segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Washington Olivetto - O campeonato mundial de cafajestice

O Globo

Tive a oportunidade de presenciar coisas horríveis na minha vida, mas nem todas elas somadas superam o número de canalhices cometidas no Brasil durante a campanha eleitoral de 2022

Em 1962, ano em que completei 11 anos, estreou nos cinemas o filme “Os cafajestes”, do diretor luso-brasileiro Ruy Guerra.

O filme, com Jece Valadão e Daniel Filho, era estrelado por Norma Bengell, que protagonizou o primeiro nu frontal do cinema brasileiro. Essa cena se transformou no assunto da mídia em geral e em obsessão tanto minha quanto dos meus amiguinhos de escola, que só conhecíamos o filme de ouvir falar, já que era proibido para menores de 18 anos.

Aprendi naquele ano a palavra “cafajeste”, que, segundo meu pai, era sinônimo de sujeito mal-educado, que no seu dia a dia cometia cafajestadas. Muitos anos passaram, tive a oportunidade de presenciar coisas horríveis na minha vida, mas nem todas elas somadas superam o número de canalhices cometidas no Brasil durante a campanha eleitoral de 2022.

Só essas dariam para fazer uma espécie de The Guinness Book of Records da Cafajestice, mas resolvi lembrar mais algumas para compor um livro imaginário da vagabundagem universal.

No Guinness Book of Records da Cafajestice Mundial, no capítulo futebol entraria certamente o jogador do Botafogo Heleno de Freitas, que, pelas atitudes dentro e fora do campo, foi apelidado de “o cafajeste da bola”.

No capítulo cafajestada com a companheira, destaca-se o armador grego Aristóteles Onassis, que, segundo algumas biografias, torturou psicologicamente a soprano Maria Callas durante nove anos, até se separar dela de um dia para o outro, para se casar com a ex-primeira-dama dos EUA Jacqueline Kennedy.

Também com mulheres, e não só com mulheres, aparece como ícone da cafajestice mundial o brasileiro Carlos Imperial, que convidava seus amigos para comer um churrasco em sua casa e depois abater umas lebres. Imperial chamava de lebres as meninas de 18 ou 19 anos de idade.

Produtor, apresentador, ator, compositor e jornalista, Imperial registrava em seu nome canções de domínio público, como “Meu limão, meu limoeiro”, “Cai, cai, balão” e “Ciranda, cirandinha”, e plantava calúnias contra seus desafetos em suas colunas na Revista do Rádio e no Jornal Última Hora. Imperial foi um cafajeste real e ficcional. Exagerava no seu personagem de “rei da pilantragem” para ganhar visibilidade pública e tirar proveito financeiro.

Na categoria cafajestes só na ficção, tivemos no Brasil alguns imortalizados pelas novelas, como Carlão, de “Pecado capital”, protagonizado por Francisco Cuoco; Felipe Barreto, de “O dono do mundo”, vivido pelo Antonio Fagundes; e Cesar, de “Mulheres apaixonadas”, feito pelo José Mayer.

Na produção de ficção mundial, tivemos o cafajeste de Hollywood Harvey Weinstein, acusado de assédio sexual por mais de 80 mulheres e de estupro por algumas delas.

Tivemos cafajestes dignos de um Guinness da Cafajestice até em atividades exercidas por pessoas de alta sensibilidade, como as artes plásticas. Entre os pintores cafajestes, destaca-se Lucian Freud, que fazia coisas que nem seu avô Sigmund explicaria.

Voltando às cafajestadas nacionais e particularmente as cometidas durante as eleições de 2022, entre as muitas que ocorreram, três se destacaram.

A cafajestada da senadora Damares Alves mentindo descaradamente sobre sexo com crianças nas fronteiras brasileiras, numa das falas mais abjetas já ditas por uma mulher em todos os tempos.

A cafajestada da deputada Carla Zambelli, correndo nas ruas de São Paulo com um revólver atrás de um homem e argumentando, depois, tratar-se de um homem negro.

E a cafajestada do ex-presidente do PTB Roberto Jefferson, ofendendo em vídeo a ministra Cármen Lúcia, depois atirando e jogando granadas contra policiais.

A Copa do Mundo está apenas começando e ainda não sabemos se o politizado craque Richarlison e seus companheiros conseguirão conquistar o tão sonhado hexa.

Mas, de uma coisa, a gente não precisa ter dúvida: só com as atuações de Roberto Jefferson durante as eleições, o Brasil já tem garantida a conquista do Campeonato Mundial de Cafajestice e Cafajestada de 2022.

3 comentários:

Anônimo disse...

A cafajestada de "pintar clima com menores" do bolsonaro pedófilo ocorreu neste período?
Se positivo, põe como destaque destacado.

Fernando Carvalho disse...

Tem ainda a cafajestada da fraquejada que resultou numa filha.

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é,a calúnia sobre Mário Gomes quem plantou foi Carlos Imperial,resgatada anos depois por Daniel Filho.