• Ex-diretores da Petrobras e executivos de empreiteiras estão fazendo uma espécie de “chamada de co-réu”. No jargão dos advogados, isso significa atrair para o processo a atual diretoria da empresa e até mesmo a presidente Dilma Rousseff
- Correio Braziliense
A estratégia do Palácio do Planalto para blindar a presidente Dilma Rouseff e mantê-la longe da Operação Lava Jato é evitar que uma nova CPI seja aberta para investigar o caso no Congresso. Dependendo do desfecho da eleição da Mesa da Câmara, a situação poderia sair do controle, ainda mais diante do “despelote” que se instalou entre os diversos envolvidos, principalmente depois que a diretoria Petrobras passou a responsabilizar as empreiteiras pelo ocorrido.
A essa altura do campeonato, a nova narrativa governista parece aquela historia do ovo e da galinha: uma discussão sobre quem nasceu primeiro. Ao apontar o dedo para as grandes empreiteiras, as mesmas que antes o governo tentava salvar, responsabilizando-as pelo aliciamento de funcionários da estatal e a distribuição de propina aos políticos para que apadrinhassem a nomeação dos diretores da estatal, a Petrobras gerou uma reação em cadeia.
Os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto da Costa e Nestor Cerveró, o doleiro Alberto Yousseff, os executivos das empreiteiras que estão presos e até o ex-presidente Petrobras José Sérgio Gabrielli estão fazendo uma espécie de “chamada de co-réu”. No jargão dos advogados, isso significa atrair para o processo a atual diretoria da empresa e até mesmo a presidente Dilma Rousseff, que presidia o conselho de administração da estatal no governo Lula.
Parecem caranguejos no balaio: quando um tenta escapar, os outros se encarregam de puxá-lo pra baixo. O executivo Augusto Mendonça Neto, da Setal, acusou o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque de pedir dinheiro para o PT. Disse que doou R$ 4 milhões entre 2008 e 2011 à legenda como pagamento de propina para a realização de obras na Refinaria do Paraná (Repar). Petista de carteirinha, Duque é o único dos suspeitos presos por determinação do juiz Sérgio Moro que conseguiu um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) até agora.
O advogado do doleiro Alberto Youisseff, apontado como o responsável pela principal denúncia contra os políticos, também foi para o ataque. Antonio Figueiredo Basto diz que os agentes públicos e políticos foram os grandes beneficiários do esquema de corrupção: "A participação dos políticos e dos agentes públicos foi fundamental no esquema. Não dá para desviar o foco para empreiteiras e operadores. O esquema foi comandado por agentes políticos para a manutenção de grupos e partidos no poder. O esquema alterou os resultados das eleições de 2006, 2010 e possivelmente de 2014. Houve desequilíbrio no pleito", disse.
Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, advogado do empresário Gérson de Mello Almada, vice presidente da Engevix Engenharia, partiu para o ataque frontal ao PT: “seu pragmatismo nas relações políticas chegou, no entanto, a tal dimensão que o apoio no Congresso Nacional passou a depender da distribuição de recursos a parlamentares. O custo alto das campanhas eleitorais levou, também, à arrecadação desenfreada de dinheiro para as tesourarias dos partidos políticos”. Também sustenta que o grande operador do esquema era Paulo Roberto Costa.
Segundo ele, a Petrobrás foi escolhida para financiar a base do governo no Congresso e os partidos aliados do governo. “Quem detinha contratos vigentes com a Petrobrás sofreu achaque. Ainda que se admita, a título de argumentação, que teriam praticado crimes similares, é ínsito aos acontecimentos entender que a exigência de Paulo Roberto Costa – e demais brokers do projeto político de manutenção dos partidos na base do governo – colocou os empresários, todos, na mesma situação, não por vontade, não por intenção, mas por contingência dos fatos.”
Sem pressa
Para desespero dos envolvidos, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, não tem pressa em relação ao caso. Na sexta-feira, rejeitou um pedido de liberdade de Fernando Antonio Falcão Soares, conhecido como Fernando Baiano e apontado pela Polícia Federal como lobista que supostamente operava em favor do PMDB no esquema de corrupção na Petrobras. Está preso desde 18 de novembro, Baiano é admitiu ser intermédiário de negócios com a Petrobras, mas negou envolvimento com a legenda. Lewandowski alegou que o caso não tem urgência para motivar decisão do presidente. Vale para os demais executivos que estão presos.
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