Folha de S. Paulo
Na farra com dinheiro público, 'reis do lixo'
se confundem com 'reis das emendas'
No país do golpe e do dolo, o fluxo de
cenários e subcelebridades é vertiginoso. Com a Operação Overclean, da Polícia
Federal, que apura desvios de emendas, o grande público conheceu o município de
Campo Formoso, no norte da Bahia, reduto de Elmar Nascimento. O deputado levou
uma rasteira de Arthur Lira em
suas pretensões de ser presidente da Câmara —"Perdi meu melhor amigo", choramingou—, mas não deve reclamar dos presentes que ganhou
do chefe.
O orçamento secreto destinou R$ 63 milhões para obras de pavimentação em Campo Formoso. O asfalto está grudento, derretido e desmancha na mão. A empreiteira contratada é suspeita de pagar propina e desviar recursos para empresas fantasmas, mas um busto do Dr. Chiquinho, tio de Elmar, foi inaugurado com pompa e circunstância. A cidade ainda recebeu R$ 9,5 milhões para construir um espaço turístico chamado Shopping do Garimpeiro.
Também atua na Bahia —e em outros 17 estados
e dezenas de municípios, todos sob influência do União Brasil—
o empresário José Marcos Moura. Conhecido pelo sugestivo epíteto de
"Rei do Lixo" e ligado ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto, Moura é
investigado por pertencer a um grupo que lava dinheiro arrecadado com o setor
público por meio de empresas de fachada. Nos últimos quatro anos a movimentação
chegou a R$ 1,4 bilhão (R$ 800 milhões só em 2024).
O "Rei do Lixo" foi preso. Dias depois já estava solto, ao lado do homem que viajava de
Salvador para Brasília num jatinho que pertence a Moura carregando uma mala com
R$ 1,5 milhão em espécie e o vereador eleito Francisquinho Nascimento, que em
desespero jogou dinheiro pela janela no dia em que foi preso. Francisquinho é
de Campo Formoso, filho do Dr. Chiquinho homenageado com o busto e primo de
Elmar Nascimento, o ex-amigo de Lira.
São histórias que explicam o descontrole de
alguns parlamentares com a decisão do ministro Flávio Dino,
que suspendeu o pagamento de R$ 4,2 bilhões, por não atender ao acordo entre Supremo,
Congresso e Executivo. Dino acionou a PF para investigar irregularidades na
liberação de emendas, operação que poderá descobrir outros "reis do
lixo".
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