• Ministro deve se tornar um anteparo para Dilma Rousseff quando os efeitos do aperto nas contas públicas começarem a ser sentidos
João Villaverde, Lu Aiko Otta - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A primeira reunião ministerial do segundo mandato de Dilma Rousseff, na terça-feira, deve consolidar uma ideia que ganha força no Palácio do Planalto: o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é o “homem forte” do governo. Mas o que pode parecer um status elevado, no fundo é um movimento para fazer dele a encarnação do ajuste fiscal impopular. O ministro será um anteparo importante para a presidente quando os efeitos do aperto nas contas públicas começarem a ser sentidos no dia a dia do País.
No entorno de Levy, há um certo desconforto com isso, de forma que se instalou um jogo de empurra com o Planalto. Na Fazenda, a visão é que o ministro, de fato, tem força, mas isso “deriva da presidente, que o apoia totalmente”, segundo relata uma fonte qualificada da pasta. “Ele foi ao Planalto, pediu audiência com a presidente, somente para perguntar a ela o que deveria dizer em Davos, no Fórum Econômico Mundial.”
A fonte acrescentou que o ministro também foi homem forte no governo de Sérgio Cabral, no Rio, mas nunca apareceu como tal porque “trabalha apenas com carta branca do comandante”. Nos bastidores do Planalto e da Fazenda, ouve-se que o ministro mantém uma linha direta com Dilma, por telefone e e-mail. Eles se falam com frequência. Mas com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ainda está na “fase de estudos”, segundo uma fonte.
Tendo saído com pouco capital político de uma eleição muito disputada, Dilma precisou de alguém forte para encarnar essa mudança, e optou por Levy. Hoje, ele é visto como peça importante da governabilidade e seu maior trunfo é o custo político de sua eventual saída. Porém, precisa da proteção da presidente para continuar a ajustar a economia. A reunião ministerial servirá para alinhar posições.
Levy conhece as implicações da missão recebida e mostra disposição para cumprir seu papel. Uma mostra clara foi dada em Davos, na semana passada. Ele disse que haveria um primeiro trimestre de recessão, que depois retificou para a expressão “contração”. E que o crescimento deste ano tende a ser “flat”, ou seja, próximo de zero. De toda forma, a mensagem que ele transmitiu é que tempos duros aguardam os brasileiros.
“Passaremos por um período recessivo, e é isso que ele tinha em mente quando tocou no tema”, avaliou o economista Sergio Valle, da MB Associados. A consultoria estima que, neste ano, a economia encolherá 1%, “para começo de conversa”.
Racionamento. Além dos efeitos do aperto nas contas públicas e do aumento nos juros, o cálculo considera a hipótese de racionamento de energia e os efeitos da operação Lava Jato, da Polícia Federal, sobre os investimentos da Petrobrás e das empreiteiras envolvidas. A combinação de fatores que jogam contra o crescimento forma, na avaliação de Valle, uma “tempestade mais que perfeita”. Essas previsões fecharam uma semana de medidas impopulares.
Logo na segunda-feira Levy anunciou que os empréstimos às pessoas físicas ficarão mais caros, com a alta do IOF. No mesmo pacote, veio o aumento dos combustíveis, com a volta da Cide. O governo também encareceu as importações e a distribuição de cosméticos. E avisou que as empresas de uma pessoa só, criadas para driblar a tributação, estão na mira da Receita.
Dilma também vetou, na terça-feira, o reajuste de 6,5% na tabela do IR da Pessoa Física, aprovado pelo Congresso, com a promessa de uma correção menor, de 4,5%. E, na quarta-feira, o Banco Central elevou os juros em 0,5 ponto porcentual, para 12,25% ao ano.
Tantas medidas amargas, porém, já causam inquietação no entorno de Dilma. A linha adotada por Levy, com apoio dela, é muito parecida com a do candidato da oposição nas últimas eleições, Aécio Neves (PSDB), e o oposto ao defendido pela própria Dilma nos palanques.J
Nenhum comentário:
Postar um comentário