Folha de S. Paulo
Piora fundamental nas contas públicas já
ocorreu, chance de novidade maior em 2025 é pequena
O BBB dos mais tediosos recomeça no Brasil
nesta quinta-feira —as
tretas sobre gastos, déficits e dívida do governo. O público em geral não
presta atenção ou não se dá ao trabalho de entender a coisa, nem de se
preocupar com as consequências, que afetam todo mundo, do miserável ao ricaço,
para o bem ou para o mal.
O pacotinho fiscal de Lula 3 vai
para o paredão? Nesta quinta, o governo vai contar em que pé andam as previsões
de receita e despesa e o que pretende fazer a fim de cumprir as metas de gasto
e de déficit deste ano. A cada bimestre, o governo faz um balanço da situação.
A depender dos planos e das contenções de gastos que apresentar, poderia dar
rolo.
Parece improvável que dê rolo. A piora
fundamental nas contas públicas já ocorreu, como ficou evidente a partir de
meados de 2024. A melhora fundamental depende, bidu, de planos de mudança
fundamental, que não virão antes de 2027 e olhe lá.
A situação é ruim, mas parou de piorar, em suma. Assim deve ser neste 2025. No 2026 de eleição, sabe-se lá.
O governo deve cumprir suas metas para o ano,
afora desastres. Quanto à redução do déficit de fato, o governo dependerá de
receitas extraordinárias, como leilões e dividendos de petróleo e de estatais,
incertos, ou de acordos de empresas com a Receita, que têm rendido pouco.
Quanto à despesa, os cortes de desperdícios
e fraudes
na Previdência e no BPC também rendem pouco. A despesa previdenciária
deve aumentar mais do que o previsto, até porque talvez o governo enfim consiga
diminuir a fila dos processos de pedidos de benefícios do INSS, que continua
uma baderna.
Há quem queira que o governo anuncie
contenção de despesa de R$ 30 bilhões ou mais, nesta quinta. Assim, criaria
reserva de segurança para o cumprimento das metas. Parece improvável. Mas, se
não acontecer, não deve haver sururu. De resto, o governo insinuou que haveria
outras medidas fiscais, não se sabe se mais rotineiras, dessas bimestrais, ou
algo mais.
Faz uns quatro meses, menos se fala do
"fiscal", com exceção das conversas de economistas, povos de mercados
e donos do dinheiro grosso.
Depois do fiasco de público e crítica do
pacote fiscal de novembro, que contribuiu para o pânico financeiro de dezembro
de 2024, os mercados dos EUA se tornaram de novo os líderes
da treta na casa da finança mundial.
Desde fevereiro, melhoras de preços e taxas
por aqui foram em geral determinadas pelas idas e vindas de ações e taxas
de juros americanas
e por seus efeitos em outros mercados "emergentes", com os quais
disputamos parte do fluxo de capital no mundo.
As políticas lunáticas de Donald Trump fizeram
com que alguns dinheiros deixassem o mercado americano e de alguns
"emergentes". Algum tutu pingou por aqui, valorizando ações
brasileiras. O dólar se
enfraqueceu um tanto.
O dólar menos caro ajudou até a diminuir as
expectativas de altas adicionais de juros, da Selic. No mercado
de juros também houve alguma redução do arrocho. Os juros haviam começado a
subir em meados de 2024 e deram um salto mortal entre dezembro e janeiro, por
causa da inflação em
alta e por ter ficado evidente que o problema fiscal (dívida pública crescendo
sem limite) não seria tratado neste governo.
O nosso fracasso suave deve continuar, por enquanto, até que o caldo ferva, a partir de 2027, com risco de entornar amargamente.
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