Situação
no Brasil é diferente, mas algumas lições americanas podem ajudar o país, caso
um dia algum governo queira promover o desenvolvimento
de
impeachment de Donald Trump, nos Estados Unidos, um artigo escrito por David
Leonhardt, na “Sunday Review”, do “New York Times”, que mostra os avanços da
economia americana desde 1933. O artigo sustenta que os resultados foram muito
melhores em governos democratas do que em republicanos. A taxa média anual de
expansão do PIB foi de 4,6% quando os presidentes eram do partido de Joe Biden
e de 2,4% sob os da legenda de Trump.
A
diferença de desempenho é “surpreendentemente grande”, disseram dois
professores de economia em Princeton, Alan Blinder e Mark Watson. A
preponderância dos democratas se dá não apenas no PIB, observa Leonhardt, mas
também nos demais indicadores importantes da economia: emprego, renda,
produtividade e até no preço de ações. Em todos, os democratas levam vantagem
nesses quase 90 anos analisados.
Os
quatro presidentes que promoveram maior crescimento do PIB eram democratas e,
entre os quatro com expansão mais lenta, três eram republicanos. Os seis
presidentes com avanço mais rápido do emprego eram democratas. E os quatro que
promoveram um período de expansão mais lento, republicanos .
Em tese, esses dados soam bem para os mercados globais, uma vez que Biden, democrata, acaba de iniciar seu governo, que teoricamente tenderá a estimular mais o crescimento do que um republicano. Mas o tema é polêmico entre os analistas dos EUA. Leonhardt foi cuidadoso ao analisar os dados. Ouviu vários economistas e chegou a conclusões diversas. Uma delas fala até em simples coincidência. Alguns presidentes, como Barack Obama e George W. Bush assumiram quando a economia estava em recessão. Outros, como Harry Truman e Donald Trump, herdaram um boom. Além disso, Leonhardt observa que o desempenho da economia decorre de milhões de decisões tomadas diariamente por empresas e consumidores, muitas das quais têm pouca relação com a política governamental.
Tudo
isso foi considerado, mas a razão principal, mais polêmica, refere-se às
atitudes de democratas e republicanos no poder. Os democratas, diz Leonhardt,
tendem a prestar mais atenção a lições econômicas históricas sobre quais
políticas realmente fortalecem a economia. Os republicanos, porém, na maioria
das vezes se agarram a teorias - ou dogmas - nos quais eles querem acreditar,
como o poder supostamente mágico de cortes de impostos e desregulamentação. Ou
seja, os democratas têm sido mais pragmáticos na ideia de buscar obstinadamente
crescimento de produção, emprego e renda, seja qual for a política necessária
em cada momento. Franklin Roosevelt, democrata, por exemplo, quando concorreu à
Presidência pela primeira vez, em 1932, às vezes argumentava que reduzir o
déficit poderia ser a chave para acabar com a depressão. Mas sempre pediu a
seus auxiliares que fizessem experimentações ousadas e persistentes. “Adote um
método e tente. Se não der certo, admita francamente e tente outro, mas, acima
de tudo, tente alguma coisa”, dizia Roosevelt.
Uma
justificativa dos republicanos joga a culpa pelo seu pior desempenho nos
próprios democratas, que normalmente impulsionariam a economia com gastos
excessivos para depois deixar aos republicanos a tarefa de limpar a bagunça.
Mas os dados também contestam isso, porque nas últimas quatro décadas
presidentes republicanos geraram déficits maiores que os democratas.
Desde
1980, pelo menos, a gestão econômica republicana gira em torno de uma única
política: cortes de impostos. Leonhardt diz que cortes de tributos podem levar
ao crescimento em algumas situações, mas que isso ocorre mais em países com
taxações muito altas, o que não é o caso dos EUA.
Adam
Brandon e Jason Pye, respectivamente presidente e vice-presidente da
FreedomWorks, um grupo conservador, rebateram os argumentos de Leonhardt,
principalmente a ideia central de que os democratas têm sido mais inteligentes
ao observar as lições históricas e as políticas que realmente fortalecem a
economia. Lembraram que Roosevelt, após o New Deal, enfrentou uma nova recessão
em 1937 e 1938. Que John F. Kennedy, democrata, pressionou por cortes
significativos de impostos e disse textualmente que “o sistema tributário
obsoleto” era um grande empecilho para a expansão do poder de compra privado,
dos lucros e do emprego. Que Barack Obama nunca foi ousado e que a recuperação
da crise econômica de 2007/2008 foi incrivelmente lenta. Que sob Trump,
republicano, a economia havia retomado o crescimento antes da pandemia, com
baixa taxa de desemprego, nunca vista desde o fim dos anos 1960.
Os
dois articulistas, portanto, mencionam casos específicos. Não contestam os
dados e a tendência geral sobre os desempenhos democratas e republicanos.
A situação brasileira é muito diferente da americana, mas algumas lições podem ser úteis para o país se um dia algum governo ainda pensar em promover desenvolvimento, algo fora de moda: corte de impostos não leva necessariamente a avanço econômico; dogmas são perigosos para a economia; para haver crescimento é preciso persistir obstinadamente em políticas que levem a isso, quaisquer que sejam; o mercado, por si só, não promove crescimento e tende a concentrar renda; é necessário olhar para as experiências históricas que deram certo.
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