Folha de S. Paulo
Mesmo com Congresso sob nova direção, governo
não terá a parceria esperada
Salvo um acontecimento de proporções
oceânicas que mude o andar da carruagem, Hugo Motta (Republicanos)
será eleito presidente da Câmara
dos Deputados por aclamação no dia 3 de fevereiro de 2025 com
mandato até 2027.
Período peculiar, pois no meio haverá o ano eleitoral de 2026. O deputado ungido por obra das astutas articulações do atual ocupante do posto terá mais poder que os antecessores levados ao cargo também com fartura de adesões.
Quando das eleições deles, Flávio Marinho
(Arena), Ibsen Pinheiro (MDB), Michel
Temer (MDB) e João Paulo Cunha (PT), o Congresso era uma
instituição diferente de hoje.
Não pela composição de forças, equivalente na
quantidade, com prevalência do centro e da direita que ainda não dizia seu nome
em voz alta. A diferença é que lá havia uma submissão do Legislativo ao
Executivo e agora a relação se inverteu.
Por mais que a sagração de Hugo Motta por uma
composição articulada por Arthur Lira
(PP) tenha sido pautada pela expectativa de uma distensão entre
os dois Poderes em prol de uma convivência de temperatura moderada, não há
hipótese de que a situação vá além da amabilidade formal.
A ingerência do Parlamento sobre o Orçamento
da União veio para ficar, a despeito das atenuantes
—módicas, pela resistência aos critérios impostos pelo Supremo Tribunal Federal
no manejo dos recursos do Orçamento.
Na política não existe poder conquistado que
seja abandonado por obra da boa vontade, em nome de suposta pacificação de
ânimos. A escolha do comando será sempre pautada pela perícia do eleito em
manter os ritos aumentados sobre emendas,
vetos, medidas provisórias e manobras regimentais.
Os presidentes das Casas, considerado também
o Senado sob
Davi Alcolumbre (União Brasil), podem até afetar proximidade com o Planalto,
mas o fio condutor será o atendimento ao serviço que lhes cobram os pares.
O presidente Luiz
Inácio da Silva (PT) pode até esperar dias mais amenos, mas
terá sido imprudente se acreditou na hipótese de ter no Congresso um aliado
incondicional. Foi-se o tempo.
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