- O Globo
Não há boas respostas para as perguntas políticas que a agência Moody"s tem feito às autoridades brasileiras. Por isso, não há respostas seguras para as questões econômicas. Sobre a trajetória dos gastos públicos, será difícil dizer com precisão, porque a experiência do primeiro semestre deste ano foi que, em cada proposta de ajuste, os parlamentares aprovaram um aumento de despesa.
A grande dúvida brasileira é política, porque as dificuldades econômicas são claras. A presidente não tem liderança sobre a coalizão, e líderes políticos da base governista estão rebelados pelos mais variados motivos. Alguns têm a ver com as operações da Polícia Federal e as investigações do Ministério Público, que seguem sua própria agenda de trabalho. A oposição, por sua vez, esqueceu o que escreveu, falou e implantou. Nada garante que o segundo semestre seja melhor do que esse que passou.
Uma agência de classificação não é uma missão do Fundo Monetário Internacional monitorando a política econômica do país. Quando o Brasil era endividado, as visitas das missões do FMI eram um estresse porque definiam se teríamos ou não mais empréstimos para rolar a dívida externa. Agora, temos mais reservas internacionais do que dívida externa, e o FMI só dá as caras aqui para a visita rotineira de cada ano para preparar a análise de conjuntura. Contudo, a agência de risco dá uma nota, e ela se transforma em mais ou menos juros cobrados do Brasil e das empresas brasileiras em suas captações no mercado internacional. Ela define o custo do dinheiro ao país.
As agências cometeram erros sequenciais em avaliações de empresas e de países. Não viram sucessivas crises. Mais recentemente, foram apanhadas de surpresa pelo subprime, davam nota máxima a companhias que entraram em parafuso, como a General Motors ou a AIG. Foram flagradas em casos de conflito de interesse, em que formatavam produtos financeiros com ativos tóxicos, aos quais davam notas boas. Mesmo assim, elas continuam sendo consideradas pelos investidores, principalmente os grandes fundos de pensão, na hora de alocar seus recursos. São falhas, porém inevitáveis no mundo das finanças internacionais.
Por isso, o Brasil recebe a Moody"s com preocupação. Já se espera um rebaixamento de um degrau, o que nos deixaria ainda com nível de investimento. O que se luta é para evitar que, além do rebaixamento, o Brasil seja colocado em perspectiva negativa. Ou seja, rebaixa e avisa que pode haver nova queda para breve. Isso ainda não está incorporado nas projeções, segundo o economista-chefe para América Latina do banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho.
- Uma redução do rating seguida de perspectiva negativa pode gerar volatilidade porque não está no preço, o mercado vai reagir - disse.
Ontem, o BNP revisou sua projeção para o PIB do Brasil, para -2,5% este ano e -0,5% no ano que vem. Um dos motivos é justamente a crise política, que está aumentando as incertezas na economia e atrasando a recuperação da confiança dos empresários.
- A saída da crise passa pelos investimentos. Por isso, recuperar a confiança é o primeiro passo. Não tenho dúvidas de que essa crise política não estava no radar do ministro Joaquim Levy quando ele pensou no ajuste fiscal - explicou.
Pela agência Standard & Poor"s, o Brasil está a um passo de perder o grau de investimento, mas a perspectiva é estável. Antes de um novo movimento, provavelmente haverá o alerta do viés negativo, o que dá um certo tempo ao ajuste. Se a Moody"s reduzir a nota, ficará no nível da S&P, e o país ficará na marca do pênalti em duas agências. Isso já é notícia ruim o suficiente.
O Brasil demorou muitos anos para conseguir o grau de investimento. Teve que fazer reformas difíceis, ainda que indispensáveis, e superar uma enorme desconfiança em relação à capacidade brasileira de superar seus entraves. Este governo está produzindo o retrocesso. Já fomos rebaixados, e há riscos concretos de, no futuro, perdermos o grau de investimento.
A dívida pública aumentou muito no governo Dilma, o superávit primário desapareceu, o crescimento minguou e virou recessão. Do ponto de vista macroeconômico, é difícil fazer o ajuste em ambiente recessivo e com inflação em nível que exige juros altos. O pior é quando a isso se junta um cenário político complexo e imprevisível como o atual.
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