Brasil
aparece atrás de México, Rússia, Índia e até de países como Casaquistão
O Brasil teria a 6.ª pior elite entre 32 países. Em ranking de qualidade das elites mundiais – liderado por Cingapura, Suíça e Alemanha –, o Brasil aparece atrás do México, da Rússia, da Índia e até de países como Casaquistão, Arábia Saudita e Botswana (embora na frente da Argentina). O Índice de Qualidade das Elites foi veiculado em relatório recente dos economistas Tomas Casas e Guido Cozzi (Fundação para a Criação de Valor). O que ele explica sobre o nosso País e como se relaciona com a agenda de reformas?
Os
autores definem elites como grupos pequenos e coordenados, capazes de acumular
riqueza, e que seriam uma “inevitabilidade empírica” – presentes em todas as
sociedades. Um índice alto significaria que a elite do país cria mais valor do
que captura, contribuindo para o crescimento econômico e o desenvolvimento
humano. Já nos países com índices baixos as elites teriam desenhado instituições
mais “extrativas”. Grosso modo, a questão é se, na acumulação de sua riqueza, a
respectiva elite beneficia a sociedade ou dela se beneficia.
O relatório bebe em conceitos dos economistas Daron Acemoglu (MIT) e James Robinson (Chicago), do best-seller Por que as Nações Fracassam, mas em particular do livro mais recente da dupla, The Narrow Corridor (ainda sem tradução). Acemoglu e Robinson explicam o desenvolvimento dos países pela qualidade de suas instituições (regras informais ou formais, como leis, que regem o funcionamento da sociedade). Resumidamente, essas instituições podem ser inclusivas ou extrativas. No último caso, a riqueza do país é extraída pela sua elite – que por sua vez concentra seus esforços e recursos não em ser produtiva, mas em conquistar favores e privilégios. Essa postura que visa à renda improdutiva é expressa no termo rent-seeking, traduzido como caça às rendas ou rentismo.
A
partir daí, Casas e Cozzi dividem as elites em três tipos principais: rentistas
(extraem valor e detêm muito poder), competitivas (geram valor, mas não detêm
muito poder) e iluministas (geram valor, a despeito de deterem muito poder). O
estudo basicamente identifica apenas elites rentistas e competitivas.
A
elite brasileira é do grupo das rentistas. Nossas piores classificações no
indicador são na categoria que avalia como o Estado retira renda; na categoria
de rentismo da produção; e na categoria de rentismo do trabalho.
A
primeira compreende uma avaliação da regressividade e distorções do sistema
tributário. A tributação dos lucros e a parcela da renda retida pelos 10% mais
ricos são alguns dos itens. Aqui, é possível fazer ligação clara com a reforma
tributária e instrumentos como a isenção no IR para lucros e dividendos, bem
como outros mecanismos que permitem que os mais ricos paguem menos impostos que
os mais pobres.
A
segunda categoria que vamos especialmente mal diz respeito à exposição dos
grandes à competição. Nessa categoria de rentismo dos produtores são avaliadas
questões que podem levar à formação de monopólios ou oligopólios – aptos a
extrair renda das famílias com produtos mais caros ou de pior qualidade. Inclui
a proteção tarifária contra produtos estrangeiros, regulações que criam
barreiras à entrada de novas empresas no mercado e a facilidade de fazer
negócios. A agenda mais óbvia aqui é a da abertura comercial, mas também a de
desburocratização.
Uma
terceira categoria em que estamos perto da lanterna, a de rentismo do trabalho,
contempla a forma como instituições do mercado de trabalho preterem os jovens.
Demandaria pauta de abertura do mercado de trabalho, para tornar mais fácil
empregar grupos excluídos. Seriam exemplos mudanças como a reforma trabalhista
e a carteira de trabalho verde e amarelo – não à toa, duramente combatidas
pelos representantes dos incluídos.
A
agenda por instituições mais inclusivas, em prejuízo das atuais elites
dominantes, não é exclusiva de nenhum ponto no espectro ideológico. Por
exemplo, a esquerda é mais combativa pelo fim dos privilégios no sistema
tributário, mas é historicamente contra a exposição à competição de empresas
estrangeiras ou mulheres e jovens – respectivamente no mercado de bens e no
mercado de trabalho. Há uma grande concertação nacional a ser feita nos próximos
anos se quisermos subir da última divisão das elites mundiais.
*Doutor em economia
Nenhum comentário:
Postar um comentário