O Globo
Jair Bolsonaro promoveu um desfile de
blindados para intimidar o Congresso. O plano não saiu bem como ele esperava.
Os parlamentares rechaçaram a pressão e sepultaram a farsa do voto impresso. A
parada fora de época virou alvo de chacota nas redes.
A encenação foi um fiasco instantâneo.
Autoridades de outros Poderes recusaram o papel de figurantes, e o presidente
despontou na rampa com os comandantes militares e os sabujos de sempre. Na
praça, um punhado de fanáticos urrava por golpe e ditadura.
O cortejo foi idealizado pelo comandante da
Marinha, Almir Garnier. Ele sugeriu transformar um exercício de rotina,
realizado anualmente, num teatro para bajular o capitão. Questionado sobre a
provocação à Câmara, o almirante alegou uma “coincidência imprevisível” de
datas. Para dizer isso, seria melhor fingir que perdeu a voz.
Em vez de exibir força, Bolsonaro
escancarou sua fraqueza. É um presidente impopular, que apela à farda para
camuflar o isolamento. Para as Forças Armadas, foi mais um espetáculo desmoralizante.
Pela submissão aos caprichos do “chefe supremo” e pelo fumacê dos veículos mal
regulados.
Enquanto os tanques deslizavam na Esplanada, a CPI ouvia mais um militar metido no rolo das vacinas. O tenente-coronel Helcio Bruno se revelou um típico bolsonarista de internet. Nas redes, divulgava notícias falsas e atacava as instituições. No Senado, adotou tom humilde e invocou o nome de Deus.
O coronel é uma caricatura da tropa que
bajula o capitão. Foi para a reserva aos 42 anos, recebe aposentadoria de R$
23 mil mensais e ainda tenta morder contratos públicos como “consultor de
defesa”. Sua devoção política confunde-se com o apetite por boquinhas e
privilégios.
A “tanqueata” não produziu um golpe, mas
avacalhou um pouco mais a imagem do país. O jornal argentino Clarín destacou os
“reiterados ataques” à democracia, e o britânico The Guardian citou a expressão
“república de bananas”. “Todo homem público, além de cumprir suas obrigações
constitucionais, deveria ter medo do ridículo”, disse o senador Omar Aziz. Mais
um aviso que Bolsonaro não deverá ouvir.
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