Após decisão de Moro, número de petistas parou de cair e voltou ao patamar do governo Dilma
Daniel Salgado e Marco Grillo | O Globo
A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz Sergio Moro, em julho do ano passado, e a posterior campanha de filiação lançada pelo PT estancaram o movimento de queda no número de filiados que vinha acontecendo desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
O PT é o segundo partido com mais simpatizantes registrados — 1.589.871, segundo os dados de abril publicados pelo Tribunal Superior Eleitoral. É um patamar semelhante ao de abril de 2016 (1.589.260), mês anterior à saída de Dilma — a variação foi de 0,03% entre os dois momentos. De lá para cá, a curva foi descendente, interrompida apenas em outubro do ano passado.
Em setembro de 2017, com a presença de Lula e da presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), o PT havia lançado uma campanha nacional de filiação. O movimento mais intenso buscando atrair o registro de simpatizantes começou após a condenação de Lula em primeira instância, quando líderes do PT e o ex-presidente passaram a repetir o discurso de que havia uma perseguição judicial em andamento. A retórica e as mudanças feitas no sistema de filiação ao partido — o cadastro ficou mais simples e rápido — trouxeram resultado, ainda que tímido: a legenda ganhou 8.004 filiados desde a primeira sentença contra Lula, um crescimento de 0,5%.
“Filiar-se é demonstrar coragem e chamar para si a responsabilidade de mudar o rumo dessa história que querem impor para prejudicar o povo brasileiro”, disse Gleisi, em abril, sobre a campanha de filiação.
O cientista político Michael Mohallem, professor da FGV Direito Rio, acredita que há dois momentos distintos nos últimos anos na construção da imagem que a sociedade tem do PT: as várias prisões de petistas na Lava-Jato, entre 2014 e 2016, e a prisão de Lula, em abril deste ano. Ainda não é possível dimensionar o impacto da ida do ex-presidente para a cadeia no número de filiados, porque os dados mais recentes são justamente de abril.
— O momento crucial aconteceu em meados de 2016, com o avanço da Lava-Jato, a prisão de vários quadros (do PT) e a percepção de que o partido havia se contaminado. Na prisão de Lula, a narrativa já me parece outra na sociedade. Uma pesquisa recente mostra que 48% da população brasileira acreditam que o impeachment foi um golpe. Por mais que haja uma derrota do PT no campo judicial, há talvez um prenúncio de vitória na narrativa que se construiu — analisa Mohallem.
REDE: PARTICIPAÇÃO MÍNIMA
Desde 2002, o PT quase dobrou o número de filiados, impulsionado pelos 13 anos à frente do governo federal, primeiro com Lula e depois com Dilma. Na oposição durante a maior parte do período pós-2002, o PSDB também teve um crescimento expressivo, ultrapassou o PP e hoje tem 1,4 milhão de filiados.
Já a Rede, que também deverá ter candidato à Presidência, não conseguiu aproveitar os mais de 20 milhões de votos que Marina Silva teve na eleição de 2014, quando concorreu pelo PSB: a Rede tem 23.968 filiados, apenas 0,14% do total geral registrado no TSE. É um número semelhante ao do Novo, que deverá lançar João Amoêdo a presidente e tem 19.022 filiados. Além do Novo, a Rede só reúne mais filiados que PSTU, PCB e PCO.
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