Se
estiver sentindo o vírus perigosamente por perto, prepare-se para vir conhecer
o Brasil real
Se
o amigo vive no Brasil de Jair Bolsonaro, parabéns. Até há pouco, jovem, feliz,
negacionista e com histórico de atleta, você era imune à Covid. Enquanto os
velhos morriam, você assobiava no azul —distanciamento, higiene, restrições ao
comércio, máscara e vacinas eram coisa de maricas e comunistas. Nas últimas
semanas, no entanto, ao sentir o vírus perigosamente por
perto e sabendo que amigos de seu porte físico e idade estavam
intubados ou já no cemitério, é possível que você esteja pedindo ingresso no
Brasil real —o nosso.
Não podemos bater-lhe a porta na cara, mas não espere muito de nossa parte. Somos 200 milhões à mercê da pandemia, dependendo apenas de nossos cuidados e do sacrifício dos profissionais da saúde —aqueles que nunca mereceram uma palavra de gratidão de Bolsonaro, muito menos uma visita de solidariedade a uma linha de frente. Mas fique certo de que esses profissionais o tratarão com a mesma heróica dedicação com que nos tratam —para eles, você será só mais um a ser salvo, não um farrista de aglomerações, festas clandestinas e carreatas.
Nós,
brasileiros de segunda classe, estamos há um ano lendo e
ouvindo entrevistas dos epidemiologistas e infectologistas. Mês a mês, eles
avisaram sobre o que iria acontecer —e aconteceu. O combate a uma pandemia não
pode caber a uma besta fardada como Eduardo Pazuello, cuja grande façanha
militar foi obrigar um soldado a puxar uma carroça diante dos colegas num
quartel em Brasília, em 2005. Talvez não seja também da sola de um
cardiologista invertebrado como Marcelo Queiroga. Os especialistas continuam a
avisar e a não serem levados em conta.
Neste
Brasil à deriva, torça para não ser intubado. E, se for, que os hospitais
tenham os remédios para ajudá-lo a engolir aquela tubulação.
Suas chances de sobreviver não serão muitas, mas, se sair dessa, aí, sim, bem-vindo ao Brasil real.
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