quarta-feira, 27 de julho de 2022

Fábio Alves - A recessão planejada

O Estado de S. Paulo

O problema é se o Fed errar a mão nos juros e causar uma queda do PIB maior do que a planejada

É quase unânime a aposta do mercado de que, para quebrar a escalada dos preços na economia, o Federal Reserve (Fed) terá de subir mais os juros e produzir uma recessão nos Estados Unidos, mas o que os dirigentes do principal banco central do mundo ainda não disseram – nem os analistas chegaram a um consenso a respeito – é quanto o desemprego precisa aumentar e o gasto dos consumidores tem de esfriar para que a inflação americana volte a convergir para a meta de 2%.

A expectativa é de que o Fed irá aumentar os juros, hoje, em 0,75 ponto porcentual, levando a taxa básica para uma faixa entre 2,25% e 2,50%. Esse patamar é considerado como o atual nível neutro dos juros americanos, ou seja, que não estimula nem contrai o crescimento econômico.

Mas o próprio presidente do Fed, Jerome Powell, já sinalizou que será preciso levar os juros para o nível restritivo e, por tabela, produzir uma contração da demanda. O que interessa agora não somente aos investidores, mas também a outros países dependentes do desempenho da economia americana, incluindo o Brasil, é saber quão rápido o Fed levará os juros para o nível restritivo e até onde aumentará a taxa básica.

No momento, os contratos futuros de juros embutem a aposta de que a taxa básica nos

EUA irá encerrar 2022 a 3,5%. Mas não são poucos os economistas que projetam juros americanos em 4% no fim deste ano. Por outro lado, há quem acredite que, quando ficar mais evidente uma desaceleração mais forte da economia, o Fed vai “amarelar” e não entregar todas as altas de juros projetadas pelo mercado.

Assim, a expectativa em relação ao desfecho da reunião de política monetária, hoje, é se, no comunicado que acompanhará o anúncio da decisão ou na entrevista que Powell concederá à imprensa logo em seguida, o Fed seguirá focado somente nos índices de inflação ou se mostrará mais sensível à incipiente perda de fôlego da economia americana.

Depois do índice de preços ao consumidor de julho, que registrou alta anual de 9,1%, recorde em quatro décadas, fica difícil ver o Fed já deixando de focar na inflação e suavizando a sinalização para os juros no curto prazo. Se subir mesmo para 3,5% no fim do ano, a taxa básica será elevada o suficiente para conter um núcleo da inflação (que expurga preços voláteis, como combustíveis e alimentos) rodando a 5,9%, como foi a alta anual em julho?

Sem gerar alguma recessão, o Fed não conseguirá combater a disparada nos preços. O problema é se errar a mão nos juros e provocar uma queda do PIB mais severa do que a planejada. 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Economia é um assunto árido,mas eu gosto de aprender um pouco de tudo.