Que país quebrado pode abdicar desse dinheiro e com tanto a fazer na pandemia?
Foi pelo Facebook que o presidente Jair Bolsonaro demitiu Roberto Castello Branco do comando da Petrobrás, com a indicação do general Joaquim Silva e Luna como novo presidente da companhia.
A troca
abre mais uma crise e consolida um movimento de forte intervenção do presidente
na estatal para segurar, na marra, o preço dos combustíveis. Reforça também a
política de populismo fiscal para a qual seu governo caminha a passos largos,
para garantir a sua reeleição em 2022.
O
discurso do presidente de que não haveria intervenção nos preços da Petrobrás,
feito há uma semana, quando anunciou um projeto de lei para alterar a tributação do ICMS dos governadores e que tanto agradou o
mercado financeiro, cai por terra.
De forma
traumática, o ministro da Economia, Paulo Guedes, perde mais um expoente do grupo
que arregimentou e que estava ao seu lado durante a eleição do presidente e na
transição de governo no final de 2018. Castello Branco foi indicação do
ministro, de quem é amigo de décadas.
O ministro perde Castello Branco na equipe e perde também mais um alicerce da política econômica que se comprometeu a fazer e que previa carta branca para a companhia atuar, sem intervenção nos preços, prática que Guedes tanto condenou no governo Dilma Rousseff.
A decisão do presidente de zerar os
tributos federais no diesel e levar a Receita Federal a perder mais de R$ 3
bilhões de arrecadação em apenas dois meses desmonta também a bandeira de
ajuste fiscal de Guedes pregada no Congresso.
A equipe
econômica exige corte de despesas como contrapartida para renovar o auxílio emergencial nessa
nova fase mais aguda da pandemia da covid-19.
Enquanto o presidente, na base da canetada, mandou reduzir a tributação do
diesel e quer segurar na marra o preço do combustível pela via das contas
públicas para atender os caminhoneiros.
Se já
estava muito difícil conseguir aprovar no Congresso uma Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) com essas contrapartidas fiscais, agora o cenário fica
mais turvo.
Que país
quebrado, como assim classificou o próprio presidente, pode abdicar desse
dinheiro em apenas 60 dias e com tanto a fazer na pandemia? Não faz nenhum
sentido o acordo do ministro com o presidente diante desse cenário atual de
negociação no Congresso. Não há coerência.
O mais
complicado é o governo permanecer calado, sem apontar o caminho de como
implementará a medida. Não respondeu à mais simples das perguntas: afinal,
quem pagará a conta?
Não há
detalhes porque, a depender da vontade do presidente, a desoneração de tributos
pode ser feita passando um trator por cima da Lei de Responsabilidade Fiscal, que exige
compensação para a perda de arrecadação, via aumento de impostos ou corte
de despesas. Tratorar a LRF é o que quer o presidente.
A área
jurídica está quebrando a cabeça para entregar esse modelito ao presidente. E
os técnicos do Ministério da Economia tentando
encontrar um jeito para atender Bolsonaro sem ferir a LRF. Ou seja, fazendo a
compensação.
Se não
fizer essa compensação e passar por cima da LRF, Guedes vai perder integrantes
da sua própria equipe no Ministério da Economia.
O
problema da alta dos preços dos combustíveis que tanto incomoda o presidente
Bolsonaro não é muito diferente do enfrentado pelos últimos presidentes.
Em artigo
recente, o economista Manoel Pires, do Ibre, aponta que a elevada
volatilidade do preço internacional do petróleo desde 2008 acentuou o problema.
Pires ressalta que, com a elevada volatilidade, o governo Dilma 2011 iniciou
uma política discricionária de reajustes e, em 2012, zerou a Cide Combustíveis
para reduzir a defasagem do preço. A desoneração custou R$ 5 bilhões por ano.
O pacote
dos caminhoneiros de Temer teve um custo total de R$ 13,5
bilhões. Houve ainda uma tentativa frustrada de tabelar o valor do frete que
parou no Supremo.
"O que esses episódios estão mostrando é que esse problema virou um tema de política econômica e deve ser tratado como tal", diz o economista do Ibre. Não cabe mais improviso toda hora que os caminhoneiros ameaçam parar o País, boa parte deles apoiadores de Bolsonaro.
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