Valor Econômico
Para o mundo melhorar, temos de evitar que as pessoas sejam seduzidas pelo discurso catastrofista
Há momentos em que é muito importante relembrar a História. Acredito que estamos em um desses momentos. O pessimismo é a grande realidade instalada a nível global. O desânimo e o desalento imperam, e a maioria das pessoas acha que a humanidade está sem rumo. Muitos, inclusive, já jogaram a toalha. Alguns, de tão desiludidos, anseiam pelo fim do mundo. Entre os grupos etários, a juventude é o mais afetado. Uma pesquisa com 10 mil jovens de 10 países publicada no “The Lancet” há um ano e meio revelou que 75% deles achavam o futuro assustador; 56%, que a humanidade estava condenada. Por essa razão, 48% afirmaram que não teriam filhos. O que podemos esperar do futuro se os mais novos, responsáveis por construí-lo, estão totalmente sem esperança? No limite, este pensamento fatalista pode representar um retrocesso civilizatório, ou mesmo o fim dos nossos tempos.
Há 35 anos, uma multidão que não aceitou
continuar no obscurantismo fez o impossível se tornar realidade. O ano de 1989
foi um verdadeiro “annus mirabilis”, como se diz em latim, literalmente mudou
tudo. Os protestos por liberdade que irromperam no Leste Europeu no período
escalaram para a imensa Revolução Pacífica, culminando na queda do Muro de
Berlim e no colapso soviético. Livre do fascismo e do comunismo, o mundo estava
fadado a ser democrático. Nas palavras de Francis Fukuyama, era o fim da História
como tal. A perspectiva de que seria substituída por outra mais justa, mais
tolerante, guiada pela razão e pelo progresso, gerou uma enorme onda de
esperança. Foi o início de uma época de otimismo e progresso.
Mas a utopia liberal das democracias
perfeitas durou pouco. O panorama atual é desolador: vivemos uma mistura tóxica
de insatisfação, ressentimento e intolerância, inclusive por parte dos que se
apresentam como os defensores da diversidade, da equidade e da inclusão, mas
perseguem e cancelam quem pensa diferente - a liberdade de expressão é um
direito só deles, pois se acham os detentores da verdade. O grande perigo é que
novamente estamos diante da ameaça do totalitarismo, do fundamentalismo
religioso e do populismo autoritário. Hoje, o caminho do meio, do bom senso em
torno de ideais comuns, construído a duras penas, foi totalmente bloqueado,
está fora de moda e não tem apelo. Estamos vivendo o enfraquecimento das
democracias com o abalo sistemático das instituições e dos valores democráticos
em diversos países. Até os Estados Unidos e a França, dois bastiões da
democracia liberal, apresentam sinais de deterioração.
No Brasil, a situação também é crítica. Os
valores e convicções que servem de alicerces para a nossa frágil democracia
começaram a ser degradados há 20 anos pela corrupção, pela pobreza e por
apostas erradas da política econômica e fiscal dos governos de plantão. Tudo
isso minou a confiança da população nas instituições. Na última edição do
ranking “Democracy Index”, da “The Economist”, ficamos na 47ª posição entre 167
países, o que nos coloca na categoria “democracia imperfeita”.
O país está cansado de promessas de
crescimento infundadas e de políticas sociais de maquiagem. Estamos a um passo
de virar um país autoritário. Não bastasse, o Brasil entra agora na perigosa
seara da insegurança jurídica e acelera ladeira abaixo para perder a confiança
dos investidores nacionais e internacionais. É possível mudar esse jogo, temos
só que acreditar nisso!
Precisamos superar o pessimismo e unir todos
as pessoas de bom senso, de direita e de esquerda, diante um de um projeto
sensato para o país. É isso que propõe o cientista político Luiz Felipe D'ávila
no novo livro “Vire à direita e siga em frente”. Para D'ávila, só há uma
alternativa para deixarmos um país melhor para os nossos filhos e netos. Os
defensores da liberdade precisam sair do seu casulo e lutar nas ruas e na
imprensa, no mercado e nas urnas, para construir um país realista, confiável,
aberto para o mundo, com capacidade de crescimento, oportunidade de trabalho
para todos, o mais rápido possível.
Certamente, o mundo não está em sua melhor
forma, longe disso. No entanto, hoje temos muito mais informações do que jamais
imaginamos ter e, por meio delas, podemos ver que, de perto e sem nenhum viés,
o mundo melhorou drasticamente ao longo dos séculos. Essas mesmas informações
nos mostram que tudo de bom que aconteceu foi consequência de ações e de muito
esforço. Como diz o psicólogo Steven Pinker, o progresso não é inevitável, é
intencional e pode ser direcionado, pois não é mera consequência do destino.
Portanto, o progresso, se for motivado por ambições elevadas para uma sociedade
melhor, pode se transformar numa grande conquista e num meio para criarmos um
mundo e um país melhor.
O otimismo dos primórdios do século 20 cedeu
lugar ao pessimismo quando populistas e outros políticos iliberais foram
eleitos. Para o mundo melhorar, temos de evitar que as pessoas sejam seduzidas
pelo discurso catastrofista.
Foi uma longa jornada até deixarmos de ser
subjugados por reis, ditadores e tiranos e nos tornarmos cidadãos livres,
responsáveis por nossas escolhas. Enfrentamos períodos de obscurantismo e de
intolerância, de guerras e conflitos, para expurgar fanáticos e sabotadores da
liberdade. Não podemos perder essa conquista jamais. Não podemos nos deixar
contaminar e paralisar pela desesperança.
A lição de 1989 é que mudanças espetaculares
são possíveis. Mesmo a situação mais terrível pode ser superada com
racionalidade, com fé e coragem. O pragmatismo é o antídoto para combater as
paixões extremistas e está na hora de usá-lo. A clareza de ideias, a diplomacia
a organização e determinação são os meios. As pessoas podem construir o próprio
futuro a partir de uma concepção de “bem comum”, do que queremos como sociedade
e de quais os valores e os princípios nos servirão de bússola para chegar ao nosso
destino.
Não somos vítimas passivas de fatos
inesperados sobre os quais não temos controle. Nem das decisões de líderes,
mesmo que democraticamente eleitos, com as quais não concordamos.
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