Valor Econômico
Atuação do governo na comunicação e uma eventual surpresa positiva no PIB em 2025 e 2026 tendem a reverberar positivamente na sociedade, com reversão, mesmo que parcial, do declínio na popularidade do presidente
A frase de James Carville, estrategista da
campanha presidencial de Bill Clinton em 1992, “it’s the economy, stupid”
tornou-se peça-chave na análise política. A performance da economia brasileira
tem se mostrado determinante na avaliação sobre a atuação do governo local e,
portanto, na projeção da chance de reeleição do presidente ou do representante
de seu grupo político. Todavia, a recente queda na aprovação do governo Lula e
a respectiva piora na avaliação da maioria da população sobre sua gestão não
são fáceis de explicar à luz da performance da atividade em 2024 e das
projeções correspondentes para 2025.
Ao contrário, o crescimento do PIB surpreendeu positivamente mais uma vez em 2024, ao mesmo tempo em que as previsões para 2025 não recuaram. A mediana das projeções de mercado do Focus em março de 2024 para o crescimento era de 1,8% para o ano passado e 2% para 2025. Não apenas a expansão da economia de 2024 de 3,4% foi superior à maior projeção existente de 2,6%, como a previsão para 2025 permanece em 2%, mesmo com a desaceleração da atividade no último trimestre.
Do mesmo modo, a mediana das expectativas de
mercado em março de 2024 para a taxa de desocupação era de 7,8% para o ano
passado e 8% para este ano, muito maiores do que o resultado de 6,2% em 2024 e
do que a atual projeção de 6,8% para 2025. O poder de compra também aumentou,
com elevação da massa salarial real de 7,4% em 2024 frente a 2023. Mesmo
comparado com a inflação da cesta básica, a massa salarial não sofreu
deterioração relevante em 2024.
As previsões para as contas públicas também
não se deterioraram frente às expectativas de março de 2024 e, portanto, não
justificam o recuo da aprovação do governo, ainda mais com o expressivo aumento
dos gastos sociais observado. Como proporção do PIB, a mediana das projeções de
mercado para o resultado primário era de -0,8% para o ano passado e de -0,6%
para 2025, para a dívida líquida do setor público era, respectivamente, de 64%
e de 66%, e para a dívida bruta do governo geral de 78% e 80%. Os resultados de
2024 foram mais favoráveis, com um déficit primário de 0,4% do PIB, uma dívida
líquida de 61% do PIB e uma dívida bruta de 76%. Para este ano, as projeções
permaneceram as mesmas, com exceção dos 81% para a dívida bruta.
O declínio da popularidade do presidente,
portanto, não pode ser atribuído aos números da atividade nem aos gastos
públicos destinados para a camada mais pobre da população.
O mesmo não pode ser dito sobre o
comportamento da inflação, pois houve uma visível deterioração do quadro
inflacionário. A mediana das projeções de mercado para a inflação IPCA em março
de 2024 era de 3,8% para o ano passado e 3,5% para 2025, abaixo dos 4,8% de
2024 e da atual mediana de 5,7%. Embora não sustentada pelos números, a
percepção da sociedade é de que houve enorme alta de preços nos últimos anos
gerando perda de poder de compra das famílias.
Sem um recuo muito expressivo da inflação
anual, a aprovação do governo pode continuar a ser negativamente afetada pela
percepção de que os preços estão muito mais altos do que há alguns anos, em
particular dos itens de alimentação básica. A imagem de perda de poder de
compra e de fracasso do governo em garantir o controle dos preços pode ficar
cada vez mais marcada no subconsciente dos eleitores. Assim, a influência
negativa do acúmulo de inflação nos últimos anos pode prejudicar uma maior
reversão da confiança no governo até as eleições.
Esperança é de que a maior safra contribua
para uma expressiva redução dos preços de alimentos e da inflação
Essa percepção mais negativa é alavancada
pelo discurso crítico da direita e pela discussão do tema na imprensa e nas
redes sociais. Ao supostamente perceber essa dinâmica desfavorável para sua
gestão, o presidente promoveu mudanças na sua Secretaria de Comunicação com a
incorporação, como ministro, de Sidônio Palmeira, responsável pelo marketing da
sua última campanha eleitoral. Para reverter o quadro, o atual ministro
aumentou o número de viagens do presidente para participação nos eventos com
anúncios de realizações do governo e em reuniões com grupos que historicamente
dão suporte para sua gestão.
Essa atuação e uma eventual surpresa positiva
no PIB em 2025 e 2026 tendem a reverberar positivamente na sociedade, com
reversão, mesmo que parcial, do declínio na popularidade do presidente. Esse
cenário estaria provavelmente associado a uma elevação da safra de 2025 acima
do previsto. Uma colheita ainda maior e um repasse mais disseminado para o
restante da economia gerariam um fluxo de notícias boas para o governo,
contribuindo para a melhora da sua avaliação, mesmo com parte expressiva do
setor agrícola preferindo candidatos da direita. A esperança é de que a maior
safra contribua para uma expressiva redução dos preços de alimentos e, em
consequência, uma significativa diminuição da inflação ao consumidor.
Mesmo com a esquerda perdendo parte de seus
votos cativos - eleitores do Nordeste, de renda mais baixa ou beneficiados por
transferências governamentais -, outra contribuição para a reversão em alguma
medida do declínio da confiança no governo virá do direcionamento de mais
recursos em 2026 para ampliação dos programas Pé de Meia, Vale Gás e Farmácia
Popular, bem como para o Programa Mais Acesso a Especialistas. Do mesmo modo, a
eliminação do IRPF para contribuintes com renda de até R$ 5 mil também atrairá maior
apoio para o governo se aprovada ainda neste ano.
As ações do governo e a mudança na sua comunicação devem melhorar a percepção da sociedade sobre a atividade e sobre os diversos programas em benefício da população. Se não houver nenhuma surpresa negativa, essa dinâmica garantirá alguma recuperação na aprovação do governo Lula. Não obstante, a dificuldade de antecipar a magnitude dessa reversão, mesmo sem um candidato suficientemente conhecido e popular para representar a direita, torna pouco previsível o resultado da eleição presidencial de 2026.
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