O Estado de S. Paulo
Novas projeções apontam para uma desaceleração da economia dos EUA no primeiro trimestre
O primeiro trimestre da economia americana
sob o comando de Donald Trump caminha para ser uma desagradável dor de cabeça
política: não somente vários analistas estão revisando para baixo o desempenho
do PIB entre janeiro e março, como também muitos já estão atribuindo maior
probabilidade de recessão nos próximos 12 meses.
Um dos motivos é a incerteza sobre o que vai acontecer com a política econômica. De um lado, o vaivém das tarifas de importação – ora adotadas sobre os produtos de países aliados, como México e Canadá, ora adiadas temporariamente – está afetando as decisões de investimentos de empresários, inseguros sobre o cenário adiante. De outro, a confiança dos consumidores vem recuando com as demissões em massa de funcionários públicos; com a onda de deportação de imigrantes ilegais; e com o temor de alta na inflação em razão das tarifas de importação.
A situação ganhou relevância com as
atualizações do monitor do PIB americano elaboradas pelo Federal Reserve de
Atlanta, o GDPNow. Na sua última leitura, esse monitor projeta queda de 2,4% do
PIB no primeiro trimestre deste ano. Mas até o dia 27 de fevereiro, na véspera
da divulgação de um surpreendente recuo de 0,2% nos gastos com consumo no mês
de janeiro, o GDPNow estimava um crescimento de 2,3% do PIB entre janeiro e
março. Aliás, essa foi a taxa de expansão da economia dos EUA no quarto
trimestre de 2024.
Esse monitor do PIB é bastante volátil no
início de cada trimestre, e apenas se torna mais confiável, como projeção do
desempenho da economia, ao longo do trimestre. Além disso, analistas acusam o
GDPNow de não estar compensando o efeito estatístico da disparada nas
importações sobre o cálculo do PIB com o equivalente aumento na acumulação dos
estoques ou nas vendas finais.
Em janeiro, o déficit comercial americano
saltou 34%, puxado por uma alta de 10% das importações, uma vez que, temendo a
adoção das tarifas por Trump, muitos empresários anteciparam suas compras de
produtos importados. Há quem diga que a acumulação de estoques e as vendas
finais não compensaram todo o aumento nas importações. É o caso do JPMorgan,
cujos analistas cortaram a projeção do PIB do primeiro trimestre de 1,5% para
1%.
Há ainda os alarmistas. A consultoria BCA
Research atribui chance de 75% de uma recessão nos próximos três meses. Já o
Barclays diz que, se mantidas as tarifas integralmente, o impacto será de até
0,5 ponto porcentual a menos no PIB deste ano. Recessão ou apenas desaceleração
forte, Trump começa com pé esquerdo na economia.
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