Catia Seabra e Victoria Azevedo / Folha de S. Paulo
Não está descartada a revisão de indicações
políticas de signatários do requerimento de partido de Bolsonaro
Com um mapa de indicações políticas em mãos,
integrantes do governo Lula (PT) estão fazendo
cobranças a integrantes da base aliada no Congresso que assinaram
o pedido de urgência do projeto
de lei que dá anistia aos condenados pelos ataques
golpistas de 8 de janeiro.
O relatório
do projeto prevê que todos os atos pretéritos e futuros relacionados
aos ataques à sede dos três Poderes terão anistia, abrindo brecha para
beneficiar o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL).
A ministra da SRI (Secretaria de Relações Institucionais), Gleisi Hoffmann, já tem um levantamento de todas as indicações de cargos federais feitas por políticos da base aliada e seu plano já era se debruçar sobre isso nos próximos dias. Mas a adesão de aliados à proposta de anistia precipitou essa abordagem.
A estratégia contraria, no entanto, uma ala
da Esplanada, preocupada com reflexos na relação com o Congresso. Essa corrente
defende que o governo não se envolva diretamente nesse debate, deixando-o a
cargo do Judiciário.
Segundo relatos, Gleisi pediu esse
levantamento para negociar apoio às propostas do governo e também com vistas à
reeleição de Lula, em 2026.
Dentro de sua equipe, auxiliares analisam a
relação entre a votação desses parlamentares e a relevância dos cargos ocupados
por seus afilhados políticos, antes de avaliar a necessidade de rever uma ou
outra posição.
Em conversas, a ministra tem lembrado que o
governo dispõe de ferramentas, além da execução das emendas parlamentares, para
essa articulação. Pesa para essa iniciativa o volume de queixas dos próprios
parlamentares que, declarando-se leais, reclamam que deputados e senadores
menos afinados com o governo são mais prestigiados.
Um auxiliar de Gleisi diz que neste primeiro
momento ela tem atuado junto às lideranças partidárias para discutir a
"gravidade jurídica e política" do projeto de lei, numa tentativa de
sensibilizar o Parlamento. Ela também deverá procurar esses políticos para
tratar do assunto.
Na avaliação de um integrante do Palácio do
Planalto é necessário que o governo use dos instrumentos de que dispõe para
"alinhar os ponteiros" com os partidos aliados para definir quem
apoia ou não o Executivo.
Esse movimento mais enérgico do governo
federal diante de uma base instável no Congresso, que já vinha sendo cobrado
por governistas, ganhou mais força após o protocolo do pedido de urgência na
Câmara dos Deputados.
Na segunda-feira (14), o
líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), protocolou o pedido no sistema
da Câmara com 262 assinaturas (eram necessárias 257).
Desse total, 55% são de partidos com
ministérios e 61% são filiados a siglas da base governista (contemplados com
outros cargos de segundo escalão, mas não com ministérios).
Um governista afirma que o Palácio do
Planalto tem conhecimento que mesmo dentro de partidos que integram a base há
parlamentares mais alinhados à oposição e que essas assinaturas estavam
precificadas. Ele diz, no entanto, que a forte adesão de parlamentares desses
partidos que não são ligados a esse grupo gera "indignação",
sobretudo pelo teor do projeto de lei.
Partidos que têm três representantes na
Esplanada de Lula tiveram diversos deputados de suas bancadas entre os
signatários da proposta: União Brasil (40 deputados), PSD (23) e MDB (20).
O PP, com um indicado no Ministério do
Esporte, teve adesão em peso ao documento, com 35 assinaturas (de 48 na
bancada), inclusive de seu líder, o deputado Doutor Luizinho (RJ). O
Republicanos, também com um assento no ministério do petista, teve 28 assinaturas.
De acordo com relatos, integrantes do governo
demonstraram maior contrariedade com o União Brasil, já que 40 de 59 deputados
da bancada assinaram o requerimento —o deputado José Nelto (GO), por exemplo, é
um dos que endossaram a proposta e é vice-líder do governo na Câmara. Além
disso, esse movimento ocorre num momento em
que o partido indicou novo nome para comandar o Ministério das Comunicações.
Um interlocutor da ministra diz que Gleisi
tem mantido "conversas francas" com líderes, dirigentes partidários e
com os próprios parlamentares desde que assumiu a SRI. E que, a partir de
agora, a ministra deverá ser mais incisiva a respeito dessa postura de
integrantes de legendas aliadas.
Ele rejeita, no entanto, que esse movimento
seria uma retaliação do Planalto, mas diz que é preciso que os partidos e seus
representantes "sejam coerentes".
Um parlamentar governista afirma que o
Palácio do Planalto sabe das dificuldades que tem em aprovar algumas matérias
no Congresso, sobretudo na Câmara. Mas diz que isso não pode ser um impeditivo
para que o Executivo imponha limites sobre atitudes de deputados e senadores
que vão de encontro aos interesses do governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário