais
fragorosa derrota no Congresso.
Mas o resultado, se lido ao pé dos números,
mostra também que ele tem o que comemorar, e não só porque as pitonisas diziam
que o voto impresso seria derrotado por larga margem de votos e erraram. A
aprovação da abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro foi para as
calendas gregas.
É o Senado quem cassa ou não o mandato de
um presidente da República. Mas isso só acontece se a Câmara, por um mínimo de
342 votos, autorizar. Há pedidos de mais para a abertura de um processo de
impeachment contra ele, e votos de menos para aprovar um deles. De resto, a
oposição finge querer, mas só finge.
A oposição disposta a votar em Lula torce
para que Bolsonaro dispute com ele o segundo turno. Seria, nos seus cálculos, o
candidato mais fácil de derrotar. Bolsonaro torce para enfrentar Lula porque
pensa a mesma coisa. O que ele mais teme é que um candidato do centro lhe roube
o lugar.
O candidato nem Bolsonaro nem Lula ainda
não deu as caras, mas há tempo para isso. A de Bolsonaro é uma sucessão aberta.
De mais a mais, no Brasil, tudo pode acontecer, inclusive nada, como disse um
dia Marco Maciel, ex-governador de Pernambuco e vice-presidente da República
durante o governo Fernando Henrique.
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