Os quatro principais dirigentes da área do euro reuniram-se ontem em Roma para preparar o encontro de cúpula dos dias 27 e 28 que precisa ser decisivo para o futuro do euro.
Depois do que pareceu uma combinada operação destinada a espremer e arrancar concessões da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, os líderes saíram de lá com o anúncio de um pacote de 130 bilhões de euros para financiar a retomada do crescimento.
Não deixa de ser uma vitória do novo presidente da França, François Hollande, que vem martelando para a necessidade de mudança de estratégia: menos austeridade e mais crescimento. Em compensação, Merkel manteve o veto ao projeto de compartilhar dívidas soberanas por meio do lançamento de eurobônus e arrancou dos outros três dirigentes o compromisso de manter o pacto fiscal assinado em março.
Os tais 130 bilhões de euros estão longe de perfazer volume satisfatório para o objetivo pretendido. Correspondem a apenas 1% do PIB do bloco. Ademais, não ficou claro de onde sairá esse dinheiro. A ideia do presidente Hollande é criar um imposto sobre operações financeiras e usar certos fundos de reserva.
Ao final da reunião de ontem, o primeiro-ministro da Itália, Mário Monti, advertiu que, se desta vez não sair um acordo convincente ("crível"), ficará altamente provável que alguns países enfrentarão o desinteresse dos investidores em continuar financiando rombos orçamentários. Se isso se confirmar, os juros saltarão, dívidas importantes ficarão insustentáveis e o euro implodirá. Na prática, o que se espera é um avanço em direção da união bancária, fiscal e política, condições necessárias para alicerçar a moeda única, o euro.
A união bancária consiste em definir critérios de capitalização bancária para todo o bloco e, também, em criar um organismo supranacional capaz de supervisionar (fiscalizar e dar assistência de liquidez) a todo o sistema bancário. A Alemanha avisou que aceita, desde que essa tarefa seja executada pelo Banco Central Europeu. Hoje, os bancos do bloco são nacionais e cada país tem lá suas regras e seus organismos próprios de supervisão.
O que se espera de uma união fiscal é a coordenação dos orçamentos nacionais. Mas é preciso mais. É preciso unificar sistemas tributários, regras de transferência de recursos dentro e fora de cada país e provocar a convergência dos sistemas previdenciários. É claro que essa unificação fiscal não sai de um ano para o outro. Mas é preciso, ao menos, tomar a decisão. Se for tomada, já haverá um bom princípio de união política.
Nas últimas semanas, muito tem sido dito a respeito da necessidade de quebrar as relações incestuosas entre tesouros nacionais e sistemas bancários também nacionais. É uma situação em que, por motivos diversos, os governos gastam mais do que podem e os bancos são chamados depois para cobrir os rombos por meio da compra de títulos de dívida emitidos pelos Tesouros, quase sempre em troca da concessão implícita de que possam fazer mais ou menos o que bem entenderem, inclusive assoprar gigantescas bolhas imobiliárias. Depois, por várias razões, inclusive a do estouro dessas bolhas, o patrimônio dos bancos ameaça ruir e os tesouros são chamados a socorrê-los, outra vez com aumento de dívida.
Não está claro como esse esquema será desarmado. O que dá para dizer é que os líderes da região parecem mais determinados do que até agora a agir. A conferir.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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