Folha de S. Paulo
Fenômeno tornou-se não apenas um desvio
político, mas uma estratégia deliberada de desestabilização; ataques
sistemáticos fomentam o extremismo
O Brasil tem vivenciado um aumento de ataques
aos Poderes constitucionais: Executivo, Legislativo e Judiciário. Essa
situação, que desafia a
integridade das instituições democráticas, muitas vezes é alimentada por
desinformação e narrativas distorcidas. À medida que o descrédito
das instituições cresce, fica evidente que o fenômeno não é apenas um
desvio político, mas uma estratégia deliberada de desestabilização.
Vigiar o desempenho dos três Poderes é dever
da sociedade, com o suporte essencial da imprensa. As instituições republicanas
não são infalíveis. Cometem erros que devem ser apontados e corrigidos. No
entanto, é preciso ter cautela: a crítica construtiva é vital para o
aprimoramento democrático, enquanto os ataques levianos colocam em risco o
Estado de Direito.
O cenário é marcado por uma onda de
deslegitimação, na qual a crítica se transforma muitas vezes em agressão, e
fake news circulam livremente, minando a confiança popular nas instituições.
O Supremo Tribunal Federal (STF) tem sido o mais recorrente alvo dos ataques. As ofensivas buscam desacreditar a corte, que responde pela manutenção da ordem constitucional no país. Entre os ministros do STF, Alexandre de Moraes é um dos principais alvos, acusado de tomar decisões equivocadas ou exageradas. Desconsideram que, como membro do Judiciário, ele tem o dever de garantir a ordem e proteger os direitos civis. Não age por iniciativa própria, mas sim movido por ações impetradas junto ao tribunal. Sua atuação foi determinante para evitar um golpe político nas últimas eleições presidenciais.
Quando a crítica se transforma em uma
campanha de deslegitimação, as consequências são graves. A estabilidade dos
Poderes depende do respeito da população. Ataques sistemáticos, em especial
quando baseados em mentiras ou meias verdades, minam a fé e criam um ambiente
propício para o extremismo.
Ao difamar o Supremo, busca-se enfraquecer um
dos principais pilares da garantia democrática, criando um vácuo que pode ser
explorado por interesses golpistas.
Erros ocorrem e devem ser corrigidos e
punidos dentro dos limites da legalidade e da ética, sem cair na armadilha da
desinformação e da politicagem. A crítica legítima deve coexistir com o
respeito pelas instituições, pois a democracia é mais forte quando suas falhas
são debatidas sob clima saudável e construtivo.
Para enfrentar a crise
de confiança, cabe promover um diálogo aberto entre a sociedade, a imprensa
e as instituições. A transparência nas ações do governo, do Parlamento e do
Judiciário é essencial para restaurar o respeito público. A mídia, no seu papel
de vigilância, deve investigar e reportar com rigor, enquanto a sociedade
precisa estar mobilizada para exigir ética e correção de seus representantes.
Os ataques infundados aos Poderes
constitucionais são risco significativo à democracia no Brasil. Vigiar e
criticar o desempenho do Executivo, do Legislativo e do Judiciário é dever
cívico, mas é crucial que seja feito de maneira responsável. A defesa das
instituições é tarefa coletiva. Somente através do respeito mútuo, da crítica
construtiva e da busca pela verdade será possível fortalecer nossa ainda frágil
democracia e assegurar que o Brasil possa ser um país onde os legítimos
direitos de todos sejam respeitados.
*Jornalista, professor e escritor, é doutor em educação, arte e história da cultura; autor, entre outros, de “A Vila que Descobriu o Brasil” (Geração), “Justiça Seja Feita” (Sesi-SP) e “Memórias de um Tempo Obscuro” (Contexto)
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