quarta-feira, 12 de março de 2025

Aprovação do governo deve melhorar - Nilson Teixeira

Valor Econômico

Atuação do governo na comunicação e uma eventual surpresa positiva no PIB em 2025 e 2026 tendem a reverberar positivamente na sociedade, com reversão, mesmo que parcial, do declínio na popularidade do presidente

A frase de James Carville, estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton em 1992, “it’s the economy, stupid” tornou-se peça-chave na análise política. A performance da economia brasileira tem se mostrado determinante na avaliação sobre a atuação do governo local e, portanto, na projeção da chance de reeleição do presidente ou do representante de seu grupo político. Todavia, a recente queda na aprovação do governo Lula e a respectiva piora na avaliação da maioria da população sobre sua gestão não são fáceis de explicar à luz da performance da atividade em 2024 e das projeções correspondentes para 2025.

Ao contrário, o crescimento do PIB surpreendeu positivamente mais uma vez em 2024, ao mesmo tempo em que as previsões para 2025 não recuaram. A mediana das projeções de mercado do Focus em março de 2024 para o crescimento era de 1,8% para o ano passado e 2% para 2025. Não apenas a expansão da economia de 2024 de 3,4% foi superior à maior projeção existente de 2,6%, como a previsão para 2025 permanece em 2%, mesmo com a desaceleração da atividade no último trimestre.

Do mesmo modo, a mediana das expectativas de mercado em março de 2024 para a taxa de desocupação era de 7,8% para o ano passado e 8% para este ano, muito maiores do que o resultado de 6,2% em 2024 e do que a atual projeção de 6,8% para 2025. O poder de compra também aumentou, com elevação da massa salarial real de 7,4% em 2024 frente a 2023. Mesmo comparado com a inflação da cesta básica, a massa salarial não sofreu deterioração relevante em 2024.

As previsões para as contas públicas também não se deterioraram frente às expectativas de março de 2024 e, portanto, não justificam o recuo da aprovação do governo, ainda mais com o expressivo aumento dos gastos sociais observado. Como proporção do PIB, a mediana das projeções de mercado para o resultado primário era de -0,8% para o ano passado e de -0,6% para 2025, para a dívida líquida do setor público era, respectivamente, de 64% e de 66%, e para a dívida bruta do governo geral de 78% e 80%. Os resultados de 2024 foram mais favoráveis, com um déficit primário de 0,4% do PIB, uma dívida líquida de 61% do PIB e uma dívida bruta de 76%. Para este ano, as projeções permaneceram as mesmas, com exceção dos 81% para a dívida bruta.

O declínio da popularidade do presidente, portanto, não pode ser atribuído aos números da atividade nem aos gastos públicos destinados para a camada mais pobre da população.

O mesmo não pode ser dito sobre o comportamento da inflação, pois houve uma visível deterioração do quadro inflacionário. A mediana das projeções de mercado para a inflação IPCA em março de 2024 era de 3,8% para o ano passado e 3,5% para 2025, abaixo dos 4,8% de 2024 e da atual mediana de 5,7%. Embora não sustentada pelos números, a percepção da sociedade é de que houve enorme alta de preços nos últimos anos gerando perda de poder de compra das famílias.

Sem um recuo muito expressivo da inflação anual, a aprovação do governo pode continuar a ser negativamente afetada pela percepção de que os preços estão muito mais altos do que há alguns anos, em particular dos itens de alimentação básica. A imagem de perda de poder de compra e de fracasso do governo em garantir o controle dos preços pode ficar cada vez mais marcada no subconsciente dos eleitores. Assim, a influência negativa do acúmulo de inflação nos últimos anos pode prejudicar uma maior reversão da confiança no governo até as eleições.

Esperança é de que a maior safra contribua para uma expressiva redução dos preços de alimentos e da inflação

Essa percepção mais negativa é alavancada pelo discurso crítico da direita e pela discussão do tema na imprensa e nas redes sociais. Ao supostamente perceber essa dinâmica desfavorável para sua gestão, o presidente promoveu mudanças na sua Secretaria de Comunicação com a incorporação, como ministro, de Sidônio Palmeira, responsável pelo marketing da sua última campanha eleitoral. Para reverter o quadro, o atual ministro aumentou o número de viagens do presidente para participação nos eventos com anúncios de realizações do governo e em reuniões com grupos que historicamente dão suporte para sua gestão.

Essa atuação e uma eventual surpresa positiva no PIB em 2025 e 2026 tendem a reverberar positivamente na sociedade, com reversão, mesmo que parcial, do declínio na popularidade do presidente. Esse cenário estaria provavelmente associado a uma elevação da safra de 2025 acima do previsto. Uma colheita ainda maior e um repasse mais disseminado para o restante da economia gerariam um fluxo de notícias boas para o governo, contribuindo para a melhora da sua avaliação, mesmo com parte expressiva do setor agrícola preferindo candidatos da direita. A esperança é de que a maior safra contribua para uma expressiva redução dos preços de alimentos e, em consequência, uma significativa diminuição da inflação ao consumidor.

Mesmo com a esquerda perdendo parte de seus votos cativos - eleitores do Nordeste, de renda mais baixa ou beneficiados por transferências governamentais -, outra contribuição para a reversão em alguma medida do declínio da confiança no governo virá do direcionamento de mais recursos em 2026 para ampliação dos programas Pé de Meia, Vale Gás e Farmácia Popular, bem como para o Programa Mais Acesso a Especialistas. Do mesmo modo, a eliminação do IRPF para contribuintes com renda de até R$ 5 mil também atrairá maior apoio para o governo se aprovada ainda neste ano.

As ações do governo e a mudança na sua comunicação devem melhorar a percepção da sociedade sobre a atividade e sobre os diversos programas em benefício da população. Se não houver nenhuma surpresa negativa, essa dinâmica garantirá alguma recuperação na aprovação do governo Lula. Não obstante, a dificuldade de antecipar a magnitude dessa reversão, mesmo sem um candidato suficientemente conhecido e popular para representar a direita, torna pouco previsível o resultado da eleição presidencial de 2026.

Nenhum comentário: