Folha de S. Paulo
O projeto de anistia legaliza o golpe, mas
não faz só isso: ele ressuscita o golpe
A menos que a cabeleireira
Débora seja a versão drag queen do Jair ou
do Braga
Netto, o projeto de anistia que tramita na Câmara
dos Deputados não foi feito para salvá-la.
Agora, se ela for a versão drag queen de um
dos dois, deixo aqui meus parabéns ao maquiador. Se ele quiser um desafio ainda
maior, proponho o Magno Malta.
Para se ter uma ideia do quanto Jair e sua quadrilha se preocupam com Débora, lembre-se de que, logo após o fracasso do 8 de janeiro, a versão oficial do bolsonarismo era de que os golpistas eram petistas infiltrados, criminosos que, além de serem presos, deveriam ser desmascarados como comunistas.
Débora não é inocente. Foi para a praça dos
Três Poderes pedir que os militares roubassem os votos dos pobres que
elegeram Lula,
pedir que assassinassem quem derrotou o candidato dela na eleição. Foi lá para
vandalizar a justiça, não a estátua que a representa.
Mesmo assim, como já disse aqui, eu aceitaria
um acordo em que soldados rasos do crime como Débora tivessem suas penas
reduzidas, desde que os chefes da quadrilha, como Jair e Braga Netto, tivessem
suas penas aumentadas.
Mas não é isso que está no projeto
de anistia que transita no Congresso.
O projeto perdoa completamente todos os
golpistas, inclusive quem foi envolvido em atos anteriores que, de alguma
forma, estejam relacionados ao 8 de janeiro. Também restitui os direitos
políticos da bandidagem toda.
Ou seja, se o 8 de janeiro for anistiado,
Bolsonaro vai fazer o discurso
exatamente oposto ao de seus advogados: ao invés de dizer que não tem nada
a ver com aquilo, vai gritar ao mundo que foi tudo ideia dele.
Dirá: "Se anistiaram o pop corn, vocês
têm que anistiar o condensed milk aqui também".
Se você tem dúvida de que o projeto de
anistia é mutreta, ouça o líder do PL na Câmara,
deputado Sóstenes
Cavalcante: ele se opõe a um acordo que se limite à revisão das penas
no STF, e
insiste na aprovação
do projeto no Congresso. Afinal, a revisão das penas não livra a cara dos
chefes do golpe.
A propósito, não são só os investigados pelo
golpe que defendem a anistia. Muita gente ali ficou fora da lista da Polícia
Federal, mas lembra o que fez naqueles dois meses de ofensiva golpista em
2022.
Silas
Malafaia gravou vídeo pedindo que Bolsonaro desse um golpe. A bancada
bolsonarista se reuniu no Congresso em 30 de novembro de 2022 para pedir golpe
em frente ao líder do acampamento dos quartéis de Brasília e
do terrorista da véspera de Natal.
O projeto de anistia legaliza o golpe, mas
não faz só isso: ele ressuscita o golpe.
Afinal, o projeto também prevê punições para
autoridades que tenham investigado, julgado ou punido os golpistas de
Bolsonaro. Abre o caminho para prender, não só os ministros do STF que
defenderam a democracia, mas também os policiais que desvendaram a trama
golpista.
É exatamente o que Trump está
fazendo com autoridades, policiais e escritórios de advocacia que denunciaram
seus crimes no primeiro mandato.
Agora é torcer para que os golpistas não encontrem no Congresso ladrões suficientes para chantagear a democracia até que o STF lhes deixe ressuscitar a farra do orçamento secreto. Para essa turma, deixo o aviso: vocês estão serrando o galho em que estão sentados.
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