Luciana
Dyniewicz / O Estado de S. Paulo
A
saída de Roberto Castello
Branco da Petrobrás “faz sentido”, segundo
o economista e ex-presidente do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Luiz Carlos Mendonça
de Barros. Isso porque Castello Branco não tinha o “perfil
para tratar do problema do diesel com essa vertente social e econômica que
demanda a questão dos caminhoneiros”, diz Mendonça de Barros. “O que não faz
sentido é a entrada de um general, que também não tem o perfil de olhar para o
problema e, ao mesmo tempo, defender (os interesses) da Petrobrás.”
Diferentemente
de muitos economistas, Mendonça de Barros não vê problema na interferência do
presidente Jair Bolsonaro na
petroleira – “a empresa é do governo federal” –, mas destaca que tabelar o
preço do combustível seria a pior solução para o entrave. Ele defende um seguro
para o caminhoneiro, semelhante ao que existe para o produtor rural se proteger
de variações climáticas. A seguir, trechos da entrevista.
Como o sr. avalia a mudança no comando da Petrobrás?
Faz sentido porque o Castello Branco não tem o perfil para tratar do problema do diesel com essa vertente social e econômica que demanda a questão dos caminhoneiros. A linha de pensamento dele é liberal, de que cada um tem de se virar, de que, se o preço é volátil, então, vai ficar volátil. O que não faz sentido é a entrada de um general, que também não tem o perfil de olhar para o problema analisando as questões econômicas e sociais e, ao mesmo tempo, defender (os interesses da) a Petrobrás. Não dá para a Petrobrás mudar o preço todo dia em função da especulação lá fora. Isso introduz uma variação não racional dentro de setores importantes aqui. O mais importante deles é o dos caminhoneiros independentes. Nem o Castello Branco nem um general do exército tem condições de fazer uma arbitragem dessas. Teria de ser um perfil técnico, mas com capacidade de administrar conflitos.
Se
a Petrobrás não pode mudar o preço seguindo o mercado internacional, deve
tabelar?
Não.
O presidente Bolsonaro, pela falta de conhecimento que tem de economia, acabou
entrando numa fria com essa história da Petrobrás. O preço do petróleo é um dos mais voláteis.
Isso não é de agora. No Brasil, o preço tem outro componente
que também é muito especulativo, o dólar. Você combina essas
volatilidades e chega a uma situação que não dá para administrar. Tabelar é uma
solução que compromete todo o modelo econômico do ministro Paulo Guedes. O que é pior: tudo isso
para influenciar o comportamento de caminhoneiros. Os caminhoneiros não podem
aumentar o preço do frete de uma hora para a outra. Por isso, seria muito mais
fácil criar um seguro para eles, como o seguro para o produtor rural, que
absorve os impactos climáticos. O Banco do Brasil administra isso,
que é bancado com recursos fiscais. Mas, como o presidente não entende o
problema, as soluções dele são as piores possíveis. Por outro lado, a solução
do seguro já foi discutida na época do Fernando Henrique
Cardoso.
E
por que não foi adotada?
O
câmbio estava estável, e o problema ficou para trás. Mas, como estamos em um
momento difícil por causa da flutuação do petróleo e do câmbio, precisamos de
um governo que tenha capacidade de entender que o caminhoneiro não pode ser
submetido a um ajuste de 15% no diesel. Precisamos de duas coisas do governo. A
primeira é que entenda que existe um problema socBolsonaroial. A segunda é de
pessoas que entendam isso e que tenham capacidade técnica para propor soluções.
A situação é caótica, e ele () não vai conseguir sair disso. Uma hora vai
adotar a pior solução: tabelar o preço do diesel.
Qual
reação podemos esperar do mercado diante do risco de uma ingerência política?
A
empresa é do governo federal. Não tem absurdo o presidente trocar a gestão por
achar que não está indo na direção correta. Esse conflito a estava colocado
desde que Castello Branco tomou posse.
Como
fica a situação do ministro da Economia, Paulo Guedes?
É muito ruim para ele, que fica enfraquecido, até porque o Castello Branco é da turma dele. Por outro lado, a importância dos militares aumenta. Agora um militar não é a solução. Um militar faz o que o presidente manda. Então, vai sentar no preço do petróleo.
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