O Estado de S. Paulo
O
novo papa será um humanista como Francisco, ou um personalista radical na onda
de Trump?
Na
profusão de informações sobre o Papa Francisco, uma imagem chama
particularmente a atenção nesses nossos tempos tão difíceis, em muitos aspectos
cruéis: a do encontro de Francisco com o então presidente dos Estados Unidos,
Barack Obama, na Casa Branca, em setembro de 2015. Os dois representavam, como
representam, um mundo de união, inclusão e acolhimento. Um mundo que está sob
ameaça.
Vídeos e fotos deixam para a história sorrisos, empatia e posições comuns em relação à preservação do meio ambiente, à generosidade com imigrantes e à distensão com Cuba, como deixam para Obama a lembrança de Francisco como um “líder raro, que nos inspira a sermos pessoas melhores”. Lembrança poderosa. Entretanto, quem anuncia a ida à despedida do Papa é Donald Trump, que pensa e age exatamente na direção oposta de Francisco e Obama.
Essa
troca de nomes, personalidades e posições, nociva para os avanços
civilizatórios, ocorre não só na maior potência, mas mundo afora, e gera um
arrepio de medo. Quem assumirá o Vaticano? Um cardeal com a visão humanista,
inclusiva e pró-sustentabilidade como Francisco, ou um cardeal personalista,
elitista e destrutivo como Trump, contra pobres, latinos, asiáticos, africanos,
ecologistas, cientistas, estudantes e gays?
O
Brasil, apesar do aumento dos evangélicos, inclusive na política, continua
sendo o maior País católico (183 milhões,13% do total), foi o primeiro visitado
por Francisco, em 2013, eéo terceiro em votos no conclave que definirá o novo
papa - sete dos 135 votantes, só atrás de Itália (17) e EUA (dez). Logo, tem de
estar atento e ativo numa decisão tão fundamental para o planeta e a
humanidade.
Dos
252 cardeais, de 90 países, 135 com menos de 80 anos estão aptos a votar no
conclave e, destes, 108 foram nomeados por Francisco, o que não garante nada,
mas nos traz uma rajada de esperança de que seu legado será respeitado. Os
holofotes estão no filipino Luis Antonio Tagle, 67 anos, que foi nomeado por
Bento 16, em 2012, mas tem a mesma visão cristã e do bem que marcou a vida e o
pontificado de Francisco, sem confrontar os dogmas e as regras da poderosa e
secular Igreja Católica.
As
lições do argentino Jorge Mario Bergoglio foram sobre pobreza, igualdade,
ambiente, gays, mulheres, guerras, consumismo, além da ação implacável contra
corrupção e pedofilia na própria Igreja. “Isso não é comunismo, é puro
evangelho”, dizia ele, cristão por excelência que, com sua grandeza e
humildade, ensinava ao mundo: “Se uma pessoa é gay, busca o Senhor e tem boa
vontade, quem sou eu para julgá-la?” Que Francisco ilumine a alma e o coração
de cardeais do Conclave e de seu sucessor.
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