Folha de S. Paulo
A defesa da liberdade de expressão é
princípio fundamental do campo democrático, não de determinada ideologia
política
Tornou-se comum dizer que a direita se
apropriou da liberdade de expressão, como se ela fosse exclusividade da
esquerda. Mas não é nem de uma, nem de outra. O respeito à liberdade de
expressão é princípio fundamental do campo democrata, independentemente da
ideologia política.
Há esquerda autoritária e direita iliberal, e
a polarização nos mantêm presos entre as duas.
A ala antidemocrática da esquerda se afastou da liberdade há muito tempo. O filósofo francês Jean-Paul Sartre cortou relações com Albert Camus porque o argelino criticou os abusos da URSS, que eram relevados por parte considerável da intelectualidade global na Guerra Fria. Em seu livro "O Homem Revoltado" (1951), Camus deixa claro como um projeto de sociedade melhor é sempre o álibi dos tiranos.
Após 70 anos, vemos a esquerda apoiar censura
prévia, como decisões do STF que baniram contas das redes sociais, linchamentos
virtuais e criminalização de opinião política. O atual governo petista
elabora projeto de lei que pode vir a instituir um órgão do
Executivo federal com função de punir plataformas online —medida típica de
ditaduras.
A direita democrata por óbvio se levanta contra essas ações. Mas a volta de Donald Trump ao
poder nos EUA atesta o que sempre se soube: que o bolsonarismo não é um
movimento democrata.
O presidente americano está numa cruzada
contra universidades de elite nos EUA e, para isso, solapa a liberdade de expressão. Na decisão mais recente, suspendeu
entrevistas para concessão de vistos a estudantes, que terão suas redes sociais
avaliadas. Aqui, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) disse que quem critica Trump
na internet deveria ter visto recusado.
Charge do cartunista Claudio Mor, publicada
na página A2 do Jornal Folha de S.Paulo em 10 de maio de 2024, sobre Fake News.
A imagem mostra uma ilustração estilizada e antropomórfica da expressão
"Fake News". As palavras "FAKE NEWS" são representadas em
letras grandes e amarelas, com braços e pernas pretos, e usando óculos escuros.
A figura segura um smartphone com a mão direita e faz um gesto de 'paz e amor'
com a mão esquerda. Acima dela, há uma fala em uma nuvem de diálogo que diz
"Quem me conhece sabe a verdade." No canto inferior direito, aparece
a assinatura "MOR".. (Foto: Claudio Mor/Folhapress) - Claudio
Mor/Folhapress
Bolsonaristas acham que o Judiciário
brasileiro não pode avaliar conteúdo político online de modo independente, mas
que o Executivo americano será bastante técnico nessa seara. Chafurdam,
portanto, em dissonância cognitiva. E todo democrata de direita tem o dever de
apontar tal disparate, assim como fez Camus, com seus colegas autoritários da
esquerda francesa.
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