Folha de S. Paulo
Fortalecer na TV a representatividade da
maioria da população, que é negra, beneficia o país como um todo
Já parou para pensar na importância do
audiovisual como instrumento de promoção da cidadania? O tema foi debatido num
festival realizado em Brasília pela maior emissora de TV do Brasil. A
iniciativa é da maior importância num país racista (machista, misógino e homofóbico também)
como é o nosso.
Não é segredo nem novidade que o que se passa
nas telas da televisão brasileira e (mais recentemente) nas
transmissões por streaming impacta a percepção da realidade. Por conta disso,
influencia o comportamento social.
Historicamente, nossa produção audiovisual serviu para reforçar estereótipos e estigmas sobre o "lugar reservado" ao negro. É nesse contexto que o crescimento da quantidade de atrizes e atores pretos e pardos encarnando papéis de destaque e que extrapolam o estereótipo de serviçal, marginal ou "brinquedo" sexual é um indício de que estamos vivendo um momento de quebra de paradigma.
A representação de nossa diversidade
étnico-racial ajuda a promover a inclusão, favorece o reconhecimento de
experiências diversas, fortalece a autoestima, reforça identidades e fomenta a
empatia. Como canta Zeca
Pagodinho, "ninguém pode imaginar o que não viveu", o que faz do
audiovisual potente aliado da luta antirracista.
E não há nada identitário nisso. Ao
contrário. Fortalecer a representatividade da maioria da população brasileira
(que é 56% negra, segundo o IBGE) extrapola a
defesa de interesses de um grupo específico, pois beneficia o país como um
todo. Quem ainda não consegue enxergar isso está cometendo um grande equívoco.
Como "não
há almoço grátis", já diz o ditado, vale lembrar que a crescente
escalação de pretos e pardos para dar vida a personagens educados, competentes,
bonitos e bem-sucedidos nas telas da Globo é resultado de décadas de ação dos
movimentos sociais.
A construção da imagem do negro como cidadão
portador de direitos é uma jornada que está só começando, mas tem tudo para ser
um caminho sem volta.
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