sábado, 28 de dezembro de 2024

Congresso teme investigação acionada por Dino - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Na farra com dinheiro público, 'reis do lixo' se confundem com 'reis das emendas'

No país do golpe e do dolo, o fluxo de cenários e subcelebridades é vertiginoso. Com a Operação Overclean, da Polícia Federal, que apura desvios de emendas, o grande público conheceu o município de Campo Formoso, no norte da Bahia, reduto de Elmar Nascimento. O deputado levou uma rasteira de Arthur Lira em suas pretensões de ser presidente da Câmara —"Perdi meu melhor amigo", choramingou—, mas não deve reclamar dos presentes que ganhou do chefe.

O orçamento secreto destinou R$ 63 milhões para obras de pavimentação em Campo Formoso. O asfalto está grudento, derretido e desmancha na mão. A empreiteira contratada é suspeita de pagar propina e desviar recursos para empresas fantasmas, mas um busto do Dr. Chiquinho, tio de Elmar, foi inaugurado com pompa e circunstância. A cidade ainda recebeu R$ 9,5 milhões para construir um espaço turístico chamado Shopping do Garimpeiro.

Também atua na Bahia —e em outros 17 estados e dezenas de municípios, todos sob influência do União Brasil— o empresário José Marcos Moura. Conhecido pelo sugestivo epíteto de "Rei do Lixo" e ligado ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto, Moura é investigado por pertencer a um grupo que lava dinheiro arrecadado com o setor público por meio de empresas de fachada. Nos últimos quatro anos a movimentação chegou a R$ 1,4 bilhão (R$ 800 milhões só em 2024).

O "Rei do Lixo" foi preso. Dias depois já estava solto, ao lado do homem que viajava de Salvador para Brasília num jatinho que pertence a Moura carregando uma mala com R$ 1,5 milhão em espécie e o vereador eleito Francisquinho Nascimento, que em desespero jogou dinheiro pela janela no dia em que foi preso. Francisquinho é de Campo Formoso, filho do Dr. Chiquinho homenageado com o busto e primo de Elmar Nascimento, o ex-amigo de Lira.

São histórias que explicam o descontrole de alguns parlamentares com a decisão do ministro Flávio Dino, que suspendeu o pagamento de R$ 4,2 bilhões, por não atender ao acordo entre Supremo, Congresso e Executivo. Dino acionou a PF para investigar irregularidades na liberação de emendas, operação que poderá descobrir outros "reis do lixo".

 

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