- Blog do Noblat | Veja
De volta ao passado
Cresce o número de vozes nas cercanias do presidente Jair
Bolsonaro que não achariam nada mal que seu principal adversário nas eleições
de 2022 fosse Lula. Para isso, o Supremo Tribunal Federal teria de concluir que
o ex-juiz Sergio Moro foi parcial ao condenar Lula no processo do tríplex do
Guarujá.
Talvez ainda este ano, a Segunda Turma do tribunal julgue um
pedido de habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente que levanta a
suspeição de Moro. Se concedê-lo, a segunda condenação de Lula, no caso do
sítio de Atibaia, poderá cair, uma vez que Moro participou de algumas fases do
processo.
Com o eventual desmanche das duas condenações, Lula
recuperaria seus direitos políticos e estaria livre para ser outra vez
candidato a presidente. O medo de Lula se eleger e a falta de outros nomes
capazes de derrotá-lo fortaleceria Bolsonaro e inflaria suas chances de
conseguir o segundo mandato.
Recentemente, Lula obteve duas importantes vitórias na
Segundo Turma do Supremo. A primeira: finalmente, sua defesa vai poder acessar
todos os documentos usados no acordo de leniência fechado pela Odebrecht com o
Ministério Público Federal, inclusive os que se encontram nos Estados Unidos e
na Suíça.
A segunda vitória: a delação do ex-ministro Antonio Palocci
não pode ser utilizada nesta ação em que Lula é acusado de ter supostamente
recebido R$ 12 milhões da Odebrecht. Moro passou recibo dos dois sérios reveses
que colheu. Em silêncio, o governo celebrou as decisões da Segunda Turma do
Supremo.
No momento, são convergentes os interesses do governo
Bolsonaro e do PT de Lula. Com vantagem para Bolsonaro que terá dois anos pela
frente para penetrar mais fundo na principal base eleitoral de Lula, o
Nordeste. O que ele tinha a perder com o fracasso do combate ao coronavírus, já
perdeu. Jogo jogado.
O que pode vir a ganhar com o pagamento do auxílio emergencial e com a substituição do programa Bolsa Família pelo mais generoso programa Renda Brasil ainda está por ser calculado, mas não será pouca coisa. Cuide-se Paulo Guedes, ministro da Economia, que será obrigado a arranjar dinheiro para obras de infraestrutura.
Ministro nega dossiê, mas
confirma relatório sobre servidores antifascista
Que diferença faz? Nenhuma
Está em qualquer dicionário da língua portuguesa que “dossiê
é uma coleção de documentos relativos a um processo, a um indivíduo ou a
qualquer assunto”. E que relatório “é uma exposição escrita, minuciosa e
circunstanciada relativa a um assunto ou fato ocorrido. O objetivo de
um relatório é comunicar uma atividade desenvolvida ou ainda em
desenvolvimento durante uma missão.”
Como o jornalista Rubens Valente, no seu blog do portal UOL,
chamou de dossiê a coleção de documentos produzidos por uma secretaria do
Ministério da Justiça sobre quase 600 servidores federais que se declararam
antifascistas nas redes sociais, o ministro André Mendonça negou a existência
do tal dossiê. Negou até em comunicado enviado ao Supremo Tribunal Federal.
Mas apertado por deputados federais e senadores em sessão
secreta na última sexta-feira, ele confirmou que a secretaria produziu, sim, um
relatório sobre os servidores monitorados. Por monitorados, entenda-se:
espionados. Porque é disso que se trata. Não faz diferença se foi dossiê ou
relatório. O que se discute é se a secretaria poderia fazer o que de fato fez,
e por que.
A bola – ou melhor: o comunicado despachado por Mendonça ao Supremo – está nas mãos da ministra Carmen Lúcia, autora de um pedido de explicações. Dossiê ou relatório, à ministra caberá dizer se o Ministério da Justiça pode espionar um grupo de pessoas por pensaram de um jeito ou de outro. Ou porque o governo simplesmente não gosta do jeito que elas pensam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário